Brasil

Galo arrasta 1,6 milhão de foliões pelas ruas de Recife

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postado em 22/02/2009 09:50
Recife ; Foi um desfile cheio de estreias. A primeira vez do pequeno folião brincando nos braços da mãe. Dos paraenses da Banda Calypso e dos pernambucanos da Nação Zumbi comandando um trio elétrico na apoteose da Avenida Guararapes. O primeiro e emocionante desfile do Galo da Madrugada sem a presença de Enéas Freire. O fundador e presidente emérito do bloco, que morreu em junho do ano passado, foi o homenageado deste ano. Com o tema Enéas: Alegria do Carnaval, o clube de máscaras percorreu as ruas de Recife pela 32ª vez no sábado de Zé Pereira, arrastando, segundo estimativas da diretoria, 1,6 milhão de foliões. Depois do tradicional café da manhã para convidados no Forte das Cinco Pontas, a queima de fogos, que durou quase 10 minutos, às 9h, foi o sinal para o cortejo do maior bloco carnavalesco do mundo avançar sobre os bairros de São José e Santo Antônio. A diretoria pediu e os foliões atenderam. Durante todo o percurso de aproximadamente 5km, pernambucanos e visitantes colocaram máscaras e vestiram as fantasias para colorir a festa. Outro pedido, sempre feito pelo próprio Enéas, foi o de manter o frevo presente em todo o desfile. Um pedido aceito de bom grado pelo folião anônimo e pelas celebridades, por quem estava fervendo no calor do asfalto, nas arquibancadas, nos camarotes, em cima dos trios. Outros ritmos pernambucanos, como o maracatu e a ciranda, também marcaram presença na festa do Galo, que contou ainda com pequenos convidados especiais. Cerca de 50 crianças desfilaram em um trenzinho próximo à alegoria do símbolo do bloco, que na última sexta-feira se tornou Patrimônio Cultura Imaterial de Pernambuco. Justa homenagem ao Galo e a Enéas. Fantasias O presidente Lula e dona Marisa estavam no Galo. Na verdade, o casal Osvaldo Costa e Enilda Magalhães, que há sete anos se vestem de Lula e Marisa. Desta vez a fantasia foi inspirada na crise. E ganhou o nome Crise, que crise? É só uma marolinha! Alegres, entraram na fantasia e diziam ter vindo direto de Fernando de Noronha para dançar ao som do frevo e acompanhar a presidenciável Dilma Roussef. Natural de Nazaré da Mata, o gerente de marketing Ronaldo Farias, 54 anos, mora em Brasília. Mas, seguindo uma tradição de 25 anos, foi se divertir no Galo. Desta vez fantasiado de caboclo de lança, um sonho de criança. ;Sempre achei as cores das roupas dos caboclinhos lindas;, disse. Já sua filha, Mariana, estreante no bloco, fez uma evocação a Pernambuco. Além de vestir as cores da bandeira, pintou no rosto o amor à terra natal. São Jorge serviu de inspiração para um grupo de 35 foliões que participa há 10 anos do desfile do maior bloco carnavalesco do mundo. A escolha da fantasia foi explicada. Enfrentar o Galo é coisa para guerreiro, disseram todos. Os pequenos Graciliano, 5 anos, e Ludovico, 7, mais novos do grupo, concordaram com a justificativa. Flaviano Mendes, 36 anos, cansou de chamar os amigos para se juntar ao bloco que fundou. Todo ano era a mesma história: seis ;gatos pingados;. Assim, decidiu brincar sozinho e foi ao Galo da Madrugada vestido de gato pingado, considerado o menor bloco do mundo. ;Um gato animado faz o carnaval e a fantasia termina agregando mais gente para junto de mim;, explicou. As dengosas e os exterminadores de mosquitos também deram o ar da graça no Galo para deixar um recado: com dengue não se brinca. ;Queremos brincar um carnaval politicamente correto;, disse Fernando Campos, que é médico. Um homem-bomba, repleto de explosivos, também passou pela concentração do Galo. Em missão, ele disse que abriu mão do serviço para explodir a multidão. ;Quando vi que era o Galo, desisti e vim brincar;, divertiu-se. Solidariedade nas ruas Nem a luxúria da pouca roupa nem o brilho das plumas e dos paetês. Como se não bastasse o jeito quermesse de ser do carnaval de Recife e Olinda, onde as pessoas brincam em clima de confraternização no meio das ruas, a maior festa popular de Pernambuco vem registrando uma tendência que pode passar despercebida aos olhos da grande folia pagã, mas que cresce a cada ano: os blocos solidários. As agremiações carnavalescas surgem em hospitais, hospícios, escolas, ONGs e até em repartições públicas. E usam o período momesco para campanhas que tanto podem ser contra a violência ou para ajudar crianças internadas em hospitais públicos, como para assistir mulheres em situação de risco. Há blocos só para portadores de deficiência física e até os que pretendem dar um pouco de alegria àqueles que vivem tristemente, internos em unidades psiquiátricas. Na última quinta, a ONG Doutores da Alegria ganhou as ruas do bairro do Recife Antigo com o Miolo Mole, depois de ter levado o bloco ;mais bobinho do mundo; ; o Miolinho Mole ; aos hospitais públicos da capitalo. Recife é a única cidade do país onde os Doutores da Alegria têm agremiação carnavalesca que, nas ruas, tenta sensibilizar a população para a importância da humanização dos hospitais.

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