Brasil

Chuvas causam 63 mortes em Santa Catarina

Pelo menos 43 mil pessoas deixaram suas casas. Governo deve editar MP para socorrer estado

postado em 25/11/2008 08:28
As chuvas que castigam Santa Catarina há cerca de 60 dias, e se intensificaram nos últimos dias, deixaram um saldo assustador de 63 mortos e pelo menos 43 mil desabrigados e desalojados no estado. O balanço da Defesa Civil catarinense, no entanto, divulgado às 22h30 de ontem, ainda não contabilizou todo o estrago. Isso porque há dezenas de pessoas soterradas em deslizamentos provocados pela água. Algumas cidades, como Itajaí, com 90% das casas submersas, estão praticamente destruídas. Cento e sessenta mil pessoas ficaram sem energia elétrica. Água potável começa a faltar em municípios inteiros. O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique Silveira (PMDB), classificou o momento com a ;maior tragédia climática; que já afetou o estado. O número de municípios isolados, devido aos deslizamentos de terras que bloqueiam estradas e às enchentes, passou de cinco para oito. Ilhota e Blumenau são os recordistas em mortes, com 15 e 13 vítimas, respectivamente. Quase 300 escolas suspenderam as aulas, sem previsão de retorno. O secretário de Justiça e Cidadania de Santa Catarina, Justiniano Pedroso, destacou que o estado nunca viveu situação semelhante. ;Quanto à chuva, nada podemos fazer, mas estamos atuando com mantimentos, colchões, abrigos;, destacou. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e o secretário nacional da Defesa Civil, Roberto Costa Guimarães, viajassem a Santa Catarina. Vieira Lima aproveitou a reunião ministerial com o presidente para acertar os termos da medida provisória (MP) que vai destinar recursos federais ao socorro das vítimas. ;Nesta fase mais emergencial, estamos dando mais atenção às pessoas, mas já contatei o Planejamento e recebi sinal para levantar o que pode ser liberado para obras de infra-estrutura, como a recuperação de pontes e rodovias;, anunciou o ministro, pouco antes de embarcar da Base Aérea de Brasília para Florianópolis. Hoje, devem chegar ao estado o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Jorge Félix. Lula pediu um minuto de silêncio pelos mortos ao fim de um evento sobre aprendizagem industrial, em Brasília, no início da noite. Ele observou que o país acompanha ;com tristeza; a tragédia. Ontem, o governo do Paraná enviou um grupo de resgate com 139 homens para auxiliar os catarinenses. Rio Grande do Sul e Minas Gerais colocaram helicópteros à disposição. São Paulo anunciou que também ajudará. Lágrimas A situação levou o prefeito de Itajaí, Vonei Morastoni (PT), às lágrimas. Ao sobrevoar a cidade, distante 100km de Florianópolis, viu milhares de moradores ilhados. ;Nunca imaginei passar por isso;, afirmou. A população do município, assim como de outras cidades, está sendo retirada com barcos. Para piorar, os desmoronamentos são freqüentes e colocam em risco as operações de resgate. Em Gaspar, onde 10 pessoas morreram soterradas, uma ambulância do Corpo de Bombeiros foi atingida. Problemas na rede elétrica deixaram pelo menos 160 mil casas sem luz. A maioria dos atingidos está em Blumenau, uma das cidades mais problemáticas. Lá, 20 mil pessoas estão desalojadas e 280 desabrigadas. O prefeito João Paulo Kleinübing (DEM), decretou estado de calamidade pública. A situação de outros municípios próximos ao litoral catarinense, onde a onda de chuvas se intensificou nos últimos dias, é igualmente precária. O deputado federal Décio Lima (PT) se impressionou com o estado das cidades. Ele acompanhou o governador Luiz Henrique da Silveira em uma inspeção e avisou que pedirá, hoje, uma reunião com o presidente Lula. ;Vi uma igreja debaixo d;água;, contou o deputado. Na altura da cidade de Gaspar, as chuvas danificaram um trecho do gasoduto Brasil;Bolívia. O fornecimento foi interrompido entre o município de Guaramirim, em Santa Catarina, e o Rio Grande do Sul. De acordo com a nota da Transportadora Brasileira Gasoduto Brasil-Bolívia, a interrupção se deu por conta de um ;acidente no duto, seguido de fogo e ruído elevado;. Não há registro de vítimas por conta do episódio, mas uma cratera foi aberta no asfalto. Se não houver conserto, só existirá fornecimento de gás no trecho atingido por mais 48 horas. As estradas do estado estão destruídas. Houve 10 quedas de barreiras em rodovias estaduais, de acordo com a Defesa Civil de Santa Catarina. Doze vias estão interditadas. O restante tem funcionamento precário. Nas rodovias federais, cinco trechos foram interditados. O trânsito é precário, com pistas cedidas, pontes alagadas e desmoronamentos laterais. Maria Lúcia Herman, professora do departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), reconhece que a quantidade de chuvas nunca foi tão intensa, mas critica a falta de planejamento no socorro. ;Esse problema não é novidade na nossa região. Pelo contrário, é uma dificuldade histórica. Mas as ações preventivas nunca são colocadas em prática;, destaca. Rodovia bloqueada O mau tempo causa estragos em outros estados das regiões Sul e Sudeste. No Espírito Santo, a queda de uma barreira e de uma árvore no Km 452 da BR-101 interrompeu a comunicação terrestre entre o estado e o Rio de Janeiro. Três municípios capixabas ; Vargem Alta, Baixo Guandu e Iconha ; decretaram emergência. Até o fim da tarde de ontem, havia 213 pessoas desalojadas (abrigados em casas de familiares e amigos) e 22 desabrigadas (sem casa para ficar). Entre as 290 ocorrências atendidas pela Defesa Civil, a maior parte era de casas danificadas, seguidas de deslizamentos e quedas de muros. A região da Grande Vitória registrou dezenas de pontos de alagamento. Os moradores da Região Metropolitana do Rio também sofreram ontem com a força das águas. No fim da manhã, uma forte chuva deixou as ruas cheias. Na rodovia Rio;Santos, o deslizamento de uma encosta obrigou o motorista a trafegar em meia pista, causando engarrafamento. A Defesa Civil permanecia em estado de atenção até a noite. No Paraná, o coordenador da Defesa Civil, tenente-coronel Washington Rosa, destacou que a situação no litoral paranaense, onde 200 pessoas ficaram desabrigadas durante o fim de semana, estava sob controle. Os maiores problemas estavam concentrados na BR-376, onde houve novo deslizamento pela manhã, interrompendo a ligação entre o estado e Santa Catarina. Já em São Paulo, a chuva colocou regiões em estado de atenção. Os bombeiros registraram a queda de parte do telhado de um hipermercado em Jaguaré, um acidente grave envolvendo uma van na pista local da Marginal Pinheiros e queda de granizo na Lapa. Pouco antes das 16h, a capital paulista tinha pelo menos 13 pontos de alagamento e a pista da Marginal Tietê chegou a permanecer intransitável. A cidade teve 124km de engarrafamentos no início da noite.

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