Brasil

Talidomida presente no sêmen é insuficiente para prejudicar feto, afirma geneticista

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postado em 16/10/2008 09:22
A quantidade de talidomida eliminada com o sêmen de pacientes que usam essa droga é insuficiente para causar a má-formação congênita de fetos concebidos durante o tratamento masculino. É o que diz a geneticista Lavínia Schuler Faccini, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo ela, pesquisas científicas recentes demonstram que as quantidades de talidomida presentes no sêmen - de 10 a 250 nanogramas da substância por grama de sêmen - são insuficientes para prejudicar o feto. ;É uma quantidade muito pequena. Se imaginarmos que isso ainda teria que passar pela mucosa e pela placenta antes de atingir o bebê, concluiremos que essas doses não são consideradas capazes de causar algum problema;, diz Lavínia,. Ele esclarece que, pelo conhecimento científico disponível até o momento, é possível dizer que, "com muita probabilidade, o risco não existe;. A geneticista diz que a orientação para que os homens que estejam usando a talidomida adotem formas de evitar que suas parceiras engravidem é uma preocupação anterior aos estudos que mediram a quantidade do medicamento presente no líquido seminal. A orientação foi incluída nas bulas em 2003, por resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para Lavínia, na época, a precaução era justificada, já que ainda persistiam dúvidas sobre a possibilidade de a talidomida ser excretada junto ao sêmen. ;Como desde a década de 1950 se sabe que a substância pode causar a má-formação fetal quando usada por mulheres grávidas, era natural que, comprovado que a talidomida está presente no sêmen de homens em tratamento, surgisse uma preocupação com a possibilidade de o esperma causar problemas para os bebês;. Lavínia garante que especialistas no assunto comunicaram à Anvisa que a precaução era desnecessária e contraproducente. ;Às vezes, uma mulher engravida de um paciente que usa a talidomida e fica ansiosa sem que haja necessidade para isso;. A recomendação permanece até hoje nas bulas dos medicamentos, a exemplo do que ocorre em outros países. ;Quem fabrica a bula quer ficar do lado mais seguro. O fato de dizer na bula que é para usar camisinha não significa que a substância realmente ofereça risco. Um exemplo são as tinturas de cabelo. Até onde se sabe, a tintura não oferece riscos ao feto. Mesmo assim, recomenda-se que mulheres grávidas evitem usar o produto. As bulas costumam proteger os fabricantes dos medicamentos;. Embora descarte a possibilidade de uma gravidez ser prejudicada com o uso da talidomida pelo homem, a geneticista defende que, uma vez que consta da bula do medicamento, a orientação para usar preservativos e evitar engravidar as parceiras deveria ter sido incluída na portaria que disciplina a distribuição e o uso do medicamento. ;A informação deveria ser compartilhada com os pacientes por meio da portaria da Anvisa e dos termos de Responsabilidade e de Esclarecimento. Se está escrito na bula que o homem tem que usar preservativo, é preciso explicar aos usuários o porquê disso. E essa explicação deveria obrigatoriamente constar da portaria e dos termos;, diz Lavínia, lembrando que jamais houve qualquer caso ou suspeita de que uma vítima da Síndrome da Talidomida tenha nascido com problemas devido à presença da substância no sêmen.

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