postado em 13/11/2008 17:41
O tráfico e consumo de drogas em Caicó, principalmente do crack, estão provocando a cada dia situações mais preocupantes e casos inusitados como o que ocorreu no final da manhã de terça-feira, quando um jovem procurou a delegacia de polícia e pediu aos policiais para ficar preso. Ele alegou que queria fugir do consumo de crack. Estava acompanhado de sua mãe, Rosa Justina Pereira, de 72 anos.
O delegado Luiz Gonzaga de Lucena, sem ter um amparo legal para manter o rapaz na cadeia, entrou em contato com o presidente da Fundação Belo Amor, Francisco Galvão Freire Neto, que recebeu o jovem na instituição onde vai ficar tentando se recuperar.
Daniel da Silva, 24 anos, residente no Bairro Barra Nova, disse que é viciado em drogas há vários anos, mas conheceu o crack há um ano. Em somente uma hora, numa madrugada, segundo ele, disse que gastou R$ 400 na aquisição de crack. ;Quando eu procurei a delegacia de polícia estava transtornado ainda por causa da droga, perturbado, depois de me esconder de mim mesmo, embaixo da cama de minha própria casa, porque eu não me agüentava. Eu estava dominado pelo vício;, citou o rapaz, em entrevista na manhã de hoje, na Fundação Belo Amor.
Ele comentou que o transtorno psicológico provocado pelo crack é tão grande que procurou se esconder dele próprio até chegar ao ponto de procurar a delegacia de polícia. ;Eu não sou aquele Daniel que era antes. Tentei me restabelecer porque eu sempre perturbei muito minha mãe;, narrou. Mas o jovem deixou escapar que um dos motivos que o fez tomar a atitude é porque vem sendo ameaçado de morte por traficantes a quem comprou droga e não pagou. ;Aí resolvi procurar a delegacia de polícia pra ver se dou um jeito na minha vida, pra ver se eu tomo juízo nessa minha cabeça. Porque eu estava fazendo muita coisa errada e não quero mais nem comentar isso, quero esquecer que existiram drogas na minha vida e que existiu passado ruim na minha vida. Eu quero procurar um futuro melhor pra mim, para minha mãe. Até minha mulher me abandonou, porque a droga destruiu o meu relacionamento;, comentou.
Daniel contou que ao chegar na delegacia de polícia falou com o delegado e contou sua situação. ;Aí o delegado disse que não podia me deixar preso porque não tinha nada contra a minha pessoa. Ele entrou em contato com a Fundação Belo Amor e aqui eu estou; se Deus quiser vou me recuperar e começar uma nova vida;, narrou.
O presidente da Fundação Belo Amor, Francisco Galvão Freire Neto, disse que é possível que Daniel da Silva consiga sair do vício. ;Ao ser recebido aqui ele ganha uma chance a mais, uma oportunidade de fazer essa vontade dele se concretizar, ser real;, comentou. Quanto ao fato do rapaz ter procurado a delegacia de polícia pedindo pra ficar preso, o dirigente da Fundação considerou um fato extremo. ;Quando Daniel tomou uma atitude dessa, é uma atitude extrema, preferindo perder a liberdade física, ficando entre as quatro paredes na grade, numa cela, do que continuar preso na droga, porque é trocar uma prisão por outra. Só que essa prisão da cela, de certa forma é bem melhor porque você tem mais perspectiva. É claro que ele não ia ficar lá porque não tinha motivos, mas para todos os efeitos ele já era um preso pela droga, pelo vício, isso é uma prisão grande e ele estava procurando uma outra prisão menos complicada para sua vida;, avaliou Francisco Galvão Freire Neto.