postado em 15/11/2008 11:06
Sob uma ponte no Rio Gorutuba ; que separa os municípios mineiros de Janaúba e Nova Porteirinha, distantes de Belo Horizonte quase 600 quilômetros ; chama a atenção de quem passa a presença de dezenas de mulheres que se dedicam à lavagem de um amontoado de roupas. Elas ficam dentro do rio e há até mesinhas de cimento para facilitar o trabalho, fixadas no chão, segundo informaram, pelo Bispo Dom Mauro.
Senhoras, mulheres de meia idade e crianças aproveitam a água de um dos poucos rios não afetados pela seca prolongada na região para tirar o sustento da família. Recebem de R$ 20 a R$ 25 para lavar e passar uma trouxa com 60 a 80 peças. ;A gente lava para fora e se for gastar água e energia de casa não compensa;, contou à Agência Brasil Ângela Maria, de apenas 13 anos. Ela sente a necessidade de ajudar em casa e garante que o trabalho não atrapalha os estudos.
Sueli Alves, 38 anos, disse que seria impossível sua família sobreviver se apenas o marido trabalhasse. ;Lá em casa são seis pessoas e não dá para um pedreiro dar conta de tudo.;
Segundo Heloísa das Dores, 42 anos, 80% das mulheres de Nova Porteirinha são lavadeiras por falta de opção e trabalham para pessoas de Janaúba. O espaço para a lavagem no rio fica congestionado pela demanda em alguns dias, mas tudo se resolve sem briga. ;A gente vai se ajeitando. Em cada pedra lavam duas ou três;, disse das Dores.
Sueli lembrou que as clientes não reajustam os valores pagos há muito tempo. ;Elas ainda ficam assustadas quando a gente pede aumento de R$ 10;.
Muitas dessas mulheres são, na prática, chefes de família, pois recebem para cada trouxa de roupa lavada mais do que os R$ 12 a R$15 diários dos maridos nos trabalhos como pedreiro ou no roçado.
Sem interromper a atividade por um minuto sequer, sob sol intenso, elas demonstraram simpatia e bom humor durante a conversa. Antes da despedida, Heloísa das Dores quis saber ;em que lugar essa pesquisa ia aparecer;. Depois de saber que se tratava de uma reportagem, ela demonstrou satisfação e desabafou sobre as dificuldades da profissão.
;Acho bom, porque talvez só assim os governantes olhem para as lavadeiras. Nós lavamos roupa para um pessoa por 10, 20 anos, e não temos direito a nada. Na idade que a gente tá, firma nenhuma pega;, lamentou.