Brasil

Perícia não acha sinal de disparo antes da invasão

;

postado em 24/10/2008 08:52
São Paulo ; Exames preliminares feitos pela perícia do Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo apontam que nenhum tiro foi dado momentos antes de o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) invadir o apartamento onde Lindemberg Alves, 22 anos, mantinha reféns as adolescentes Eloá Pimentel e Nayara Rodrigues Silva, ambas de 15 anos. Além do cativeiro, os peritos examinaram imagens feitas por emissoras de televisão e quatro projéteis: dois que atingiram Eloá, que acabou morta; um que feriu Nayara na boca; e outro encontrado na sala do imóvel. A equipe do IC analisou gravações feitas pela Rede Record e pela Rede Globo. Segundo uma perita que não quis se identificar, no material captado por uma câmera da Record, é possível ouvir um estrondo semelhante ao barulho de um rojão. Nas imagens captadas pela TV Globo, que montou uma câmera mais próxima ao apartamento e no lado oposto onde estava a equipe da outra emissora, não há nenhum estrondo. Se forem confirmados, os dados iniciais dos peritos coincidem com a versão de Nayara sobre o episódio. Na quarta-feira, a menina garantiu ao delegado José Carlos dos Santos, coordenador das investigações, que Lindemberg só descarregou a arma de calibre .32 que portava depois de ouvir a explosão realizada pelo Gate para entrar no apartamento. Segundo ela, o seqüestrador deu inicialmente um tiro para o teto. Em seguida, em direção a Eloá. Na seqüência, ainda de acordo com a testemunha, Lindemberg se escondeu no corredor e disparou várias vezes em direção aos policiais. O comandante da Tropa de Choque de São Paulo, coronel Eduardo Félix, que coordenou as negociações durante o seqüestro, admitiu que o barulho ouvido pelos policiais poderia não ser o de um tiro. No dia do desfecho do crime, Félix afirmou que a equipe do Gate só iniciou a invasão porque escutou um disparo dentro do apartamento. Na noite de quarta-feira, depois do depoimento de Nayara, disse que a menina podia estar enganada, já que estava abalada psicologicamente e em uma situação de estresse. Ontem, houve uma pequena mudança no seu discurso. ;Assim como a Nayara, meu pessoal também pode (ter se confundido). Eu tenho de acreditar na minha equipe. Pode ter havido outro barulho? Pode. Eu não vou dizer que não;, afirmou o coronel, depois de depor por mais de seis horas em Santo André. O coronel, porém, lembrou que há testemunhas que confirmam o barulho de um tiro. ;Eles (homens do Gate) podem ter se confundido. Mas há testemunhas que afirmam que o barulho partiu de dentro do apartamento;, disse. O comandante concluiu dizendo que só a perícia poderá esclarecer o que houve de fato: ;Se esse disparo partiu de dentro do apartamento, de fora do apartamento ou se foi um rojão, o laudo técnico é que vai dizer;. Outro ponto de contradição entre o que diz a polícia e o que afirmou Nayara em seu depoimento é sobre a volta da adolescente ao cativeiro, depois que ela já havia sido libertada. Segundo os homens do Gate, ela foi orientada para subir apenas até o primeiro andar. A adolescente, por sua vez, disse que o irmão de Eloá deveria parar no primeiro piso, mas ela deveria ir até o corredor do apartamento e ficar longe da porta. O comandante Félix ontem manteve a versão da polícia: ;Se ela tivesse parado onde o irmão da Eloá (Douglas) parou (no andar inferior), nada teria acontecido;. Chocado Até o momento, 24 pessoas foram ouvidas pela polícia. O delegado Santos disse que o inquérito só será finalizado depois da conclusão dos laudos periciais, da reconstituição do crime e do depoimento de Lindemberg, que é essencial para o caso. Segundo os defensores do seqüestrador, ele está sereno, alimentando-se normalmente e permanece em uma cela isolada na Penitenciária II de Tremembé, a 147km de São Paulo. A advogada Ana Lúcia Assad disse que só ontem comunicou ao seu cliente sobre a morte de Eloá. De acordo com ela, ele ficou triste e chocado ao saber da morte da adolescente. Ela afirmou ainda que Lindemberg enviou um recado para a mãe, dizendo que a ama. O promotor Antonio Nobre Folgado voltou a dizer que vai denunciar o seqüestrador por homicídio duplamente qualificado (com motivo torpe e impossibilidade de reação) no caso de Eloá; duas tentativas de homicídio, de Nayara e do PM Atos Valeriano; quatro cárceres privados qualificados (com sofrimento psicológico das vítimas); e por disparos de arma de fogo. ;As penas podem superar 40 anos. Isso independe de o tiro ter sido dado antes ou depois da invasão.;

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação