Brasil

Cerca de 15% das crianças sofrem de dores de cabeça crônicas

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postado em 16/10/2008 08:33
Coisa de adulto ou de rico: ao contrário do que prega o mito, a enxaqueca ; um dos mais de 200 tipos de cefaléias, que afetam 20 milhões de pessoas no Brasil ; penaliza, além dos pobres, as crianças. Pouca gente sabe, mas dores de cabeça crônicas afetam cerca de 15% dos pequenos. Em 94% dos casos, o problema é exatamente a enxaqueca. A informação faz parte de um estudo feito no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP), com uma amostra de 417 crianças entre 6 a 16 anos que sofriam do incômodo na cabeça. Só 1% delas tinham a cefaléia por conta de problemas oculares, causa geralmente associada ao mal. ;Entre crianças com dor de cabeça crônica, a enxaqueca é, de fato, a causa mais freqüente, abrangendo quase 95% dos casos;, ressalta o médico Marco Antônio Arruda, neurologista da Universidade de São Paulo especializado em infância e adolescência e autor do estudo. Ele lembra que a dor representa apenas um sintoma da enxaqueca, caracterizada por um problema de ordem genética. ;Costumamos dizer que a doença não é para quem quer, e sim para quem pode. Na primeira célula já está determinado se você terá ou não a enxaqueca;, brinca o médico. Não sendo possível prevenir, pelo menos dá para tentar evitar as crises. É que existem os fatores que desencadeiam a dor. São praticamente os mesmos, no caso de crianças e adultos. Sono prejudicado (dormir pouco ou muito), jejum prolongado, determinados alimentos, luminosidade exagerada, barulho, cheiro forte, mudanças bruscas de temperatura, questões emocionais, alteração hormonal. Tudo isso pode levar à crise. A população feminina padece mais do problema, em função dos hormônios. Para se ter idéia, a enxaqueca incomoda aproximadamente 7% dos homens, contra 18% das mulheres. Observar os sintomas, no caso das crianças, é tarefa obrigatória dos pais ou responsáveis. ;Como o diagnóstico é clínico, ou seja, não existe um exame para detectar a enxaqueca, precisamos de todas as informações relevantes, inclusive histórico da família. Nem sempre as crianças conseguem expressar bem o que sentem na hora da dor;, afirma Regina Albuquerque, chefe do Ambulatório de Cefaléia Infantil da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, em São Paulo. Ela sugere que o adulto tente levantar essas informações com o pequeno. ;Pergunte a ele se a dor parece com um coraçãozinho batendo na cabeça, para ver se é pulsátil, do tipo latejante, típica da enxaqueca.; O neurologista clínico Ricardo Teixeira, autor do blog ConsCiência no Dia-a-Dia, recomenda que os pais da criança com dor de cabeça freqüente façam uma espécie de diário. ;Se você chegar ao consultório com essa agenda economizará um tempo danado para ter o diagnóstico;, diz o médico. Na caderneta, vale anotar o que o filho comeu antes da crise, como está o sono, se passou por alguma emoção forte, medicamentos utilizados. Peculiaridades A enxaqueca, nas crianças, apresenta algumas peculiaridades. A primeira delas é a duração das crises, menos intensas e mais rápidas. Enquanto o adulto sofre até 72 horas, em média, com a dor, a criança pena de uma a duas horas. Elas podem ter náuseas e vômitos. O neurologista Arruda destaca outro ponto a ser observado pelos pais ou responsáveis. ;A criança geralmente fica mais quieta, pára de pular, de correr. Isso porque o desconforto aumenta com o esforço físico. O melhor, nesse momento, é colocá-la em um local silencioso, pouco iluminado, arejado;, afirma. Utilização exagerada de analgésicos, assinala o médico, é outro fator que desencadeia a crise de enxaqueca. De acordo com Arruda, crianças que se queixam por mais de dois meses de dor de cabeça já devem ser levadas a um especialista. O tratamento, se diagnosticada a enxaqueca, pode ou não incluir medicamentos. ;Muitas vezes basta fazer uma higiene da vida, repensando alimentação, horários, sono. Ou utilizar remédios apenas na hora da crise. Mas quando a dor persiste regularmente por um ou dois meses, podemos pensar num tratamento profilático, para trabalhar a química do cérebro;, diz Teixeira. Ele defende também compressas nas têmporas e uma ;deitadinha; no momento da crise. ;Não é receita da vovó, não. Está provado que são atitudes que melhoram a cefaléia;, diz. Dieta penosa Capítulo especialmente controverso quando o assunto é enxaqueca, a dieta alimentar costuma ser muito penosa para as crianças. Entre os produtos relacionados à dor, estão guloseimas como chocolate, refrigerante e derivados do leite. Hoje, entretanto, os médicos ponderam na hora de determinar um regime. ;A velha folha A4 com uma lista de alimentos proibidos não é mais aceitável. Os pais devem verificar, junto com a criança, o que faz mal. É algo particular, pessoal, não se pode generalizar;, diz o neurologista clínico Ricardo Teixeira. Chefe do Ambulatório de Cefaléia Infantil da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), Regina Albuquerque também é contra radicalismos. ;Muitas vezes o problema está no excesso daquele alimento. Não é que chocolate não pode. O que desencadeia a dor é comer a caixa inteira de bombons. Há crianças, por outro lado, que podem se sentir mal com apenas um pedacinho mesmo. É preciso observar caso a caso;, afirma a médica.

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