postado em 17/02/2009 08:39
A pediatra Anna Tereza Miranda acompanhou de janeiro a março de 2005 a rotina de dois grandes hospitais de emergência do Rio. Com outros pesquisadores, entrevistou 524 acompanhantes de crianças menores de 12 anos que esperavam atendimento e registrou alto grau de subnotificações. A maioria das mães admitiram os casos de agressão, mas as notificações não chegaram a 1%. ;Os números poderiam estar em qualquer hospital. Imaginamos que seja daí para pior;, diz Anna, observando que os centros médicos tinham equipes referenciadas para agir nessa área.
Cerca de 94,8% das mães relataram agressão psicológica: xingar de burro ou dizer que vai expulsar de casa. Mais da metade (52,3%) reconheceu negligência, ou seja, dentro de suas possibilidades financeiras não conseguiu prover a criança com cuidados médicos e alimentação adequada. Um em cada três (38,7%) admitiu usar de beliscões, tapas ou agressões com objetos. Mas as notificações, analisadas em fichas preenchidas por funcionários dos hospitais, foram de 0,007% para agressão psicológica, 0,242% (negligência) e 0,034% (agressão física).
Na conclusão do trabalho, Anna recomenda a revisão das estratégias e uma melhor organização dos serviços. ;Ao evidenciar um descompasso entre as respostas e os casos encaminhados pelas equipes de emergência, ressalta-se a importância da capacitação dos profissionais. Suspeitar e detectar ;sinais de alerta; nos serviços de emergência significa dar conta de uma clientela que frequentemente não possui acesso a outros recursos da rede de saúde;, acrescenta.