postado em 29/03/2009 09:12
São Paulo ; Um ano se passou, mas as lembranças permanecem vivas para Ana Carolina Oliveira, mãe da menina Isabella Nardoni, que chora diariamente a morte de sua única filha. Em busca de conforto espiritual e de compreensão, Ana Carolina procurou mergulhar na religião e em terapias. Ela não comenta sobre o crime para não comprometer a acusação. Em entrevistas, só fala da perda da filha. ;Não falo nada que esteja relacionado ao processo;, assinala.
Durante entrevista ao Correio, Ana Carolina riu uma única vez, quando perguntada se ganhou peso depois da tragédia. ;Não se faz uma pergunta dessas para uma mulher;, brincou. A jovem não diz se seria capaz de perdoar os assassinos da sua filha e se mostra confiante na Justiça. ;Minha vida vai recomeçar depois do julgamento. Até lá, não tenho plano algum;, ressalta.
Ana Carolina conta que pretende ter mais filhos, mas enfatiza que uma criança nunca vai substituir a outra. Ela acredita que o assassinato da filha é um fardo que Deus lhe deu e que, certamente, há um caminho a percorrer. ;Com certeza, Deus tem um plano para mim. Por isso continuo vivendo.;
;VIVO UM DIA DE CADA VEZ;
Um ano depois, você sofre a perda da sua filha como se ela tivesse morrido ontem. Está difícil superar a ausência da Isabella?
Está muito difícil. Queria poder dar uma data e dizer quando isso tudo estará superado: daqui a uma semana, um mês, um ano. Mas não posso. Está tudo muito recente e vivo na minha cabeça. Fecho os olhos e enxergo a minha filha. As coisas que aconteceram ainda estão muito claras na minha mente. Não sei se vou superar ou ter uma compreensão maior sobre as coisas. A dor é tão grande que não consigo mensurar essas coisas.
Você já disse que pretende ter filhos novamente. Uma nova criança seria uma maneira de superar a dor?
Eu pretendo ser mãe novamente, mas é um projeto para o futuro. Eu sei que um filho jamais vai substituir o outro. Tenho certeza de que ficarei feliz com um novo bebê, mas isso não vai me ajudar a superar a morte da minha filha. Antes mesmo de Isabella partir eu já pensava em ter outros filhos.
Você costuma visitar a sepultura da sua filha?
Vou uma vez por mês levar flores. Nos seis primeiros meses, eu fazia uma missa por mês. Agora, farei uma quando completar um ano (hoje).
Qual a maior lembrança que você guarda da sua filha?
Várias. As imagens que me trazem mais saudades são as da gente brincando, ela rindo e nós dormindo juntas. Tudo o que eu fazia com a minha filha era muito engraçado. A gente ria muito. Era muito divertido viver com ela.
E qual a imagem mais chocante da tragédia?
Até hoje não me sai da cabeça a cena em que ela está caída no jardim do prédio. Ver aquilo e não poder fazer nada foi muito duro. Depois teve o velório. Nada no mundo é mais triste do que velar um filho. É muito angustiante. Todas as imagens da minha filha morta são muito fortes. Aquela noite não sai da minha cabeça. Não sei como vivi aqueles dias terríveis.
O que você faz para se divertir?
Não estou em busca de felicidade. Vivo um dia de cada vez. Fico em casa com a minha família. Não vou ao cinema nem saio de casa porque não tenho vontade. Vou apenas para o trabalho. Meus amigos me apoiam bastante. Eles me chamam para jantar, mas é tudo muito triste e sempre venho embora para casa mais cedo.
Antes da tragédia, você já era caseira?
Não. Eu saía bastante, me divertia. Gostava de ficar em casa, mas saía muito para me divertir.
O que levou você a fazer terapia?
A terapia está me ajudando a ter uma compreensão sobre tudo o que aconteceu. É um momento em que eu desabafo e me escuto um pouco.
Você está sentindo efeito?
Acho que sim. Na verdade, ainda estou num processo de tentar compreender o que aconteceu. Diria que estou tentando me ajudar a superar.
Muitos pais que perderam filhos em tragédias buscam conviver entre si para compartilhar a dor. Você pensa em participar de algum grupo desses?
Ainda não senti essa necessidade. Não sei explicar, mas nunca tive contato com essas coisas. Eu acompanhava isso pela televisão, mas não sinto vontade. Eu fiz umas camisetas com a foto da Isabella apenas para ficar de lembrança e dar aos amigos.
Você já desmontou o quarto da sua filha?
Na verdade, ela ainda não tinha um quarto só dela. Nós dormíamos juntas. Eu doei algumas roupinhas dela e outras coisas guardo no mesmo lugar. Principalmente brinquedos e fotos. Tem roupas dela juntas com as minhas. Não é uma forma de eu pensar que um dia ela vai voltar. Faço isso para mantê-la mais próxima de mim.
Você tem bons rendimentos no trabalho? Você falta muito?
Sou bancária, mas não trabalho em agência nem faço atendimento ao público. Vou ao trabalho todos os dias, mas tenho dificuldades para me concentrar. Tem dias que é muito difícil. Mas aí eu paro, dou uma respirada. Algumas vezes, só a respirada não adianta. Aí vou ao banheiro e choro. Lavo o rosto e volto para a minha mesa. Eu procuro me dedicar.
Que tipo de plano você faz para o futuro?
Não tenho nenhum plano para o futuro. Não sei o que vai acontecer amanhã. Minha vida está toda centrada para o dia do julgamento. Só vou pensar na minha vida depois do julgamento. Não planejo nada.
Você é a favor da pena de morte?
Prefiro não falar sobre esse assunto porque é uma opinião que emite juízos de valores que não quero comentar. Também acredito que o momento não é adequado.
Você dorme bem?
Tem dias que durmo tranquila, mas na maioria das vezes tenho pesadelos e acordo assustada. Também tenho insônia recorrentemente. Já houve semanas que tive pesadelos todos os dias.
Você sonha com a Isabella?
Sonhei com ela apenas uma vez. Ela estava sorrindo e brincando.
Passado um ano, você ainda está com a aparência muito abatida.
Não me sinto apática. Não vou ao salão, mas faço as unhas porque o meu trabalho exige que eu esteja bem-vestida. Não me cuido por causa da estética. Não tenho vontade de ser vaidosa.
Parece que você também ganhou peso...
Você acha? É bom saber disso (risos). Mas você não deveria dizer isso para uma mulher. Vou te falar: logo depois da tragédia, eu perdi peso. Mas depois, por conta de ansiedade, fiquei compulsiva por comida e ganhei seis quilos. Não estou fazendo nada (exercícios físicos). Estou mantendo eles todos aqui.
A tragédia transformou você em celebridade. O assédio do público te incomoda?
Não me sinto incomodada. No início, as pessoas me reconheciam na rua e isso me assustava. Elas chegavam perto para perguntar como eu estava. Não estava acostumada. Agora, lido melhor com esse assédio. Eu saio na rua e sou apontada e olhada muito.
Você sempre foi religiosa ou procurou esse tipo de apoio depois da tragédia?
Sempre fui religiosa. Vou à missa nos fins de semana e rezo bastante. Faço parte de um grupo de orações que se reúne toda semana.
A religião ajuda você a entender o que aconteceu?
Ajuda a ter fé para eu seguir o meu caminho e a entender a lógica das coisas.
Como você avalia essa tragédia do ponto de vista religioso?
Eu acho que Deus não me deu um fardo maior do que eu possa carregar. Estou seguindo em frente porque tenho muita fé em Deus.
Você seria capaz de perdoar os assassinos da sua filha?
Não quero comentar sobre isso.
Mas a fé que você tem em Deus ajuda a perdoar, não é?
Sim, ajuda. Mas não quero falar sobre perdão. Posso dizer que a fé que eu tenho em Deus me ajuda a caminhar.
Volta e meia você diz que pensou em desistir, mas conseguiu
forças para prosseguir. Alguma vez você chegou a pensar em
deixar de viver?
Em deixar de viver não, mas pensei em desistir de trabalho, das coisas que faço. Já tive vontade de só ficar na minha cama sem vontade de levantar. Mas aí respirei fundo e pedi a Deus para me dar forças para viver mais aquele dia.