postado em 07/11/2008 09:25
Doenças relacionadas ao aparelho circulatório ; como derrames e infartos ; são responsáveis por 32,2% das mortes no Brasil. Matam mais que o câncer, que aparece em segundo lugar no ranking da mortalidade nacional. Os dados fazem parte do relatório Saúde Brasil 2007, apresentado ontem pelo Ministério da Saúde (MS), elaborado a partir de informações colhidas no sistema de saúde do paÃs em 2005 e 2006.
Segundo o diretor do Departamento de Análises de Situação de Saúde (Dasis) do ministério, Otaliba Libânio, os excessos da vida urbana são a principal causa para esse quadro. ;Comer alimentos com excesso de gorduras, açúcares e sal, fumar e consumir abusivamente bebidas alcoólicas potencializam o risco de doenças circulatórias;, ressalta.
Em terceiro lugar da lista, aparecem as mortes por causa externa, em especial as provocadas por homicÃdios e acidentes de trânsito. Apesar de ainda serem altas, as taxas de assassinato têm registrado queda. Entre 2003 e 2006, o Ãndice caiu de 28,6 homicÃdios para cada grupo de 100 mil habitantes para 25,4 por 100 mil habitantes.
De acordo com o levantamento, a queda ocorreu principalmente nos municÃpios com mais de 100 mil moradores ; e de forma ainda mais expressiva nas cidades com população superior a 500 mil pessoas. Nas regiões metropolitanas, diz o estudo, predominam os homicÃdios por arma de fogo (18,4%).
AVC
Entre as várias doenças relacionadas ao sistema circulatório, o Acidente Vascular Cerebral (AVC), também conhecido como derrame cerebral, se mostra o mais fatal. Em 2005, morreram 90 mil pessoas por causa da doença, representando 31,7% das mortes decorrentes de problemas circulatórios e 10% dos óbitos totais naquele ano.
O piauiense Luiz José de Souza, 63 anos, sofreu há três anos um derrame. O medo de a situação se agravar fez o morador da Estrutural seguir à risca as recomendações médicas. ;Desde que fui parar no hospital eu não paro de tomar a medicação que controla a pressão. Para onde vou, carrego comigo o cartão de pegar remédio;, garante. Souza sabe que qualidade de vida é fundamental para evitar pressão alta, mas, por questões financeiras, ele tem dificuldade de manter uma alimentação saudável. ;Comer fruta, verdura e legumes todo dia é para quem pode. Eu não tenho dinheiro para manter esse estilo de vida;, lamenta.
;O risco de os homens morrerem prematuramente é 40% maior do que o das mulheres;, ressalta Otaliba Libânio. Apesar de as mulheres serem a maioria na população (65%), os dados do ministério mostram que das 1.003.350 mortes ocorridas em 2005, cerca de 57% ocorreram na população masculina. Segundo Libânio, isso ocorre porque, entre os homens, as mortes por causas externas são maiores do que as provocadas por câncer.
Entre as mulheres em idade fértil, os casos de câncer superam as mortes por doenças do aparelho circulatório. ;O câncer era responsável por 20,7% das mortes na população feminina em 2000, e passou a representar 23% dos óbitos em 2005;, observa o especialista. Já as doenças do aparelho circulatório tiveram redução nesse perÃodo. Passaram de 23,3% para 21,1%.
As doenças ligadas à gravidez, parto e o perÃodo logo após o nascimento da criança ocupam a oitava causa de risco de morte entre as mulheres em idade fértil. Para Libânio a posição no ranking pode cair ainda mais se a assistência ao pré-natal e ao parto for melhorada. ;Faltam informação e serviços que captem essa gestante na sua região e, em alguns casos, qualidade na assistência;, explica.
Perigo em duas rodas
A violência no trânsito é um dos fatores de mortes no grupo de causas externas que mais preocupa o Ministério da Saúde, principalmente os óbitos que envolvem motociclistas. Segundo o diretor do Departamento de Análises de Situação de Saúde (Dasis), Otaliba Libânio, a maioria das vÃtimas de acidentes atendidas nos hospitais e nas emergências do paÃs são homens jovens na faixa etária de 15 a 39 anos.
Em 2006, Centro-Oeste, Sul e Nordeste apresentaram taxa de mortalidade por acidentes com motocicletas maior que a média nacional (3,7%). Os óbitos se concentram, principalmente, nos municÃpios de pequeno porte, ou seja, com população abaixo de 100 mil habitantes. As maiores vÃtimas são homens jovens de 20 a 59 anos. ;Em 1980, havia 300 mortes por causa de motocicletas. Hoje, são quase 7 mil óbitos;, observa Libânio.
Além das mortes, estão aumentando as internações e atendimentos de urgência por causa dos acidentes com motos. Segundo o representante do ministério, as motos são a principal causa de internação devido a acidentes de trânsito. ;É preciso ter estrutura de fiscalização, melhorar os critérios de concessão de habilitação e trabalhar com as empresa que contratam motoboys e prestam serviço de mototáxi;, sugere.
Desrespeito
O analista de trânsito LuÃs Riogi Miura lembra que a trágica estatÃstica tende a crescer porque o desrespeito ao Código de Trânsito Brasileiro ;corre solto; nos municÃpios de pequeno porte.
Há 10 anos, a lei estabeleceu que os gestores municipais deveriam investir na municipalização da fiscalização. Passada uma década da elaboração do código, apenas 903 dos 5.564 municÃpios brasileiros atenderam a exigência.
;A estrutura de engenharia é cara. Geralmente, os prefeitos não têm como bancar os custos e, além disso, quem vai querer trocar voto por uma medida que prevê multa para o mal motorista?;, questiona Miura.
Ouça podcast: com Otaliba Libânio, do Ministério da Saúde