Brasil

Tia de criança que caiu de prédio deve ser indiciada por negligência

Laudo sobre a causa da morte de menino de 2 anos será divulgado em 30 dias e pode sustentar o indiciamento

postado em 04/04/2009 10:43
A desempregada Verônica Souza Silva, de 23 anos, tia do menino João Pedro Souza Silva, de 2 anos e 8 meses, que morreu na noite de quinta-feira, depois de cair da janela do apartamento 305 da Avenida do Contorno, 2.318, no Bairro Floresta, Região Leste de Belo Horizonte, deve ser indiciada por negligência. Segundo o delegado de plantão da Regional Centro, Renato Nunes, tudo indica que houve um acidente, mas Verônica pode responder a processo de homicídio culposo (sem intenção de matar) na Justiça pelo descuido com o sobrinho que estava sob sua responsabilidade. O garoto morava com a avó desde o nascimento, em Tumiritinga, no Vale do Rio Doce, pois era órfão de pai, e a mãe, Paula Cristina Souza Silva, foi trabalhar na Itália. Há 15 dias, a avó Maria das Graças Souza Silva pediu à filha Verônica para ficar um tempo com a criança, na capital, para ela resolver problemas pessoais. O menino retornaria hoje para o interior. No depoimento prestado à polícia, Verônica conta que estava com uma amiga e o sobrinho no flat. Por volta das 22h, a tia conta que fez a nebulização da criança, que sofria de asma, e logo em seguida ela dormiu. As mulheres estavam fumando na janela do flat, que tem apenas um quarto e banheiro, mas o vento jogava a fumaça para cima do garoto. Elas resolveram fumar no corredor do prédio, mas com a porta aberta, segundo a tia. Quando voltaram, encontraram a cama vazia. A tia pensou que o menor estivesse brincando, pois ele tinha o costume de se esconder, mas não o encontrou no armário, como de costume, ou em qualquer outro lugar. Do alto, elas não conseguiam enxergar o pilotis, pois é escuro e de uso de uma empresa. ;Os vizinhos foram acionados e acharam o garoto já morto. As mulheres foram levadas para a delegacia e liberadas;, disse o advogado Ércio Quaresma Firpe, contratado por Verônica na manhã de ontem. João Pedro morava com a avó e estava passando dias com a tiaPela manhã, Verônica e a amiga Camila Neves da Silva, de 26, foram interrogadas novamente. ;Verônica está muito consternada com a morte do sobrinho e se recupera na casa de amigos. Uma outra tia do garoto veio do interior para providenciar o sepultamento;, disse o advogado. O porteiro, que chamou a polícia às 23h40, e cinco moradores do edifício foram intimados a prestar depoimento. O delegado responsável pelo inquérito, Augusto Neto, quer saber se alguém viu o exato momento da queda. No prédio, ninguém quis comentar o assunto. Para o advogado, trata-se de uma fatalidade, pois a criança nunca tinha tentado subir na janela antes. ;Mas essa questão só poderá ser discutida dentro de um processo judicial. Se o Ministério Público entender que houve negligência, e se a minha cliente for denunciada, eu terei a minha tese de defesa;, informou Ércio. Cadeira Ao retornar para o apartamento com a amiga, a tia do menino contou à PM que viu uma cadeira próxima à janela aberta. O sargento Kennedy Quintão, da 3ª Companhia do 1º Batalhão da PM, passava de carro pela Avenida do Contorno, por volta das 23h30, e foi chamado pelo porteiro. ;Ele disse que uma mãe estava desesperada pois o filho tinha desaparecido. Ao chegar no apartamento, constatamos a queda da criança, cujo corpo estava numa área nos fundos de uma empresa, que funciona no mesmo prédio. Isolamos o local e chamamos o pessoal do Corpo de Bombeiros para resgatá-la;, afirmou Quintão. O tenente Jadson da Paixão, do 1º Batalhão dos Bombeiros, disse que as equipes tiveram dificuldades para chegar ao corpo. ;Como a criança não apresentava os sinais vitais, chamamos o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu);. O médico Adriano, do Samu, constatou o óbito e os peritos do Instituto de Criminalística da Polícia Civil foram acionados. A PM encontrou o apartamento totalmente revirado, mas a tia e a amiga disseram que estavam desesperadas procurando pelo garoto. Da rua, era possível observar a janela aberta e a persiana arrancada, sugerindo que o menino tenha segurado nela para evitar a queda. O laudo da perícia deve ficar pronto em 30 dias. O prédio é um misto de residencial e comercial. No local já funcionou até mesmo o Consulado Espanhol. Os apartamentos com quarto e banheiro são alugados por R$ 550, o que leva a uma grande rotatividade de moradores, sem vínculos de vizinhança. Mesmo não conhecendo Verônica, alguns moradores disseram que na noite da quinta escutaram barulho e gritaria no apartamento. ;Aqui vários moradores escutaram os gritos e depois um barulho. Mas ninguém disse ter visto algo que não sugerisse uma queda acidental;, comentou um dos vizinhos. O corpo do menino foi liberado na tarde de ontem pelo Instituto Médico Legal (IML) e deve ser sepultado hoje, às 9h, no Cemitério da Paz de Ipatinga, no Vale do Aço. A mãe estaria voltando da Itália para acompanhar a cerimônia.

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