postado em 20/01/2009 08:31
São Paulo ; Moradores vizinhos da Igreja Renascer em Cristo, no Bairro de Cambuci, Zona Sul de São Paulo, disseram ontem aos peritos da Prefeitura de São Paulo e ao Corpo de Bombeiros ; responsáveis pela vistoria nos escombros do templo que desabou no domingo ; que a tragédia havia sido anunciada. Segundo a dona-de-casa Roberta Paixão, 56 anos, ela foi pessoalmente alertar que uma rachadura externa aumentava a cada semana. ;Todos nós já tínhamos avisado à direção da igreja dos riscos de desabamento;, garante a senhora. O saldo da tragédia ; até o fechamento desta edição ; era de 9 mortos e 117 feridos, três dos quais em estado gravíssimo. Um resultado parcial da perícia feita no local sugere que o teto desabou porque as paredes não tinham sustentação adequada para suportar o peso.
Segundo testemunhas, havia uma quantidade muito grande de equipamentos de som, como caixas acústicas, e aparelhos de ar-condicionado apoiados no teto. A Polícia Civil vai abrir um inquérito para apontar possíveis culpados. Segundo o diretor regional do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-SP), Emílio Carlos Pelegrini, o templo passou por obras de reformas recentemente e os fiscais estão tentando localizar um documento chamado ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), que aponta os profissionais envolvidos na obra. Se esse documento não for encontrado em 10 dias, isso significaria que foram feitas alterações na estrutura sem consentimento do órgão encarregado de liberar construções e reformas.
;Os dirigentes da igreja tratavam a gente muito mal todas as vezes que íamos reclamar. Alguns fiéis chegaram a agir com grosseria porque somos católicas;, ressalta a aposentada Elvira Passos, 55, vizinha do templo. Segundo nota divulgada pela Renascer, a igreja possui um alvará emitido pela Secretaria Municipal de Habitação em 15 de julho de 2008. O documento revalida o alvará de funcionamento do local, expedido em 20 de dezembro de 2000. Com isso, a igreja conclui que a documentação do imóvel está legalizada. ;A Renascer em Cristo sabe da responsabilidade e da importância da manutenção dos locais de culto, onde se reúnem milhares de fiéis, entre eles, idosos e crianças. A manutenção preventiva, inclusive, sempre foi uma preocupação constante. Não se sabe o que ocorreu. Apenas uma investigação séria e rigorosa poderá fornecer essa resposta;, ressalta a nota.
Pânico
Os sobreviventes da tragédia contaram que viveram momentos de terror quando o teto começou a desabar. O cabeleireiro Hermindo Assis Gonçalves, 28 anos, afirmou que chegou 15 minutos adiantados para o culto das 19h e que entrou no templo para procurar um amigo. Quando ainda estava na parte de trás, próximo à porta, viu perfeitamente o teto desabando. ;A estrutura não caiu de uma só vez. Começou a desabar sobre o altar e seguiu para a rua. O barulho parecia de um terremoto. Deu tempo de correr e me salvar. Muita gente ficou ferida porque, ao correr, foram pisoteadas e as cadeiras (que são emendadas umas nas outras) atrapalharam a saída;, disse.
A dona-de-casa Regina Santero, 55 anos, conseguiu escapar apenas com uma lesão no braço esquerdo. Ontem, ela voltou ao local da tragédia para ver com os próprios olhos do que havia escapado. ;Eu nasci de novo. Cheguei às 18h30 para o culto das 19h. Fui até o altar, deixei um ramalhete de flores e saí para fazer um lanche aqui fora. Quando faltavam seis passos para sair da igreja, o teto desabou.
À tarde, seis vítimas foram enterradas. O enterro da adolescente Gabriela Lacerda, 14 anos, atraiu parentes e amigos da escola. A garota havia sido levada pela primeira vez à igreja e, segundo uma tia, ela nem queria ir porque pensava em brincar com amigos num parque perto de casa, no Bairro da Aclimação. Já a aposentada Dalva Oliveira, 71, morreu sobre os escombros porque não conseguiu escapar. Ela também tinha ido pela primeira vez à igreja. Segundo seu filho, Antônio Amparo, 45, ele soube da morte pela televisão.
Ontem, ele foi ao local da tragédia. Disse que, como engenheiro civil, pode atestar que havia problemas nas vigas que estavam expostas nos escombros. A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros resolveram interditar à tarde seis casas que ficam ao redor dos escombros por causa de risco de desabamento. Pelo menos 14 pessoas tiveram que se mudar temporariamente para casas de parentes. Duas lojas de artigos para presentes tiveram que ficar fechadas hoje porque estão coladas a uma das paredes da igreja que conseguiram ficar de pé. ;A perícia vai ver quando libera essas casas;, disse o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM).