postado em 24/03/2009 20:01
O goiano Mohammed D´Ali Carvalho dos Santos, 21 anos, irá a júri popular pela morte da inglesa Cara Marie Burke, 17. O jovem é acusado de matar e esquartejar a menina. O crime ocorreu em 26 de julho de 2008, em Goiânia.
A decisão de levar Mohammed a julgamento popular partiu do juiz Jesseir Coelho de Alcântara, da 1ª Vara Criminal de Goiânia, nesta terça (24/3).
O magistrado justificou a decisão com base em indícios que considera suficiente para incriminar o acusado. "A materialidade delitiva dispensa maiores dilargações, vez que restou cristalina perante a prova técnica que veio carreada aos autos", afirmou o juiz. Quanto à autoria, ele argumenta que ela "se extrai do interrogatório do acusado, que é confesso e é uma prova inconteste de dúvidas", argumentou.
Com relação às qualificadoras, Jesseir manteve a do motivo fútil, uma vez que há indícios de que o crime foi cometido porque Cara havia ameaçado contar à mãe de Mohammed, assim como a um policial policial militar de Goiás, que ele usava drogas.
O agravante sobre dificultar a defesa da vítima também foi mantido devido aos indícios de que Cara estava ao telefone quando Mohammed lhe atacou a facadas, esquartejando-a posteriormente. "É um momento em que o princípio da dúvida é investido em favor do social e não pro reo", explica o juiz.
Quanto ao crime de destruição e ocultação de cadáver, Jesseir sustentou que a materialidade também ficou comprovada pelos laudos da perícia e do exame cadavérico, além das fotografias juntadas ao processo.
Durante audiência realizada em 19 de novembro, foi homologada a participação de Cristiano Cardoso da Silva, que teria participação no crime de ocultação de cadáver por ter emprestado o carro a Mohammed. Jesseir, no entanto, rejeitou o delito de corrupção ativa que, na opinião dele, não ficou caracterizado.
Cidadania inglesa
Mohammed matou a facadas a inglesa Cara Marie Burke, às 17h30 de 26 de julho, em um apartamento no Setor Universitário de Goiânia. Esquartejou o cadáver e, com a participação de Cristiano, escondeu as partes do corpo, jogando em pontos diferentes de ribeirões que cortam a capital goiana.
Ainda segundo a denúncia do Ministério Público, a motivação de Mohammed seria o temor de que Cara não cumprisse acordo de casamento feito na Inglaterra, onde eles se conheceram.
Para obter sua cidadania inglesa, Mohammed propôs a Cara pagar a passagem dela para o Brasil, desde que ela se casasse com ele. Eles chegaram a viver juntos, sem qualquer relacionamento amoroso, até a vítima se mudar para um outro bairro. Cara estaria com medo de Mohammed devido ao seu envolvimento com drogas.
Mohammed foi preso na madrugada de 31 de julho e, em 21 de agosto, Jesseir Coelho de Alcântara converteu sua prisão de temporária para preventiva. Segundo a polícia goiana, ele confessou o assassinato.
Pedaços do corpo
Parte do corpo de Cara foi encontrado por volta das 19h de 28 de julho, dentro de uma mala preta, às margens do Rio Meia Ponte, na BR -153, no Conjunto Caiçara. Ela estava envolvida em lençóis e um cobertor, sem a cabeça, as duas pernas e os dois antebraços. A cabeça, a perna esquerda e os dois braços de Cara foram encontrados no Ribeirão Sozinha, em Bonfinópolis, em 3 e 4 de agosto.
No momento da prisão, Mohammed teria oferecido R$ 70 mil aos policiais militares para que não cumprissem o mandado e o deixassem fugir.
Passado trágico
Mohammed perdeu o pai de forma tão bárbara quanto a jovem inglesa. O cabo da Polícia Militar Lázaro José dos Santos, 27, foi decaptado quando o filho tinha 2 anos. O corpo só foi encontrado duas semanas após o desaparecimento do PM, que era lotado no Regimento de Polícia Montada (RPMont) da Polícia Militar de Goiás, em Goiânia.
Ninguém nunca foi preso ou condenado pelo assassinato de Lázaro dos Santos e o cunhado dele, o pintor Valtercídio Ferreira da Silva, 25. A Justiça de Trindade (GO) arquivou o processo em maio de 2001. O duplo homicídio ocorreu em 24 de outubro de 1990. Naquele dia , feriado de aniversário de Goiânia, Lázaro e o cunhado saíram para pescar perto da capital de Goiás.
Os corpos do cabo da PM e do pintor foram encontrados em estado de decomposição três dias depois, em uma fazenda a 7km de Trindade, região metropolitana de Goiânia. As cabeças das vítimas estavam cobertas por sacos plásticos. Elas foram mortas a tiros, pauladas e por enforcamento. No local, a polícia encontrou marcas de pneus até determinado ponto. Por 5m dentro de uma mata, havia sinais de que os corpos foram arrastados.
Por ter as orelhas, o nariz e os órgãos genitais decepados, o corpo do PM só foi reconhecido por familiares no Instituto Médico Legal de Goiânia. Na época, o então comandante do RPMont, coronel Jaime Carlos Flores e Silva, ressaltou que o cabo Santos era um militar exemplar e que a morte dele era, provavelmente, decorrente de represálias por parte de alguém que ele tivesse abordado em trabalho.
A motocicleta com que o militar saiu com o cunhado nunca foi localizada. A investigação do crime ficou a cargo da delegacia de Trindade e do Serviço Reservado da Polícia Militar. Os agentes não conseguiram sequer levantar nomes de suspeitos.
Vício em drogas
O advogado Carlos Trajano de Sousa, que defende Mohammed D'Ali, o cliente matou a inglesa porque estava sob efeitos de drogas. Carlos Trajano diz que a personalidade agressiva e o vício do rapaz podem ser conseqüências do sentimento de perda do pai. "Apesar de não conhecer o pai, ele sentiu muito a perda e passou a usar drogas", ponderou o advogado.
Em depoimento, Mohammed contou que cheirou cocaína e fumou crack quatro dias seguidos, até matar Cara Burke. Carlos Trajano diz não haver como mudar o quadro de réu confesso do cliente. "Ele confessou que cometeu o crime, mas o que vou trabalhar é a questão de que ele vinha de quatro dias ininterruptos de consumo de cocaína. Acredito que ele nem saiba ainda o que realmente fez. Aos poucos, o efeito permanente dos entorpecentes se afasta e a personalidade dele volta ao normal", disse.
O advogado afirmou ainda que, na carceragem da Delegacia de Homicídios, o rapaz confessou que já chegou a usar gás de cozinha para se drogar. "Quando ele não tinha as drogas que costumava usar, ele cortava a mangueira do gás e cheirava aquilo até desmaiar", contou Carlos Trajano, em entrevista ao Correio Braziliense.
Desde pequeno, segundo o advogado, Mohammed D'Ali atirava pedras em carros da polícia. "Era um sinal de revolta pela perda do pai policial. Depois disso, ele teve alguns problemas com furto e roubo e até com outra tentativa de homicídio, quando adolescente", relatou Trajano.