postado em 29/10/2008 09:25
São Paulo ; O industriário Lindemberg Alves, 22 anos, passou a ser réu no processo que apura a morte de Eloá Pimentel, 15. O juiz José Carlos de França Carvalho Neto, do Tribunal de Justiça de São Paulo, aceitou integralmente a denúncia feita pelo promotor Antônio Nobre Folgado contra o rapaz. Ele manteve Eloá refém por 101 horas no apartamento onde a menina morava, em Santo André, região do ABC Paulista.
O Ministério Público denunciou Lindemberg por uma série de crimes. Pela morte de Eloá, ele foi acusado de homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e sem chance de defesa à vítima). Por ter atirado contra Nayara Silva, 15, o seqüestrador foi indiciado por tentativa de homicídio duplamente qualificado. Há ainda a acusação de tentativa de homicídio qualificado (para assegurar a execução de crimes) contra o sargento da Polícia Militar Atos Antonio Valeriano, que invadiu o cativeiro.
Lindemberg também foi denunciado cinco vezes por cárcere privado qualificado, sendo duas vezes em relação a Nayara, e três em relação a Eloá e aos jovens Victor e Iago, mantidos reféns no primeiro dos cinco dias de seqüestro. Ele também foi denunciado por disparo de arma de fogo em lugar habitado, porte ilegal de armas e receptação de arma e munição. Pelas contas do Ministério Público, Lindemberg deverá pegar pena máxima, ou seja, 30 anos. A previsão é que o réu seja submetido a um júri popular até março do ano que vem.
O promotor também denunciou o pai de Eloá, Everaldo Pereira dos Santos, por posse de arma com numeração raspada e falsidade ideológica. De acordo com o MP, uma espingarda calibre .22 com a numeração apagada foi encontrada no apartamento dele, e a polícia descobriu que Everaldo utilizava o nome falso de Aldo José da Silva para ocultar sua verdadeira identidade em razão de crimes que teria cometido em Alagoas. Everaldo está foragido e a polícia ainda negocia a rendição com seus advogados.
Neutralização
No processo que a Justiça de São Paulo recebeu ontem, consta que os policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) quiseram encerrar o seqüestro de Eloá dando um tiro em Lindemberg. O governador José Serra (PSDB), no entanto, não teria autorizado o disparo. O ;tiro de neutralização;, como é chamado esse tipo de disparo, seria dado de uma janela em frente o prédio. Segundo o promotor Folgado, a informação foi dada por vários policiais.
Ontem, o alto comando da Polícia Militar de São Paulo afastou o coronel responsável pelas investigações sobre a ação da polícia durante a invasão ao cativeiro. Logo depois da ação, o coronel Eliseu Leite Morais foi nomeado para apurar a conduta dos policiais, mas, segundo avaliação de seus superiores, ele não conduziu as investigações com parcialidade, chegando a dar entrevistas coletivas para divulgar informações que corriam sob sigilo. Antes mesmo de começar a apurar os fatos, o oficial demonstrava ter opinião formada sobre a ação. ;Não há nenhum indicador de que eles tenham cometido ação grave, muito pelo contrário, eles estavam ali para proteger. Não houve erro;, afirmou Morais na semana passada.