Brasil

Ocupação desordenada é a principal responsável pelos estragos em Santa Catarina

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postado em 30/11/2008 08:50
Sem precedentes na história do país, as chuvas que arrasaram parte de Santa Catarina, deixando ; até o final da tarde de ontem ; 109 mortos e quase 80 mil desabrigados, poderiam ter feito menos estrago. O tipo de solo, a presença de rios, as serras, tudo isso influenciou. Mas é a ocupação desordenada das cidades, impulsionada pela vista grossa de governantes com intenções eleitoreiras e a situação econômica desfavorável da população, o fator central nessa tragédia ; e o único que poderia ter evitado mortes. Estudo feito como tese de doutorado pelo pesquisador Ricardo Ojima, da Universidade de Campinas (Unicamp), mostra cinco regiões catarinenses ; centralizadas pelas cidades de Blumenau, Joinville, Itajaí, Florianópolis e Criciúma ; entre as 12 no Brasil com maior índice de ;urbanização dispersa;. O conceito de urbanização dispersa tem sido estudado em todo mundo e diz respeito à ocupação do solo de forma horizontalizada, com baixa densidade populacional (ou seja, pouca gente por metro quadrado) e fragmentação espacial ; ao contrário da forma urbana compacta e verticalizada. Quanto aos riscos da dispersão, há uma maior impermeabilização do solo, grande exposição da população a áreas de risco ambiental, custo mais elevado para investimentos em saúde e educação, entre outros fatores. ;O impacto, de um modo geral, é maior quando a urbanização é dispersa;, resume o sociólogo e demógrafo Ojima, pesquisador do Núcleo de Estudos de População da Unicamp e autor do estudo. Ojima analisou 37 aglomerações urbanas (todas formadas por pelo menos três municípios). Cada uma dessas aglomerações é representada, no estudo, pela cidade principal. O total da área analisada pelo pesquisador corresponde a um terço de toda a extensão urbana brasileira. No ranking de urbanização dispersa, com base em variados indicadores demográficos, a primeira aglomeração listada foi, justamente, a hoje arrasada Blumenau. Em terceiro lugar aparece Joinville, Itajaí fica em sexto, Florianópolis na 10ª colocação e, em seguida, na 11ª, Criciúma. Todas essa cidades, com exceção de Criciúma, estão entre as mais castigadas pelas chuvas e constam da relação dos municípios onde houve mortes. Quase 100% delas por soterramento. ;Isso mostra que a ocupação nas encostas dos morros foi, nesse caso, o grande problema. Poucos óbitos ocorreram por afogamento;, afirma Luis Fernando Sales, pesquisador do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). ;Quem tem dinheiro para construir no alto com tecnologia e produtos mais seguros não sofreu tanto. Mas não é o que ocorre com a população mais pobre.; Temporais não são novidade para os catarinenses. Em 1983 e 1984, fortes chuvas deixaram 51 mortos e 359 mil desabrigados. ;A população se acostumou a conviver com as cheias dos rios e procurou se afastar dos leitos, indo para as encostas;, afirma o major Emerson Neri, gerente da Defesa Civil de Santa Catarina. O que parecia a salvação, no caso recente, foi o problema. ;Os grãos do nosso solo, do tipo argiloso, retêm água. A água acumulada faz com que o solo perca densidade e resistência. Estando em posição inclinada, ele desliza;, explica Sales. ;Mas mudar as chuvas, modificar a estrutura dos solos, são coisas que o homem ainda não pode fazer. Controlar a ocupação desordenada, sim, é possível.;

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