postado em 16/11/2008 16:47
Levantamento realizado pela Pastoral do Migrante no Amazonas revela que anualmente milhares de pessoas chegam ao estado em busca de melhores condições de vida. Segundo a Pastoral, parte desses migrantes são brasileiros que por não terem o que desejam em seus estados procuram o Amazonas na tentativa de realizar seus sonhos. Outros são fugitivos da guerra civil na Colômbia ; uma situação que já dura mais de 40 anos ; ou do Peru, onde a pobreza generalizada impede o desenvolvimento das cidades e o pagamento de bons salários.
Entre os motivos que resultam na escolha pela vida no Amazonas estão as riquezas naturais e econômicas do estado - concentradas sobretudo nas ofertas de trabalho do Pólo Industrial de Manaus e a proximidade com os países vizinhos, que facilita o trânsito nas áreas de fronteira para quem quer entrar no Brasil.
Nem sempre os migrantes conseguem o que esperam do Amazonas. Mas há quem tenha um boa história para contar. É o que garante a professora universitária Rocio Del Carmen. Ela é peruana e chegou ao Amazonas em 1993. Na época, saiu do país de origem com destino ao Brasil apenas com um visto temporário de estudante e muita vontade de mudar de vida. Era graduada em Serviço Social, mas não tinha boas perspectivas de trabalho e de salário. Depois de um mês no Brasil, pediu abrigo na Casa do Estudante da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Foi nessa instituição que a imigrante peruana ficou como aluna-ouvinte do mestrado em Educação, até conseguir uma vaga formalmente no curso cerca de um ano depois.
"Viajei de Lima até Iquitos e depois fui para Santa Rosa, que faz fronteira com o Brasil. Passei um mês em Tabatinga para me adaptar ao idioma. Sempre recebi ajuda de famílias que me acolheram. Vim em busca sobretudo de emprego, mas de início encontrei a oportunidade de estudo", relatou.
Em 1998, Rocio foi beneficiada pela Lei da Anistia Internacional, que lhe permitiu obter o visto permanente. Hoje, já mestre pela Ufam, ela ensina Espanhol em uma faculdade particular de Manaus. Para ela, a vida no Brasil é outra realidade em comparação com o que teria no Peru.
"Cheguei a ter cinco empregos em Manaus, mas sei que é uma sorte que nem todo mundo tem ou que nem todo peruano teve no Brasil".
De acordo com a coordenadora da Pastoral do Migrante no Amazonas, Carolina de França, o exemplo exitoso da história de vida de Rocio não é uma regra. Segundo a coordenadora, por ano, a pastoral atende pelo menos mil e duzentos migrantes em todo tipo de condição, incluindo os que não têm abrigo. Quanto aos refugiados de guerra, informou, os números não são precisos porque muitos deles acabam ficando em cidades do interior de forma clandestina. Em 2007, formalmente pediram ajuda da Pastoral do Migrante 42 refugiados da Colômbia. Este ano, até o mês de outubro, o número já passou para 48.
"Ninguém migra porque quer e sim porque o local onde a pessoa está não está bom, ou seja, pela ausência de políticas públicas e de recursos que lhe permitam se manter na cidade, estado ou país de origem. A pessoa acaba se sentindo forçada a buscar em outro lugar aquilo que sente estar faltando naquele momento", ressaltou Carolina.
Na avaliação do coordenador do Grupo de Estudos Migratórios da Ufam, Sidney da Silva, as migrações internas e internacionais ainda precisam ser melhor compreendidas e estudadas. Para Silva, os brasileiros não levam em consideração as contribuições que podem ser trazidas pelos migrantes e o principal desafio é a quebra de preconceitos.
"É importante conhecer a realidade migratória, quem são os migrantes, que contribuição eles trazem à sociedade manauara. Existem muitos preconceitos e eles ainda são vistos apenas como pessoas que querem roubar o emprego dos nativos. Essa questão dos preconceitos ainda é uma coisa que precisa ser desconstruída".
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que em 2007 Manaus foi a capital do Norte que mais atraiu migrantes. Apesar do aumento do índice de migrantes com alta capacitação profissional fixando moradia em Manaus, há muitos com baixa escolaridade, que acabam aumentando as populações da periferia da cidade.