Brasil

Pesquisa revela que mães brasileiras supervalorizam os riscos fora do lar

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postado em 31/10/2008 10:00
Fios desencapados, frigideiras com óleo fervendo, janelas sem proteção, baldes de água, produtos de limpeza, entre outros objetos da casa, são os maiores vilões da infância. Matam, em média, oito crianças de até 14 anos todos os dias no Brasil, representando 53% dos óbitos não-naturais provocados por acidentes nessa faixa etária. O índice sobe para 94% se somadas as mortes no trânsito. Mesmo assim, pais e mães continuam mais preocupados com balas perdidas, assaltos, seqüestros e más companhias, embora a violência seja responsável por 13% das fatalidades por causas externas (leia arte). A constatação é de um estudo inédito encomendado pela organização não-governamental Criança Segura e financiado pela Johnson & Johnson, que usou dados de 2005 do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Também foram ouvidas em entrevistas qualitativas cerca de 160 mães das classes AB e CD de quatro capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Curitiba. O cruzamento dos dados mostrou que elas têm uma percepção equivocada dos perigos a que estão expostos seus filhos, supervalorizando os riscos fora de casa e ignorando os presentes no ambiente doméstico. ;De um modo geral, as mães tendem a perceber os acidentes dentro de casa como algo mais leve, menos relevante, enquanto os números mostram que a realidade é outra;, afirma Luciana O;Reilly, coordenadora nacional da ONG Criança Segura, integrante da rede Safe Kids, presente em 15 países. O estudo, intitulado Acidentes com Crianças no Brasil e o comportamento das mães, aponta que afogamentos e sufocação, juntos, são responsáveis por 40% das mortes, mesmo índice de óbitos provocados pelos desastres no trânsito. Segundo o tenente-coronel Maciel Nogueira, do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, que registra cerca de 560 acidentes domésticos por mês, mais de 90% poderiam ser evitados com medidas simples. Ele ressalta que o problema independe de classe social. ;As circunstâncias mudam, mas a natureza acaba sendo a mesma. A diferença é que no Lago Sul a criança morre afogada na piscina, enquanto em uma área mais pobre se afoga no vaso sanitário ou em um balde;, diz. Os riscos estão em toda parte. A cozinha, segundo o médico Aramis Antonio Lopes Neto, membro do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria, é um local crítico. ;Os pais não devem deixar as crianças entrarem sozinhas nessa parte da casa;, recomenda Neto. Entre os perigos, estão fogo, gás, líqüidos quentes e material de limpeza. Trânsito é o vilão externo Fora de casa, o principal vilão está no trânsito. Os desastres representam 40% de todos os 5.808 óbitos provocados por acidentes, inclusive os domésticos, de crianças até 14 anos, registrados em 2005. Metade disso é resultado de atropelamentos. Na faixa dos 5 aos 14 anos, o problema se agrava, classificando-se em segundo lugar entre as causas de morte e de hospitalização no país. As quedas ficam em primeiro, conforme a pesquisa. Para Luciana O;Reilly, coordenadora nacional da ONG Criança Segura, os pais precisam entender e respeitar o desenvolvimento da criança. ;Por mais esperto que seu filho seja, não dá para supor que ele já aprendeu que não pode ir para a janela. A criança não tem discernimento para avaliar os riscos. No caso de atravessar uma rua, por exemplo, estudos mostram que só com 10 anos ela teria capacidade para isso. Nós, adultos, fazemos um cálculo automático sobre o tempo que levaremos para chegar à outra margem. A criança não sabe pensar dessa forma;, afirma. Outro perigo, de acordo com Aramis Antonio Lopes Neto, membro do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria, é subestimar a capacidade da criança. ;Muitas vezes é com o acidente que os pais descobrem que o filho já adquiriu coordenação para rolar por cima de um travesseiro, por exemplo, ou subir alguns degraus de escada;, explica. Ele condena a restrição das atividades da criança em função do medo de acidentes. ;Não se pode criá-la em uma redoma de vidro, basta garantir a segurança dela.;

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