postado em 14/02/2009 16:37
São Paulo - Estelionatários encontram nas festas de casamento um espaço fácil para fazer vítimas. As fraudes vão desde a produção do convite até a escolha do espaço para a festa A Polícia Civil de São Paulo investiga pelo menos 30 casos em que noivas caíram no chamado golpe do véu. Elas pagaram por serviço de buffet em área nobre paulistana, com direito a DJ, jantar e decoração. Semanas antes, encontraram o local lacrado e nunca mais viram o dinheiro. Nesses casos, o prejuízo somado ultrapassa o valor de R$ 300 mil.
As histórias recentes de casamentos que ganharam um capítulo no 96º Distrito Policial (Brooklin) tiveram como antagonista o buffet Delphos, em Moema, zona sul, fechado desde novembro por falta de licença de funcionamento e também por infringir as normas de silêncio. Os proprietários não comunicaram os contratantes nem devolveram os valores cobrados. As festas foram canceladas às pressas.
Depois de encomendar e entregar os convites estilizados, com direito a caricatura colorida, a psicóloga Érica Rubio, de 32 anos, soube do fechamento do espaço, 41 dias antes da festa. "Foi horrível. Meu pai disse: ;senta aí, preciso contar que o seu sonho acabou;." Érica redistribuiu os convites para os cem convidados e ainda ligou para confirmar o novo endereço da festa Nas ligações, sempre se emocionava, quando perguntavam o motivo da troca.
"Eu só não desisti da festa porque já tinha entregado os convites, minha família estava com roupa comprada e os parentes do Daniel (o noivo) estavam vindo de Minas." Érica pagou R$ 14 mil pelo buffet. "Paguei à vista e tive um bom desconto", diz. "As vantagens que atraem as noivas são, no entanto, o primeiro sinal do golpe do véu", conta a assessora de casamentos Márcia Possik, da Agência Marriages. "A noiva quando procura o serviço esquece que o barato sai caro. Sempre é preciso desconfiar, a história mostra que os golpes são assim."
A assistente de Marketing Patrícia Yamanaka, de 30 anos, teve prejuízo de R$ 15 mil. Quando soube da notícia, se desesperou. "Conversando com meu noivo, a nossa fotógrafa comentou do fechamento do buffet. Eu não queria acreditar, foi muito duro", disse. "Dei cheques pré-datados que foram parar nas mãos de agiotas e pessoas que não tinham nada a ver com o buffet " Patrícia, que vai casar em maio, resolveu alugar uma chácara em Guarulhos. Ela pagou apenas o valor da reserva, até para evitar imprevistos.
Falência - A transformação do conto de fadas sonhado por Patrícia em história de terror pode ser ainda mais frequente agora em tempos de crise, como alerta Marcia Christina Oliveira, assessora técnica do Procon. Além da falta de alvará, a falência pode ser outro motivo para o fechamento. Por isso, é indicado escolher locais que tenham longevidade no mercado e muitas festas agendadas.
Vestido comprado, banda e filmagem contratadas e a enfermeira Alessandra Destra, de 29 anos, não conseguiu fechar negócio com o novo buffet para o casamento, marcado para novembro. "Os lugares que eu queria estão ocupados", lamentou. Os 250 convidados vão ter de contar com uma festa num espaço mais simples. "Eu vou fazer o que eu puder. Gastei muito dinheiro que não será devolvido."
Maria Inês Dolci, da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), lembra que muitas vezes o que é visto como golpe está anunciado em letras miúdas nas cláusulas dos contratos, que passam despercebidos pelos noivos. Apesar do trauma, a união da professora Marjory Abuleac, de 40 anos, e seu marido terminou com final feliz.
Ela foi avisada do fechamento do buffet uma semana antes do casamento, em dezembro. "Fomos avisados do lacre por uma organizadora do nosso evento, que passou na porta e viu. Foi a semana mais traumática das nossas vidas, mas depois conseguimos casar e realizar nosso sonho." Agora, Marjory espera recuperar os R$ 26,5 mil investidos.
Em nota, o advogado do buffet Delphos, Getúlio de Carvalho, informou que a lacração do estabelecimento causou prejuízos incalculáveis à empresa e principalmente a seus clientes, que sofreram o "desgosto e decepção de não ver a sua festa realizada".
A nota diz ainda que os clientes serão ressarcidos e as pessoas que sofreram prejuízos e precisaram fazer suas festas em outros locais devem apresentar seus custos para o ressarcimento.