postado em 27/03/2009 16:56
Menos de um ano depois de perder o filho Marcos Paulo Campos, de 17 anos, morto por traficantes em um episódio que teve participação de militares do Exército, em junho do ano passado, no Morro da Providência, Maria de Fátima sepultou nesta sexta-feira (27/03) o corpo de outro filho, José Carlos Barbosa, de 22 anos.
José Carlos foi morto ontem (26/03) de manhã, durante uma incursão policial na comunidade. Segundo o depoimento de uma testemunha, policiais do 5o Batalhão da Polícia Militar (PM) chegaram na Rua do Monte, onde o rapaz foi atingido, atirando.
"Todo mundo que estava na rua correu. E ele [José Carlos] estava passando na hora, correu, viu uma porta aberta e entrou. Nisso, já tinha um policial lá dentro e começou a atirar. Nem deu chance dele falar que era pai de família, trabalhador, não teve chance de nada", relatou a testemunha, em depoimento na Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio de Janeiro (OAB-RJ).
De acordo com a testemunha, que pediu para não ser identificada quando a mãe de José Carlos chegou, foi impedida de entrar para ver o corpo do filho, tendo sido, inclusive, agredida pelos policiais.
"Eles não deixaram a mãe entrar no prédio, agrediram ela, jogaram no chão e deram chutes. Também agrediram outra moradora da comunidade, bateram como se estivessem batendo em homem, deram soco na cara, chute. E começaram a xingar a gente, porque estavam nervosos. Se estavam tão certo do que estavam fazendo, por que tanto medo? Começaram a dar tiros para o alto e disseram que iam dar tiro em nós", contou a testemunha, que negou ligações do jovem morto com qualquer atividade criminosa.
Segundo a presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB-RJ Margarida Pressburger, o crime pode estar relacionado com o assassinato dos três jovens do Morro da Providência no ano passado. Margarida não acredita que seja mera coincidência e diz que os fatos podem estar relacionados.
Pelo que estamos sabendo, que conseguimos colher na comunidade com algumas testemunhas, essa família vem sendo ameaçada há algum tempo", afirmou Margarida, que pretende procurar o secretário especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, para garantir proteção as testemunhas. "Não foi bala perdida, foi bala achada."
A Agência Brasil procurou ouvir a Polícia Militar, que, até o fechamento desta matéria, ainda não tinha se pronunciado sobre o caso.