postado em 23/09/2008 08:55
A máfia das carteiras de habilitação em São Paulo fez vítimas entre as pessoas que procuravam auto-escolas e centros de formação de condutores (CFCs) na capital. Além de fraudar documentos e vender CNHs, o esquema criminoso usou digitais de quem tentava tirar a carteira pelas vias legais para registrar os candidatos que pagavam para não fazer aulas teóricas, exames médicos e o curso de direção. Entre as vítimas estão um aeroviário e um advogado. O primeiro queria tirar carteira para dirigir motocicletas e o segundo, mudar sua CNH de categoria.
"Estava no meu escritório, quando apareceram aqui quatro policiais. O constrangimento é evidente", contou o criminalista José Antônio dos Santos. O advogado tem carteira há mais de 30 anos e, em março de 2007, procurou a Auto-Escola JVR. Ele fez as aulas práticas no CFC Borba Gato, um dos cinco primeiros da lista de fraudadores na capital. O ranking é da Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp). No dia 20 de junho, ele foi ouvido no Inquérito 314/08, da 2ª Delegacia de Crimes de Trânsito do Detran. A carteira de Santos estava no lote das 264 confeccionadas com 12 digitais.
Até 30 de julho, o Detran havia ouvido três donos de auto-escolas e três motoristas que tiraram CNH. Para acelerar o ritmo de depoimentos, o diretor do Detran, delegado Ruy Estanislau Silveira Mello, determinou a abertura de 19 inquéritos e 98 processos administrativos. O objetivo é concluir as primeiras investigações em 30 dias. Para tanto, foi constituída uma força-tarefa, que está ouvindo donos de auto-escolas e motoristas.
Entre as pessoas ouvidas estão o aeroviário Gilberto Alfredo Neves, a segunda vítima identificada pelo Detran. Em maio do ano passado, ele se matriculou em uma auto-escola na zona oeste para tirar a CNH. Durante processo, porém, a mãe de Neves ficou doente e ele desistiu de tirar a carteira. Só quando depôs é que soube que suas digitais haviam sido usadas pela máfia das CNHs.
Ao todo, o relatório da Prodesp mostra que 15.224 CNHs foram tiradas com fraude no sistema de registro eletrônico das digitais - cada vez que alguém tira a carteira, é obrigado a registrar a digital num leitor óptico. O candidato ainda é obrigado a passar seu dedo no leitor depois de cada aula ou exame. A fraude consistia em fazer moldes de silicone das digitais, permitindo, assim, aos candidatos driblar o sistema. A Prodesp detectou 310 auto-escolas e CFCs da capital suspeitas de participarem do esquema.