Brasil

Fabricante defende uso de preservativo durante tratamento de homens com talidomida

;

postado em 16/10/2008 08:33
Considerada um medicamento eficaz e barato, a talidomida já foi usada contra gripes, dores de cabeça e para evitar enjôos e vômitos durante a gravidez. No Brasil, onde começou a ser vendida em 1958, a substância foi proibida entre 1962 e 1966 por causar a má-formação congênita quando usada por mulheres grávidas. A prescrição do remédio voltou a ser liberada em 1966, devido a sua eficácia no tratamento de hanseníase. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a partir de então pesquisas científicas demonstraram que o sedativo e antiinflamatório, apesar do histórico ;execrável;, tem excepcional valor no controle ou na cura de uma série de patologias, com possibilidades terapêuticas reduzidas ou nulas. Em documento enviado à Procuradoria da República em São Paulo, a Anvisa informa que, em 2005, o Ministério da Saúde distribuiu cerca de 4,5 milhões de comprimidos a pacientes dos programas do Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento de hanseníase, DST/Aids e doenças crônicas. O Ministério da Saúde, no entanto, não dispõe do número exato de usuários do medicamento, nem quantos são homens e quantos mulheres. De acordo com a Anvisa, no Brasil a substância é usada no tratamento de úlceras aftosas, mielomas múltiplos, câncer renal e de próstata, entre outras doenças. Até recentemente, a talidomida fazia parte da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Renane). Especialistas afirmam que o país, detentor do maior número de casos de hanseníase em todo o mundo, ainda não tem condições de proibir a venda do produto. Os riscos da talidomida quando ingerida por mulheres grávidas são conhecidos desde o final da década de 1950. No Brasil, ano início da década de 1960, nasceu a primeira criança a nascer com os membros comprometidos por causa da Síndrome da Talidomida. De acordo com a Anvisa, estima-se que entre 8 mil e 12 mil casos de má-formação fetal foram registrados em 46 países ;em consequência de uma política insuficiente de vigilância sanitária;. Apesar dos riscos para as mulheres serem conhecidos, somente em 2003, quando a Anvisa publicou uma resolução (RDC Nº 140/03) orientando o fabricante a incluir na bula do remédio a recomendação para que homens que usam a talidomida adotem métodos para evitar engravidar suas parceiras, pouco se falava sobre a possibilidade de os usuários eliminarem a substância através do sêmen. De acordo com a geneticista Lavínia Schuler Faccini, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), isso aconteceu porque, entre outras coisas, desde que a talidomida foi sintetizada por um laboratório alemão, em 1954, não houve qualquer notificação de criança com má-formação congênita devido ao uso do medicamento pelo pai. Mesmo assim, para Cristine Araújo Silva, farmacêutica responsável pela Farmacovigilância da Fundação Nacional Ezequiel Dias (Funed), único fabricante brasileiro do remédio, a recomendação para que os homens em tratamento usem preservativos e evitem que suas parceiras engravidem ;é extremamente necessária;. Cristine afirma que a recomendação contida na bula não é um excesso de zelo do laboratório ou das autoridades públicas. ;É uma precaução extremamente necessária. Os homens devem usar a camisinha enquanto estiverem usando o medicamento e até um mês após tê-lo [ingerido];. Sobre a necessidade de a recomendação constar também na portaria e nos termos de Responsabilidade e de Esclarecimento, a farmacêutica se limitou a apontar a responsabilidade dos médicos que receitam o remédio. ;O problema também é do profissional que está atendendo o paciente e prescrevendo o remédio A bula acompanha o medicamento e está disponível na internet. O ato de receitar a talidomida inclui a devida orientação ao paciente;.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação