Brasil

Ex-borrifadores da extinta Sucam sofrem com sintomas de envenenamento

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postado em 20/10/2008 09:40
O ex-borrifador da extinta Superintendência de Combate à Malária (Sucam) Aldo Moura da Silva, 57 anos, define a situação dele e de cerca de 300 antigos colegas como ;uma corrida;, onde ;a disputa é entre a vida e a morte;. No caso deles, a segunda concorrente está levando vantagem. Só este ano, oito companheiros de Silva morreram no estado do Acre ; desde 2000, já foram pelo menos 49. O diagnóstico, assim como os motivos dos óbitos, são desconhecidos, mas tudo leva crer que seja por envenenamento causado pela exposição ao dicloro difenil tricloroetano (DDT), inseticida usado para matar o mosquito da malária. Somente na semana passada, três ex-borrifadores foram internados em Rio Branco, enquanto 18 já não podem mais sair de casa, por estarem sem forças para andar. ;É uma corrida entre a gente e a morte;, diz Silva. ;Quem será o próximo?;, pergunta, todos os dias, quando chega à Associação dos Ex-Guardas da Sucam, entidade que fundou para abrigar a categoria. Os borrifadores que andavam no meio da floresta desinfetando casas, conhecidos como ;mata-mosquitos;, hoje estão praticamente sem apoio do poder público. ;A situação é muito grave. O povo está morrendo e as autoridades estão omissas;, reclama Silva, que também manifesta os mesmos sintomas que seus colegas de profissão: bolhas pelo corpo, coceira intensa, tremedeira, problemas cardíacos e de circulação. ;Daí em diante, é comum aparecer o câncer;, conta. O número de mortos pode ser incalculável, já que os ex-guardas, como também eram chamados os borrifadores por causa da roupa cáqui e capacete de metal que vestiam, atuavam em toda a Amazônia. No Acre, todos os dias um agente de endemia apresenta problemas de saúde. ;Todos mostram sintomas semelhantes. Não são casos isolados;, observa Silva, que diariamente visita as vítimas em vários hospitais da capital do estado. ;Esta semana eu trouxe um que estava a 300km daqui. Também doente, como os outros;, diz o ex-borrifador. Papéis Para piorar a situação, o problema parece ter atingido também quem não teve contato direto com o veneno. É o caso da ex-funcionária da Sucam Maria das Graças Ribeiro Jinkins, que trabalhava com estatísticas. Internada em uma clínica de Rio Branco, ela apresenta problemas nos braços e pernas. ;As bolhas nascem por todo o corpo. Pensei que fosse coceira, mas está se alastrando;, diz, com os membros quase em carne viva. ;Nenhum medicamento adianta.; Trabalhando hoje na Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Maria das Graças acredita que a contaminação ocorreu de forma indireta. Ela recebia as anotações diárias das casa borrifadas. ;Acho que adoeci com o veneno que estava nos papéis.; Depois de muito lutar pela atenção das autoridades, Silva foi recebido pelo Ministério Público Federal no Acre. O resultado do encontro foi satisfatório, apesar de não ter surtido efeito prático até hoje. A Procuradoria da República no estado determinou que o Ministério da Saúde e a Funasa forneçam tratamento para os borrifadores, o que até agora não aconteceu. Uma das medidas é fazer exames de cromatografia em todos os ex-servidores da extinta Sucam para saber quantos podem estar contaminados. A Polícia Federal chegou a oferecer seus serviços nessa área, mas a Secretaria de Saúde do governo local não possui material técnico para fornecer à PF. ;Enquanto isso, 18 companheiros estão de cama e podem morrer a qualquer momento. Outros três estão internados em estado grave e pelo menos 49 faleceram. E estamos todos nas mãos da burocracia;, reclama Silva, com os olhos perdidos no horizonte. ;Não estamos mais pedindo para as autoridades nos ajudarem. Estamos, agora, implorando para que alguém ajude neste momento difícil;, acrescenta o ex-borrifador.

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