Brasil

Cientistas estudam transplante de útero

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postado em 16/11/2008 11:40
Uma nova esperança para mulheres que perderam o útero por causa de miomas ou tumores deverá estar disponível em menos de dois anos. Trata-se do transplante uterino, técnica desenvolvida pela equipe do médico norte-americano Edwin Ramirez, do Antelope Valley Hospital, na Califórnia, Estados Unidos. O estudo, que vai receber um prêmio da Associação Americana de Ginecologistas Laparoscopistas, foi publicado no Journal of Minimally Invasive Ginecology. Ontem, foi apresentado a médicos brasileiros no Endometriose in Rio 2008 ; Impacto da Endometriose na Fertilidade, congresso gratuito para médicos, realizado no Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), no Rio de Janeiro. ;A técnica significa a possibilidade da realização de um sonho de mulheres que perderam o útero por diversos motivos e que muitas vezes vivem o resto de suas vidas frustradas por não terem sequer a possibilidade de ter um filho biológico;, afirma Marco Aurélio Pinho de Oliveira, coordenador do congresso e chefe do Ambulatório de Endometriose do Hupe. Ele explica que diversas doenças podem levar à perda do útero, sendo que a principal delas é o mioma. ;Outras causas seriam o sangramento uterino excessivo, a adenomiose, a endometriose e as doenças pré-malignas ou malignas do útero;, diz. Adenomiose e endometriose são caracterizadas pela migração das células da mucosa que reveste o útero (endométrio) para outros locais do organismo. Por enquanto, Ramirez tem realizado experimentos em ovelhas, que possuem características anatômicas e vasculares semelhantes às dos humanos. No estudo piloto, 10 animais receberam o transplante pela técnica de minilaparotomia (procedimento realizado através de uma pequena incisão cirúrgica abdominal). Seis adaptaram-se completamente ao novo órgão, sem rejeição. Foi o primeiro caso bem-sucedido na literatura médica, utilizando ovelhas. Em entrevista ao Correio, Edwin Ramirez afirma que a técnica é uma alternativa a procedimentos polêmicos, como a barriga de aluguel e a inseminação artificial, vistos com maus-olhos por grupos religiosos e sociais mais conservadores. ;Muitas culturas e credos religiosos não permitem esses métodos como uma alternativa à infertilidade, então essas mulheres têm sido excluídas da sociedade. Já a fertilização in vitro poderá ser necessária em combinação com o transplante uterino para se alcançar a gravidez;, diz. Debates bioéticos Ele não descarta, porém, debates bioéticos a respeito de sua pesquisa, já que o útero não é um órgão vital como rins, coração, fígado, pâncreas e pulmão. ;Contudo, nós enfatizamos que a possibilidade de reaver o útero em determinadas mulheres pode resgatar o sentido da vida ao possibilitar que as mesmas tenham a possibilidade de ter um filho com sua carga genética;, defende. O médico mostra-se confiante com o futuro do procedimento. ;O próximo passo será conseguir que uma gravidez vingue nas ovelhas, após a transferência do embrião para o útero transplantado;, explica. Depois, a técnica utilizará primatas. ;Se houver sucesso com os babuínos, começaremos um estudo de caso em seres humanos;, conta. As entrevistas com pacientes interessados em se submeter ao transplante já começaram. ;Eu acredito firmemente que o primeiro transplante uterino em seres humanos acontecerá em um ou dois anos;, diz. Ainda não se sabe se um útero transplantado em humanos sofrerá rejeição. ;Nós não comparamos a taxa de rejeição entre o útero e outros órgãos, porém o nosso estudo atual documentou uma taxa de 100% de aceitação do útero nas ovelhas;, relata o pesquisador. ;O fígado ainda parece ser o órgão com menor taxa de rejeição. Por outro lado, o útero é um órgão que fica em contato com células estranhas ao organismo (o próprio feto), sem rejeitá-las durante a gravidez. Motivo pelo qual ainda não temos explicações;, diz. Depois de passar pelos últimos testes, Ramirez sabe que terá pela frente outro desafio, talvez mais trabalhoso do que a própria pesquisa: estimular a doação do útero. ;Aqui nos Estados Unidos nós temos várias redes de doadores disponíveis para a captação de órgãos e que são reguladas pelo governo. Mas para doação voluntária, ainda seria necessária a abertura de vários canais de discussão para que este processo seja estabelecido.;

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