Dores nas costas e na cabeça, olheiras, náuseas, vômitos, diarréia, fadiga e até vertigens. Uma coisa de cada vez ou tudo junto. Os sintomas da cólica menstrual são os mais variados possíveis e atingem até mesmo as mulheres brasileiras que não apresentam nenhuma doença no útero. O dado é do primeiro estudo realizado no Brasil sobre a prevalência da dor menstrual. A pesquisa também investigou se o problema afeta a produtividade no trabalho.
A análise enfocou apenas as mulheres que apresentam dismenorréia primária, que ocorre na ausência de doenças como endometriose, leiomioma ou doença inflamatória pélvica. Realizada pela empresa de pesquisa e consultoria Medinsight, a pesquisa entrevistou 156 funcionárias de uma empresa de call center no Rio de Janeiro, onde os níveis de pressão, estresse e competição são altos. As entrevistas foram feitas por médicas, que seguiram diretrizes da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia. As mulheres ouvidas têm mais de 18 anos e a média de intensidade da dor chega a 7,5, numa escala de 0 a 10.
Quem avaliza o estudo é o chefe do serviço de Clínica Ginecológica da Disciplina de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC, César Eduardo Fernandes, que também preside o Conselho Científico da Associação Brasileira do Climatério e integra a Sociedade de Ginecologia de São Paulo. Ele explica que a dor surge principalmente por dois motivos: doenças no útero ou dismenorréia primária, sendo esta freqüente em mais da metade das mulheres. No estudo, 65% das mulheres ouvidas disseram sofrer de dismenorréia primária.
Conviver com as mudanças do corpo durante a adolescência, enfrentar os estudos e o trabalho nunca foi uma rotina fácil para Carla Mendes, 18 anos. Modelo e promotora de eventos, ela chegou a faltar a escola e ao trabalho por conta de cólicas menstruais, tão doloridas a ponto de fazê-la chorar. Durante quatro anos, Carla sofreu com mal estar, dores no ventre e nas pernas, além de um cansaço acima do normal. Como a modelo, a grande parte das mulheres que sofre com esse mal são jovens.
Solução
A adolescente adiou a solução do problema até não agüentar mais. Mas o tormento passou com uma solução simples há dois anos. Depois de consultar um médico, Carla começou a tomar um anticoncepcional de acordo com o seu problema. As cólicas diminuíram e qualquer analgésico leve resolve as dores quando elas chegam. Os compromissos não são mais adiados por causa da dor. ;Um dia eu precisei faltar ao trabalho por causa das dores, recebi atestado médico para ficar em casa, mas a minha antiga chefe disse que eu não podia faltar, que eu fosse trabalhar, mesmo com dor. Eu tive de ir, fazer tudo certo e ainda fingir que tudo estava bem;, lembra. ;Ainda bem que eu não sinto mais essas dores;, comemora.
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Cansaço é a maior queixa
A dismenorréia primária é um tipo de cólica menstrual que atinge mulheres que não têm qualquer doença no útero. Estima-se que cerca de 33 milhões de brasileiras sofram com o problema. No mundo, os médicos acreditam que o mal atinja entre 60% e 93% da população feminina.
Os sintomas mais freqüentes são cansaço maior que o habitual (queixa de 59,8% das pacientes do estudo brasileiro), inchaço nas pernas (51%), cefaléia (46,1%), diarréia (25,5%), dores em outras regiões (16,7%) e vômito (14,7%). As cólicas costumam durar menos de 48 horas, o suficiente para provocar pequenos afastamentos do trabalho, da escola e de outros compromissos.
No Brasil, as jovens são as mais atingidas. A média de idade das pacientes diagnosticadas é de26,3 anos. A dor é intensa para 64,4% delas, índice 14,4% maior que a média mundial. Cerca de 30% queixam-se de dores moderadas e 5,5% de dores leves. A média de dias de trabalho perdidos com pequenas ausências e dores pode chegar a 1,9 dia no mês.
Fonte: Medinsght/Boehringer Ingelheim
Produtividade afetada
Um preocupação da pesquisa feita com mulheres cariocas foi medir os impactos que as dores durante a menstruação causam na produtividade do trabalho. Do universo de 156 entrevistadas, 30% disseram se ausentar do emprego por pequenos períodos, que duram em média 41 minutos.
A cólica menstrual em mulheres sem qualquer doença no útero costuma durar menos de 48 horas, mas é normal se estender por até três dias. A pesquisa faz uma ressalva em relação ao percentual, afirmando que ele pode estar subestimado. Isso porque as mulheres pesquisadas recebem comissão por produto vendido, o que diminui o número de faltas e atrasos. Ainda assim, mesmo estando presente no trabalho e ganhando por cada venda, 66,8% delas admitiram não render bem no período de cólicas.
Ajuda
Segundo o médico César Fernandes, as empresas precisam incentivar as mulheres a procurar ajuda médica, porque ninguém consegue trabalhar bem com dores. ;Do ponto de vista empresarial e profissional, isso é horrível. Tanto as empresas quanto as mulheres valorizam pouco esse problema, embora seja mensal;, afirma.
Ele frisa que os anticoncepcionais ajudam a afinar o endométrio, mucosa que reveste a parede uterina, e os remédios antiinflamatórios combinados com analgésicos aliviam as dores, por serem rapidamente absorvidos pelo organismo. ;Ninguém precisa sofrer;, avisa.
Aline Moura
Do Diario de Pernambuco