postado em 18/03/2009 13:44
É necessário quase uma semana para transformar fibras vegetais, como a do bagaço residual da cana-de-açúcar, em papel. O processo de coleta, secagem, tratamento, cozimento, lavagem, desfibrilação até chegar na polpa da celulose é realizado pela artesã Solange Vieira, que trabalha com papéis especiais.
Ela e mais oito profissionais do artesanato estão na exposição 'Mãos que transformam matéria-prima em cultura e arte' que acontece no hall do Sebrae/MS, até o dia 20 de março, em homenagem ao Dia do Artesão.
;Esta exposição reúne diferentes tipos de produtos para dar uma amostra do artesanato desenvolvido no Estado;, conta Fábio Lapuente, designer do Sebrae em Mato Grosso do Sul. O evento é apenas uma das várias ações que acontecem durante a semana em Campo Grandel e que homenageiam o profissional. Na cidade, um bazar e mais duas exposições trazem cultura para mais perto das pessoas.
O artesanato local reúne criatividade de chifres que viram jóias. Esse é o caso de Isabel Muxfeldt que utiliza partes do boi, que serviam apenas para cuias e berrantes, para criar peças únicas para sua loja Jóias do Pantanal. ;Tentei dar ao chifre bovino, um enfoque totalmente novo. Campo Grande também pode fazer moda, mesmo não sendo um grande centro;, explica a artesã.
Na exposição, o público também pode conhecer a leveza da madeira. Cláudia Castelão, uma das vencedoras do Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato traz as flores de Xaraés para serem admiradas de perto.
Demolir para construir é a idéia por trás dos produtos de Luis Bernardino. Ele freqüenta as marcenarias e serralherias em busca da matéria-prima para criar castiçais, abajures e peças rústicas. Neidir da Silva também trabalha com o reaproveitamento de material do boi, como chifres e ossos. Usando tratamento do osso, marcenaria e machetaria, ele transforma em vasos, porta-guardanapos, petisqueiras e bandejas.
Segundo a gerente de desenvolvimento de atividades artesanais da Fundação de Cultura de MS Arlene Barbosa, a ação é uma maneira de incentivar e abrir espaço para que artesãos e grupos produtores do Estado divulguem suas criações. ;Uma parceria como esta soma valores, para que o evento seja forte e consistente, além de ser uma oportunidade para que os artesãos divulguem seu trabalho em uma esfera maior;, diz.
Reconhecer anos de dedicação e de inspiração dos artesãos locais é o maior objetivo do Sebrae/MS ao idealizar a exposição. ;A valorização desse profissional é também um resgate cultural. O segmento de artesanato é importante para nosso Estado, pois contribui para a geração de renda, resgata e valoriza o que é regional, dando uma identidade para o que produzimos;, acredita o gestor do projeto de Artesanato em Campo Grande e Região, Assis Luiz de Souza.
A tecelagem também está em exibição com as criações idealizadas pela Tecelagem e Cia, Fibra Morena e Grupo de Tecelagem Andalucia. A oficina nascida num assentamento e integrada ao Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado, em Nioaque (MS) foi uma das selecionadas pelo Sebrae Top 100 de Artesanato e que o campo-grandense pode conhecer um pouco mais de perto. ;O nosso diferencial é ser um produto ecológico que vem com a preocupação da conservação do cerrado e aproveitamento da agricultura familiar. O tingimento natural é o charme;, afirma Rosani Bastos, gestora do Centro.
As bugras da artesã Indiana Marques também estão na exposição. Premiada duas vezes pelo Top 100, Indiana tenta desenvolver com seu trabalho uma identidade para o Estado. ;A 'Bugra' foi eleita a cara de Mato Grosso do Sul e a 'Negra' surgiu após a percepção que muitos lugares tinham bonecas representativas desta raça, menos aqui no Estado. Fiz uma pesquisa cuidadosa em todo o Brasil e dos 17 quilombolas existentes aqui;, conta a artesã.