postado em 02/01/2009 20:35
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) prepara uma jornada de marchas e invasões em todo o País para comemorar os 25 anos de existência, este mês. Foi em janeiro de 1984 que o MST definiu a bandeira de luta pela terra e pela reforma agrária em Cascavel (PR). Em nota divulgada pela coordenação nacional, o movimento convoca os militantes para a ação. "Não haverá maneira e lugar melhores para comemorarmos nossos 25 anos do que com lutas nas ruas e ocupações de latifúndios", diz o comunicado.
As coordenações estaduais do movimento terão autonomia para definir as formas de mobilização. As datas não são anunciadas para evitar uma possível repressão. O objetivo é repor a questão agrária em pauta na sociedade, uma vez que, de acordo com a coordenação nacional, o governo abandonou a reforma agrária. "Mais do que nunca, temos a convicção de que a única reforma agrária possível é aquela feita pelo povo", diz o texto.
O MST considera que a crise econômica internacional expôs a "fragilidade" do projeto neoliberal e favorece a luta do grupo. "Este momento de fragilidade, se transformado em bandeiras de luta e mobilizações de massa, poderá ser uma oportunidade histórica para a classe trabalhadora."
O integrante da coordenação nacional José Roberto Silva considera que, nos últimos seis anos, a reforma agrária parou. Embora a administração federal divulgue ter assentado 448 mil famílias, apenas 150 mil foram efetivamente instaladas, segundo Silva. "Há uma grande propaganda sobre a quantidade de assentamentos, mas o que o governo tem feito é o mesmo processo que outros governos fizeram, maquiando números."
Em 2008, conforme ele, não foram atingidos 10% da meta estabelecida pelo Poder Executivo. "Temos mais de 100 mil famílias acampadas, infelizmente, muitas estão há mais de dez anos debaixo da lona." Para Silva, o Executivo tenta desmobilizar os acampados em troca de política compensatórias, como o Bolsa Família, mas, mesmo assim, eles continuam alojados em acampamentos e pressionando para que sejam assentados. "O MST tem evitado que várias pessoas deixem a vida no campo para irem para as grandes cidades, para as favelas." O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou que os números referentes a assentamentos em 2008 ainda não estão disponíveis.
Crise
A crise econômica é um "estímulo" para a luta de classes, de acordo com o principal líder do MST, João Pedro Stédile. Em artigo divulgado pelo movimento, Stédile afirma que a crise na economia expõe as contradições do capitalismo e cria brechas para a luta. "Abre as possibilidades para sairmos da pasmaceira em que estamos: descenso das massas e hegemonia total das classes dominantes." Segundo ele, a crise que atinge também o agronegócio criará um novo cenário para os movimentos sociais. "Estamos diante de uma perspectiva boa, vai mexer, e, quando isso acontece, é hora de entrar em campo." Para Stédile, o próximo período poderá abrir um cenário inédito para a esquerda apontar as falhas do sistema capitalista. "Mais do que nunca, temos de recuperar métodos de agitação e propaganda e chegar com essa explicação da crise para o povo."