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Operário confirma sobrepeso no teto da Igreja Renascer

Testemunha que trabalhou na reforma do telhado e virou fiel da Igreja Renascer disse ontem à polícia que as vigas do teto do templo receberam equipamentos de som e de ar-condicionado sem análise técnica

postado em 22/01/2009 08:45
São Paulo ; Uma testemunha que não teve o nome revelado pela Polícia de São Paulo disse ontem no inquérito que apura as causas do desabamento na Igreja Renascer em Cristo que o teto estava sobrecarregado com pesos extras desde novembro do ano passado. A testemunha teria trabalhado na reforma do telhado e passou a frequentar o templo como fiel desde dezembro. O depoimento é considerado de grande relevância pelos investigadores. Segundo essa testemunha, uma empresa de ar-condicionado teria instalado mais de 10 aparelhos nas vigas de sustentação do teto, o que não era possível sem a avaliação de um engenheiro. Outros equipamentos que a direção da igreja teria instalado por contra própria seriam 12 caixas de som, equipamento que costuma pesar mais de 20 quilos cada peça, dependendo da potência. Segundo disse à polícia o engenheiro Carlos Alberto Freire de Andrade Lopes, que assinou a reforma do telhado do templo, a direção da igreja não tinha permissão para instalar qualquer equipamento que sobrecarregasse as vigas de sustentação do teto, formadas de madeira e ferro. Ele negou que a parte de madeira estivesse comprometida por cupins, já que esse tipo de inseto leva pelo menos dois anos para corromper o tipo de madeira usada na igreja. O engenheiro disse que nunca mais foi à igreja depois da obra, o que não permitiria afirmar se havia sobrecarga no teto. Lopes afirmou também que a empresa contratada para substituir o telhado foi chamada porque havia goteiras. Outras duas empresas foram chamadas, mas a Etersul Coberturas e Reformas Ltda. ofereceu um orçamento mais barato. Segundo o engenheiro, foram trocadas 1,6 mil telhas e cada uma delas pesa 18kg. Lopes afirmou que essa troca foi realizada sem qualquer projeto de engenharia. A direção da Renascer disse que só a perícia vai comprovar se os equipamentos foram a causa do desabamento. Ontem, apesar do risco de desabamento, três engenheiros do Conselho Regional de Arquitetura e Engenharia (Crea-SP) estiveram nos escombros para fotografar e fazer uma análise do material que está no chão. Os técnicos ficaram preocupados porque a partir de hoje uma empresa contratada pela própria igreja fará a demolição de parte da estrutura que ficou em pé e esse trabalho poderia comprometer o resultado final da perícia. ;Os equipamentos de ar-condicionado e de som, por exemplo, não estão mais nos escombros;, disse o engenheiro do Crea, Durval Santiago. Demolição À tarde, a direção da Renascer entregou ao Ministério Público de São Paulo um plano de demolição do templo que desabou no domingo matando 9 pessoas e ferindo outras 117. Uma equipe de técnicos do MP ficou de analisar ainda ontem se aprovaria ou não os trabalhos para que a empresa contratada começasse a demolição ainda hoje. O maior temor era de que as provas que apontassem as causas do desabamento fossem ocultadas pela igreja. ;Não há esse risco porque o laudo oficial será feito pelo Instituto de Criminalística, que já visitou os escombros três vezes;, disse o delegado Dejar Gomes Neto, titular da 1; Seccional de São Paulo. O plano de demolição do que restou da Renascer foi uma exigência do MP, porque há seis imóveis interditados por conta do risco de desabamento das paredes que ficaram em pé. Uma das casas, localizada nos fundos do templo, apresentou novas rachaduras na terça-feira. Uma loja de artigos de presentes está tendo prejuízos porque está fechada. ;Esse comércio é a sustentação da minha família. Cada dia que fico fechado tenho prejuízo de R$ 900;, diz a comerciante Edith Bastos Góes. Igreja pede doações para obra A Renascer em Cristo está pedindo doações aos seus fiéis para a reconstrução do templo do Bairro do Cambuci, sede mundial da igreja, em São Paulo. O teto do prédio desabou no domingo provocando a morte de nove pessoas e deixando 117 feridas. No site da igreja (www.igospel.com.br), abaixo do comunicado oficial em que se diz consternada com o acidente, a igreja publicou o número de uma conta do banco Bradesco em que pede doações para a reconstrução do templo destruído. A Renascer também colocou dois telefones à disposição dos interessados. As atendentes orientam as pessoas que ligam a depositar a quantia desejada no número da conta corrente publicada. No comunicado oficial, a igreja Renascer informa que ;toda e qualquer informação que diga respeito a causas ou eventuais problemas no prédio, até o momento, são mera especulação;. A Renascer pede para que sejam ;evitadas informações erradas, na busca, compreensível, de desvendar o que ocorreu. As investigações darão essa resposta, chegarão à conclusão. No entanto, não nos parece nem ao menos razoável usar esse momento tão grave para incentivar o preconceito religioso ou associar a acusações que nada têm a ver com tão lastimável acidente;. ;Em dia; A igreja alega que está aguardando o término do trabalho do Corpo de Bombeiros, polícia técnica e demais autoridades, garantindo que a documentação entregue à prefeitura sobre o imóvel está ;perfeitamente em dia e de acordo;. A Renascer diz que criou uma central de plantão com informações de atendimento e encaminhamento das vítimas. O telefone da central é o mesmo colocado no anúncio que pede as doações para a reconstrução do templo. Questionada sobre onde passariam a ser realizados os cultos que aconteciam no templo do Cambuci, a assessoria da Renascer informou que não haverá transferência de local e que os fiéis estão sendo orientados a procurar outras unidades da igreja na capital paulista.

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