postado em 15/03/2009 09:18
Além de contrabandear animais silvestres para o exterior, o tcheco Tomas Novotny tinha outra atividade no Brasil: traficar mulheres para a Europa. A descoberta foi feita pela Polícia Federal e pela Interpol ao ouvir depoimento do estrangeiro, preso na quarta-feira passada, durante a Operação Oxóssi, que desbaratou uma das maiores redes de envio ilegal de animais silvestres para República Tcheca, Portugal, Suíça e Alemanha.
A ligação da quadrilha com o tráfico de mulheres para o exterior foi confessada por Novotny durante interrogatório. A revelação fez com que a PF abrisse um inquérito para investigar a prática ilegal. Os investigadores ainda sabem pouco sobre o assunto, que parece ser um negócio menor dentro do esquema de tráfico internacional do grupo desmantelado.
Escutas telefônicas feitas pela PF mostraram que o negócio mais rentável do tcheco eram mesmo as aves raras. A quadrilha, formada por caçadores, intermediários e receptadores, usava métodos cruéis no trato com os animais. Além disso, os grampos mostraram que Novotny enviou para outros países galinhas e ovos de codorna para testar a fiscalização nos aeroportos brasileiros. As mercadorias não foram interceptadas pela inspeção.
A prisão do tcheco confirmou a suspeita da Interpol de que a quadrilha contrabandeava pássaros em extinção para a Europa. Para diminuir as suspeitas, o bando enviava ovos das aves. No apartamento de Novotny, na Barra da Tijuca, no Rio, foram apreendidos instrumentos sofisticados, além de incubadoras, computadores, agendas com nomes e valores de pássaros e extratos bancários de remessa de recursos para o exterior.
;Um dos aparelhos que encontramos foi um egg-lume, equipamento usado para ver o estágio do embrião dentro do ovo;, conta o chefe da Interpol no Brasil, Jorge Barbosa Pontes. Em dezembro do ano passado, o suíço Roland Messer foi preso no Rio com 10 ovos de arara-azul em um colete especialmente fabricado para esse fim. Cada ovo seria vendido na Europa por 4 mil euros. Apesar de ter sido detido, Messer foi liberado no dia seguinte.
O tcheco testava rotas e novos meios de envio do contrabando. Em uma ocasião, segundo a Interpol, Novotny levou 45 ovos de cordona e duas galinhas para testar a inspeção no Brasil, que acabou falhando. A fiscalização só foi feita em Praga, destino final da mercadoria. Nas conversas telefônicas, os traficantes revelaram que valia tudo para não serem flagrados. ;Prefiro matar (os animais) do que me arriscar;, disse Novotny a um interlocutor.
Inquérito
Os traficantes tinham ainda um esquema de suborno de servidores públicos, o que já está sendo investigado. Morando há quatro anos no país, onde vivia como tradutor e com visto de turista, Novotny pretendia se estabelecer no Brasil depois de casar com sua namorada mineira. Porém, as escutas mostram que ele desdenhava dos brasileiros, como em uma conversa com um amigo chamado Dênis, em março do ano passado. ;Sei que eles (os brasileiros) não trabalham. Eu falei para você que eles não trabalham;, diz o tcheco, em meio a gargalhadas. ;Não tenho palavras para me expressar;, responde o amigo. ;Não, não existe. Isso é ordem e progresso;, continua Novotny. Ao final, ainda sob risadas, Dênis conclui: ;Um Brasil de todos;.
Além de Novotny, a Interpol expediu difusão vermelha (captura com prioridade) contra outras três pessoas da República Tcheca, um português e um suíço. Como não podem ser presos e extraditados para o Brasil, eles podem responder pelo crime em seus próprios países. Novotny foi indiciado por receptação, contrabando por via aérea, formação de quadrilha e crime ambiental. Além disso, vai responder a inquérito por tráfico de pessoas.