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22% dos alunos do ensino superior abandonam curso antes da conclusão

Encontro em Macapá discute como diminuir índice de alunos que deixam universidade antes de se formar. Segundo especialistas, falta de preparo pedagógico dos professores é uma das principais causas do problema

postado em 20/11/2008 09:16
O que você vai ser quando crescer? Mesmo depois de crescidinhos, boa parte dos estudantes brasileiros ainda não sabe responder à pergunta. Seja por motivos pessoais, pressão do mercado de trabalho ou devido a problemas das próprias faculdades e universidades, 22% dos alunos do ensino superior abandonam o curso antes da conclusão. As instituições privadas e comunitárias têm as maiores taxas de desitência, mas as públicas (federais, estaduais e municipais), que concentram 27% das matrículas, também registram índices de evasão considerados altos por especialistas ; entre 2005 e 2006, a taxa passou de 11,8% para 12,3%. O abandono dos cursos preocupa a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que promove hoje, em Macapá, um encontro para debater o tema. O combate à evasão e à retenção, que ocorre quando o aluno não conclui a faculdade no tempo estimado, é uma das metas do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), lançado pelo Ministério da Educação (MEC) em abril deste ano. Entre os desafios lançados às instituições que aderiram, está a diplomação de 90% dos estudantes. A tarefa não será fácil, dizem os especialistas. ;Nas instituições públicas, 123 mil alunos que entraram em 2005 não fizeram a matrícula no ano seguinte. É um número preocupante;, avalia o professor Oscar Hipólito, um dos autores do estudo A evasão no ensino superior brasileiro, do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia. Além disso, ressalta, poucos estão chegando, de fato, a colocar as mãos no diploma. Enquanto 323 mil pessoas entraram nas instituições públicas em 2002, apenas 183 mil universitários terminaram seus cursos com êxito quatro anos depois, tempo médio de conclusão de uma graduação. ;A taxa de titulação, portanto, é de 57%. O sistema tem se mostrado pouco eficaz;, conclui. Patinho feio Para o pesquisador, os estabelecimentos de ensino superior não estão conseguindo atender bem os alunos. ;De todas as razões que levam à evasão, essa é a mais forte;, acredita. ;Em geral, as instituições públicas são tidas como ambientes de pesquisadores, elas possuem essa áurea. O aluno de graduação não é o foco dessas instituições, ele é visto como o patinho feio. Por isso, não são escolhidos para as séries iniciais os melhores professores. Não à toa, o primeiro ano é o mais crítico na evasão. Além disso, não há atualização pedagógica;, critica. O físico Nelson Cardoso Amaral, da Universidade Federal de Goiás (UFG), que vai participar do encontro em Macapá, concorda. Ele fez parte da equipe que, entre 1995 e 1996, coordenou um estudo sobre evasão no ensino superior realizado pela Andifes, em parceria com o MEC e com a Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (Abruem). Foram 12 anos de análises minuciosas em todos os estabelecimentos do país. Uma das conclusões, diz Amaral, é que a falta de preparo dos docentes afasta os alunos das carteiras universitárias. ;Um bacharel, um engenheiro ou um médico podem ser ótimos profissionais, mas não possuem formação pedagógica. É preciso focar essa deficiência. Pela falta de saber como ensinar é que ocorrem descompassos muito grandes como os relatados freqüentemente por alunos de cálculo. Eles reclamam sempre que o nível das provas não é o mesmo das aulas;, diz. Para resolver o problema, a UFG adotou um curso de especialização para os professores em estágio probatório. Independentemente da titulação ; podem ser mestres, doutores ou pós-doutores ;, eles precisam aprender a conduzir uma sala de aula. A decepção com os professores foi um dos fatores que contribuíram para o cineasta Antônio Balbino, 30 anos, abandonar o curso de jornalismo da Universidade de Brasília (UnB). ;Eram pessoas que eu acreditava serem referências. Quando os conheci, vi que eram completamente diferentes. Eu pensava: ;Você é isso mesmo?;;, conta. Antônio, que sonhava ser cientista quando cursava o ensino médio, apostou em comunicação social. Um ano e meio de curso foi suficiente para fazê-lo nunca mais pensar em estudar na federal. ;Os alunos eram pseudo-intelectuais, os professores tinham um discurso com o qual eu discordava. Desgostei da UnB;, diz. Oscar Hipólito, pesquisador da Lobo Associados, fala sobre os motivos da evasão no ensino superior:

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