postado em 01/12/2008 09:17
Um novo deslizamento de terra no Braço do Joaquim, em Luiz Alves, no Vale do Itajaí, por volta das 18h de ontem, matou uma senhora de aproximadamente 70 anos e uma criança, elevando o número de vítimas das chuvas em Santa Catarina para 114. Seis pessoas ; incluindo dois bombeiros da Força Nacional que ajudavam no resgate de atingidos na localidade ; foram soterradas, mas retiradas com vida. As vítimas foram encaminhadas aos hospitais de Luís Alves e Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí. Até o fechamento desta edição, o estado dos bombeiros era considerado grave.
Há 19 desaparecidos confirmados no estado, além de 27.410 desabrigados e 51.297 desalojados. Além da instabilidade das encostas, que tem dificultado o resgate, a chegada de uma nova frente fria preocupa os moradores do estado. A previsão é de chuva forte hoje na região do Vale do Itajaí. Na terça-feira, é possível que chova granizo.
Lixo e doenças
O lixo vem se acumulando nas ruas dos municípios catarinenses atingidos pelas chuvas e não há meios suficientes para recolhê-lo. A estimativa em Itajaí, por exemplo, é de que no município a enchente tenha gerado 100 mil metros cúbicos de entulho, o que encheria 10 mil caminhões. Por falta de funcionários, porque muitos foram vítimas das chuvas, até ontem só estavam operando três dos 20 caminhões da prefeitura e da concessionária de limpeza. Mesmo se estivessem trabalhando a todo vapor, faltam locais para destinar a montanha de sujeira. Sem alternativa, moradores começam a queimar o que perderam. O temor é o surgimento de doenças. Em Blumenau, apareceram ontem as primeiras suspeitas de leptospirose: 10 pessoas teriam sido contaminadas.
Não há prazo para recolher o material que os moradores estão jogando na frente de suas casas. Por causa da enchente, uma das células do aterro sanitário em Itajaí, que recolhe o lixo orgânico, teve seu acesso dificultado. E a outra, onde os caminhões ainda chegam, já está com sua capacidade esgotada. Existem três terrenos para receber o entulho, dois que recebem o material recolhido das ruas e um que foi adaptado para servir de destinação final dos escombros. A prefeitura de Itajaí, o município mais afetado pela cheia do Rio Itajaí-Açu, vai autorizar que a usina de asfalto, as olarias e fábricas de cerâmicas, que precisam de madeira para aquecer os fornos, recolham o entulho desse último local, no Bairro de Itaipava.
O motorista Luiz Cesar Meriz, 38 anos, e Eleni Mello, 40, passaram o domingo tentando se desfazer do que foi destruído. Contavam com a ajuda dos filhos Luiz Henrique, 9, e Luiz Vinicius, 6, além dos primos deles, Luana, 9, e João, 3. Eles levavam as roupas e os móveis destruídos para o quintal, e as crianças, para a pilha de lixo. ;Não podemos deixar acumular nem ficar muito tempo ao ar livre, porque tem muitos ratos, há o risco de doenças;, justificou Eleni. No sábado, o caminhão de lixo foi até uma ponte que dá acesso ao seu bairro, mas recuou por temer pela fragilidade da estrutura.
Na casa dela, a água subiu até a uma altura de 3m. O imóvel já tem uma elevação de 1m, que foi capaz de evitar a enchente de 1983. Tanto que, desta vez, eles achavam que a cheia viria, mas os móveis se salvariam. Tiveram de pedir ajuda de um vizinho para resgatá-los. ;Lá é meu jogo de quarto, as roupas das crianças, aqui é o colchão, a estante, o jogo de sala. Os quartos estão queimando;, consolava-se Eleni, apontando para a fogueira.
O recolhimento de lixo costumava ocorrer três vezes por semana, mas ela não espera que o serviço se normalize na semana que vem. ;O que mais desespera é ver queimando as coisas que a gente comprou negando um agrado para as crianças num dia, uma jantar melhor no outro.;
Urubus
Na zona rural, urubus perambulam nas propriedades. Sinal de que há animais apodrecendo nos pastos. E eles são muitos. Na fazenda de Manoel Pereira, 650 cabeças de gado morreram afogadas ; só restaram vivas cerca de 20. Elas estavam dispersas pelo pasto. O proprietário contava com duas retroescavadeiras enormes, que faziam as valas e enterravam os animais, que já se encontravam em estado de decomposição. Só ontem foram enterradas as últimas cabeças.
Segundo o superintendente da Fundação de Meio Ambiente de Itajaí, Fabricio Estevo da Silva, a prioridade inicial era salvar vidas, mas agora já se iniciou a fase de salvar a saúde das pessoas. ;Precisamos evitar uma endemia. Os solos estão encharcados, os animais estão em estado avançado de putrefação, o risco de contaminar o lençol freático existe.;