postado em 09/10/2008 08:46
O melhor presente que o Brasil pode oferecer às suas crianças no próximo dia 12 é deixá-las exercer o direito de brincar. Um direito, aliás, garantido por lei. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o lazer é uma prerrogativa da infância, tanto quanto o acesso à educação e à saúde. Os especialistas em comportamento garantem: nenhuma atividade favorece tanto o fortalecimento psicossocial quanto a velha e boa brincadeira.
;Brincar é o único instrumento integrado do desenvolvimento da criança, mas infelizmente os adultos ainda não se deram conta da importância dessa atividade;, constata a educadora Marilena Flores Martins, presidente da Associação Brasileira pelo Direito de Brincar. Há três anos, ela coordenou uma pesquisa realizada em todo o país que comprovou: para 92% dos pais, o futuro profissional é a principal preocupação em relação aos filhos pequenos. E 97% das crianças afirmaram que ver televisão é sua atividade predileta.
Os dados preocuparam a educadora. ;Ficamos abismados. Os adultos precisam ser informados de que a brincadeira é fundamental justamente para o desenvolvimento intelectual e criativo da pessoa;, diz. Quanto ao hábito de ficar grudado na telinha, Marilena diz que, embora não seja contra a televisão, que aproxima a criança do mundo real, é necessário incentivar os filhos a ter contato com o espaço público. ;A criança precisa manusear os elementos da natureza. Como dizia (o cientista) Albert Einstein, brincar é a mais elevada forma de fazer pesquisa.;
Co-fundadora e coordenadora da organização não-governamental Aliança pela Infância no Brasil, a pedagoga Adriana Friedmann acredita que muitos pais e professores ainda pensam na brincadeira como um simples passatempo. ;Para muitos, é somente para passar o tempo e divertir-se. Alguns ainda colocam como primordial introduzir a leitura e a escrita em uma idade prematura demais.; Ela enumera alguns dos benefícios das atividades lúdicas, desconhecidos pelo mundo adulto: ;A criança se desenvolve nos aspectos emocionais, físicos, motores, cognitivos e sociais, descobrindo o mundo à sua volta, os outros e descobrindo-se nas suas dificuldades e habilidades;.
Socialização
A arte-educadora Lindalva Souza, que coordenou um projeto de brincadeiras em espaços públicos da periferia de São Paulo, ressalta outra vantagem de deixar as crianças gastarem a energia nos parquinhos e praças: a socialização. No fim da tarde de ontem, Gustavo de Almeida, 2 anos, divertia-se no Parque Ana Lídia com duas novas amiguinhas: Alice, 2, e Ester, 8. Os três tinham acabado de se conhecer, mas interagiam como velhos companheiros no escorregador. ;O parquinho é bem legal;, avaliou o menino. O irmão de Gustavo, Daniel Maffia de Almeida, 24 anos, acha importante levar o menino para brincar ao ar livre. ;Hoje é mais computador e videogame. Prefiro que ele brinque no parque, acho que estimula mais o desenvolvimento;, diz o fisioterapeuta, que, na infância, freqüentava o mesmo parque.
Para Lindalva, além de novas amizades, a interação no espaço público rompe barreiras sociais. ;Brincar nesses espaços promove a interação de várias classes. Fizemos experiências em feiras de São Paulo e foi muito interessante. Crianças da classe A brincavam com meninos que viviam na rua. É um momento em que as pessoas ficam juntas, não pensam onde moram nem o que são capazes de comprar;, diz.
No projeto desenvolvido na capital paulista para a ONG Aliança pela Infância no Brasil, as crianças eram estimuladas a interagir com as tradicionais brincadeiras de rua e com brinquedos feitos de sucata ; prova de que não é preciso investir em parafernálias caríssimas para entreter os filhos. As experiências foram tão positivas que Lindalva pensa em escrever um livro narrando tudo que vivenciou. ;Há muita poética na brincadeira que acontece no espaço público;, constata.
Medo
Muitos pais, porém, ainda preferem ver seus filhos pretensamente mais seguros, trancados dentro de casa ou nas brinquedotecas dos shopping centers. ;A sociedade mundial está sob a ótica do receio, do individualismo voltado para o isolamento. A insegurança é uma ameaça à liberdade da criança;, decreta a psicóloga Maria Luiza Oliveira, presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda).
Para ela, outro problema é que as cidades oferecem opções precárias de lazer público para crianças e adolescentes. ;Há pouco investimento em espaços de cultura de lazer, em parques bem cuidados. Falta isso para a sociedade como um todo;, diz. A conselheira tutelar Selma Aparecida da Costa Santos, que atua em Ceilândia, denuncia o descaso. ;Para a periferia, não se oferece nada. As áreas públicas estão virando ponto de tráfico, por isso as mães não levam mais as crianças para brincar na rua. Ficam só na porta das casas;, diz.
DIVERSÃO GARANTIDA
Confira algumas brincadeiras tradicionais que ainda fazem sucesso entre as crianças, segundo a equipe do site Psicopedagogia Brasil
Batata quente
Sentadas em roda, as crianças passam um objeto para o colega ao lado, enquanto cantam: ;Batata que passa quente, batata que já passou, quem ficar com a batata, coitadinho se queimou!”. Quem estiver com o objeto ao final da canção sai da roda.
Caixinha de surpresas
Antes de iniciar o jogo, várias tarefas engraçadas são escritas em pequenos pedaços de papel, colocados em uma caixinha. Com as crianças sentadas em círculo, a caixinha circula de mão em mão, até a música parar. Quem estiver com a caixinha nesse momento deverá tirar um papel e executar a tarefa. A brincadeira continua até os papéis terminarem.
Estátua
De mãos dadas, as crianças giram em roda e cantam: ;A casinha da vovó, cercadinha de cipó, o café tá demorando, com certeza não tem pó! Brasil! 2000! Quem mexer saiu!”. Todos ficam como estátua e não vale rir, nem se mexer, nem piscar, nem se coçar. Quem conseguir ficar imóvel por mais tempo ganha a brincadeira.
Carniça
Em fila, as crianças ficam curvadas com as mãos apoiadas na coxa. Uma criança pula sobre as outras e pára à frente da fila. Nessa hora, a última criança pula o restante do grupo e assim em diante.