postado em 12/03/2009 09:26
A percepção de que as rotas do tráfico de drogas se direcionam cada vez mais para o interior do país tem feito a Polícia Federal inaugurar novas delegacias em cidades menores e mais afastadas dos grandes centros.
Segundo o delegado Marcello Diniz Cordeiro, chefe da divisão de operações e repressão a entorpecentes da PF, a tendência vem sendo observada há alguns anos. "É algo que se vê em grandes operações e apreensões;, afirma.
As rotas incluem principalmente tráfico de cocaína em pó e de pasta base de cocaína, usada para fabricar o crack e a merla. Os dados da PF demonstram que só as apreensões de pasta base aumentaram de 320 quilos em 2006 para 1,1 tonelada em 2007.
Nesse mesmo período, as apreensões de crack passaram de 145 quilos para mais de 578 quilos.
Entretanto, para o delegado Victor César Santos, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da PF do Rio de Janeiro, as apreensões de crack no país são subestimadas por uma questão técnica, pois em muitos casos os policiais, na hora do registro, classificam a droga apenas como cocaína, que é a substância ativa.
;O policial não apreende como crack, que na verdade é o nome de mercado da droga. Então tem que se levar em conta que cerca de 40% da cocaína apreendida no Brasil na realidade é crack;, afirma o delegado, lembrando que, em 2007, a PF registrou a apreensão de 16,5 mil quilos de cocaína.
A pasta base ; utilizada para produção do crack ; vem da Bolívia, entra por cidades do Mato Grosso, como Cáceres, Guajará-Mirim e Corumbá, ou pelo Acre ; às vezes pelo chamado tráfico-formiga, quando os traficantes usam a população pobre para atravessar a fronteira com pequenas quantidades de droga. De lá, segue para cidades populosas do Nordeste, Sul e Sudeste.
"O crack vai ser feito mais nos locais de consumo. E a repressão local vai ser feita pelas Polícias Civil e Militar. Atendemos mais a questão do macro, daquilo que vai servir para a transformação do crack, que é a pasta base", esclarece.
As regiões Nordeste, Sul e Sudeste também têm se alternado como principais destinos da droga que é transportada já como pedra. São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Fortaleza e Recife são os principais focos.
O secretário Nacional Antidrogas (Senad), general Paulo Uchôa, acreditar que o aumento da repressão aos produtos químicos utilizados no refino da cocaína tem aumentado a oferta de crack.
"Só interessa à Europa a cocaína pura. Como estamos controlando as substâncias precursoras, eles não conseguem fazer a quantidade que gostariam para exportar e fazem com outras mais facilmente encontradas e transformam no crack, que não interessa aos compradores. O crack fica no Brasil mais barato para vender", diz.
A estratégia da PF tem sido buscar a cooperação dos países produtores da pasta base para frear a produção de crack dentro do país. "No Brasil podemos controlar o nosso território. Agora, fora daqui, depende da logística, acordos com os outros países. Isso tem sido feito, inclusive as tratativas com a Bolívia têm melhorado muito", garante o delegado da PF.