postado em 11/12/2008 20:54
Sob o risco de serem obrigados a deixar suas atuais propriedades rurais nos limites da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, caso o Supremo Tribunal Federal confirme decisão pela constitucionalidade da demarcação em faixa contínua, os produtores de arroz de Roraima informam já ter recebido propostas, informais, de companheiros da Venezuela e da Guiana para que cruzem as fronteiras com seus equipamentos. Pesaria a favor da eventual mudança, custos de produção bastante inferiores aos nacionais.
;Empresários ligados ao ramo nos convidam dizendo que têm área disponível. A produção de alimentos na Venezuela é praticamente isenta de todos os impostos. Combustível é praticamente de graça, o fertilizante é subsidiado e os tratores são mais baratos;, afirmou o presidente da Associação dos Arrozeiros de Roraima, Nelson Itikawa.
Itikawa ressaltou, entretanto, que, pessoalmente, ao menos por enquanto, não tem interesse em deixar o Brasil: ;Nasci aqui. Meus filhos e netos são brasileiros. Por ora está descartada para mim a possibilidade. Assim como estão excluídas da demarcação as sedes dos municípios de Normandia e Uiramutã, nossas fazendas também podem ficar de fora. O julgamento [no STF] ainda não acabou;.
O produtor Luiz Afonso Faccio se mostra mais suscetível aos convites. Ele diz sentir-se ;tratado como bandido; pelo governo federal. ;Querem nos expulsar de propriedades depois de 30 anos de trabalho. Estamos estudando [a mudança de país], enquanto aguardamos que o STF tenha um entendimento verdadeiro sobre a realidade do estado;.
A resistência dos rizicultores em aceitar a desapropriação é motivada por três alegações. Eles sustentam que as áreas onde estão as fazendas nunca foram indígenas. Dizem ainda que o valor das indenizações propostas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) é baixo e que não há em Roraima outras áreas compatíveis com a cultura. Uma transferência para terras ao sul do estado não seduz os produtores. ;São regiões alagadiças, de mata virgem, sem condição de produzir;, criticou Faccio.
Uma eventual saída dos arrozeiros de Roraima seria bastante lamentada pelo governo estadual. A atividade é responsável por cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado, gera mil empregos diretos e seis mil indiretos. Os números são do próprio governo e da associação dos produtores.
Ainda esperançosos em uma reviravolta no julgamento do STF, que lhes permita ficar nas fazendas, os arrozeiros de Roraima prometem safra recorde superior a três milhões de sacas. Nas sedes de suas empresas, no Distrito Industrial de Boa Vista, caminhões são carregados em ritmo intenso.