postado em 10/03/2009 08:00
A série de protestos contra o agronegócio desencadeada ontem em oito estados pela Via Campesina ; entidade que coordena os movimentos pró-reforma agrária ; foi o ato inaugural de uma nova aliança polÃtica formada entre o movimento camponês e organizações ambientalistas. Com a participação da ex-ministra do Meio Ambiente, senadora Marina Silva(PT-AC), representantes da Central Única dos Trabalhadores(CUT), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS), será lançada formalmente hoje no Senado a Aliança Camponesa Ambientalista em Defesa da Reforma Agrária e do Meio Ambiente.
Aproveitando as comemorações do Dia Internacional da Mulher, as militantes da Via Campesina invadiram ontem fazendas no Rio Grande do Sul, exportadoras de celulose no EspÃrito Santo, usinas de álcool e açúcar na Zona da Mata de Pernambuco, prédios públicos no Paraná e até a sede do ministério da Agricultura, em BrasÃlia. Logo cedo, um grupo com quase 100 mulheres com os rostos parcialmente cobertos por pedaços de pano ocupou a entrada do prédio na Esplanada dos Ministérios. A manifestação provocou um pequeno tumulto antes das 7h30 da manhã, quando a maioria dos servidores ainda não havia chegado para trabalhar.
Dois vidros das portas de entrada foram quebrados. Um segurança sofreu pequenas escoriações. Logo após distribuir o manifesto, as manifestantes deixaram o local. Ninguém foi preso ou detido. Para evitar acidentes, os elevadores do prédio foram desligados. Agentes da PolÃcia Federal vistoriaram o local e, segundo a Via Campesina, constataram que o clima era de tranquilidade. Essa também foi a avaliação do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. ;O movimento chegou, mostrou suas reivindicações e não interrompeu as atividades do ministério;, avaliou Stephanes.
Manifesto
Hoje, a Via Campesina estará no ato no Senado e vai compor a coordenação nacional da aliança com os movimentos ambientalistas. No manifesto distribuÃdo ontem, a entidade denunciou que, somente em dezembro, as empresas ligadas ao agronegócio demitiram 134 mil pessoas no paÃs. Foi o segundo setor que mais dispensou funcionários desde setembro, quando eclodiu a crise econômica internacional. Segundo a coordenação do movimento, no ano passado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinou financiamentos para os setores da mineração, agropecuária, celulose e papel que chegam a R$ 17 bilhões.
A aliança camponesa-ambientalista denunciou em manifesto que existem cerca de 130 mil famÃlias acampadas à espera de um lote de terra para produzir. ;Exportar somente matéria-prima não desenvolve o paÃs, nem distribui renda;, protesta Itelvina Masioli, coordenadora da Via Campesina. O ministro da Agricultura, Reinholds Sephanes, minimizou a importância do protesto e disse que as reivindicações da Via Campesina estão fora de foco. ;Há uma diferença de conceito, mas a agricultura familiar também faz parte do agronegócio;, lembrou o ministro. Sobre as crÃticas ao modelo de exportação do paÃs, Stephanes disse que o assunto ;não está em pauta;, já que a produção agrÃcola nacional é suficiente para garantir a exportação e o abastecimento.
Veja vÃdeo sobre a invasão do ministério da Agricultura
CNJ cria comissão>b: O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Gilmar Mendes, decidiu criar um fórum no CNJ para tratar de assuntos fundiários. Formado por integrantes de tribunais de todo o paÃs, o fórum terá a tarefa de acompanhar o andamento de processos que existem em várias áreas, como criminal, desapropriação de terras, tÃtulos de posse e suspeitas de uso de mão de obra escrava. Mendes diz estar preocupado também com as ações de desapropriação que ficam paralisadas por decisão judicial. As manifestações da Via Campesina foram realizadas, além de BrasÃlia, em sete estados: São Paulo, Pernambuco, Maranhão, Rio Grande do Sul, EspÃrito Santo, Paraná e ParaÃba. No Rio Grande do Sul, o alvo escolhido foi a Fazenda Aroeira, da Votorantim Celulose e Papel, em Aceguá. Cerca de 1,6 mil eucaliptos plantados na área foram cortados. No EspÃrito Santo, as trabalhadoras ocuparam o porto de exportações da Aracruz Celulose, localizado em Barra do Riacho, municÃpio de Aracruz. Segundo a empresa, 2 mil toneladas de celulose foram danificadas, causando um prejuÃzo próximo dos US$ 3 milhões. Os ativistas jogaram cupins e picharam o material. Diolinda Alves de Souza, mulher do lÃder dissidente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) José Rainha Junior, liderou a manifestação em São Paulo. Centenas de trabalhadoras ocuparam uma área do grupo Cosan, em Barra Bonita, a 280 km da capital. E houve prisão em Pernambuco. Charles Afonso de Souza foi detido no municÃpio de Aliança, por ter, segundo a polÃcia, usado uma bandeira para bater na cabeça de um capitão da PolÃcia Militar. A manifestação ocorreu em frente à Usina CruangÃ, onde no inÃcio do ano o Ministério do Trabalho retirou dos engenhos 252 trabalhadores, entre eles 27 menores que estavam em situação degradante. Alagoas Em Alagoas, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em uma ação que não tinha ligação com as manifestações da Via Campesina, ocuparam, durante a madrugada de ontem, a fazenda Campo Verde, no municÃpio de Branquinha, a 60km de Maceió. A propriedade fica à s margens da BR-104 e pertence ao ex-deputado federal João Lyra (PTB), dono de uma usina de açúcar na região. A ação contou com a participação de 1.500 integrantes do MST, Movimento Liberdade para os Sem Terra (MLST) e da Comissão Pastoral da Terra.