postado em 06/04/2009 09:27
Mariana ; A interdição da Igreja de São Francisco de Assis, do século 18, para visitação e cultos, por causa de riscos à integridade física de frequentadores, causados principalmente pela umidade excessiva e ação de cupins, traz à tona a precariedade da segurança física e patrimonial dos bens históricos pertencentes à Arquidiocese de Mariana, na Região Central de Minas, a 115 quilômetros de Belo Horizonte. ;A vulnerabilidade é real;, reconhece o prefeito e diretor-executivo da Fundação Cultural da Arquidiocese de Mariana (Fundac), Roque José de Oliveira Camello.
A vulnerabilidade levou o Ministério Público a agir. Uma ação civil pública em tramitação na comarca aborda três aspectos: riscos de incêndio, segurança estrutural e, ;principalmente, com relação à proteção contra furtos, que estavam ocorrendo com muita frequência em Mariana;, explica o promotor Antônio Carlos de Oliveira. A preocupação é quanto à continuidade dos problemas, como a possibilidade de roubos. Oliveira aplaude os esforços de autoridades e instituições como o Estado de Minas , na recuperação de peças furtadas, mas não vê a solução definitiva para o problema.
;Não adianta recuperar peças sacras e pôr no mesmo lugar. Isso é como enxugar gelo;, avalia o promotor, que acena até com a possibilidade de pedir a transferência de todas as peças das igrejas de Mariana para o Museu Arquidiocesano, onde há segurança, ;para não ter que chorar o leite derramado;. Ele pediu perícia técnica para avaliar a situação das igrejas e diz que as primeiras informações recebidas do perito ;não são boas;.
O perito Adriano Rodolfo Martins Moreira, engenheiro de segurança do trabalho e professor do Instituto Federal de Minas Gerais (antigo Cefet), já visitou as igrejas da área urbana de Mariana e vai vistoriar as dos distritos. ;A situação não é muito agradável;, resume o especialista. Ele relata que entre os problemas destacam-se a fragilidade de redes elétricas e o acúmulo de materiais dentro dos prédios, inclusive inflamáveis.
Para o perito, o despreparo dos responsáveis pelas igrejas e das comunidades para lidar com situações de risco é muito grande. Como exemplo, ele cita a falta de cuidado com materiais inflamáveis ou mesmo entulhos que ficam depositados em lugares inadequados. Na vistoria que fez sexta-feira (3/4) na Igreja de São Francisco de Assis, ele achou materiais como espumas, aparentemente sem utilidade e perigosíssimos na presença de fogo.
Durante a vistoria, um forte cheiro de gás incomodou o perito. Era proveniente de instalação mal-feita em um fogão a gás indevidamente colocado em sala contígua. O fogão e o botijão foram imediatamente retirados pelos responsáveis da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, com visível constrangimento. Madeiras, caixas de papelão vazias, pontas de fios desligados e outros materiais compõem o cenário de risco.
;Todos os templos têm que ter um projeto de combate e prevenção a incêndio e pânico. A maioria não tem. Quando tem, é só para atender a legislação, porque os funcionários não estão capacitados para agir em caso de sinistro;, aponta o perito, que é mestrando em meio ambiente e turismo. Ele conclui que Mariana não está capacitada para agir em caso de sinistro. ;É urgente fazer a capacitação dessas pessoas;, avisa Adriano Moreira.
Incêndio
O diretor-executivo da Fundac, instituição responsável pelos bens culturais da Arquidiocese de Mariana, informa que apenas o Santuário de Nossa Senhora do Carmo, localizado na mesma praça da Igreja de São Francisco de Assis e reconstruído depois de um incêndio, em 1999, tem um plano detalhado de prevenção e combate a fogo.
As demais dispõem apenas de extintores de incêndio e isso não é suficiente. ;É preciso fazer o projeto, aprovar, equipar e treinar pessoal, inclusive equipe de voluntários;, explica Roque Camello. Isso tudo, segundo ele, é ;dispendioso e demorado;. A arquidiocese e os municípios não têm recursos e a iniciativa só poderia ser tomada com apoio decisivo do governo federal. ;Nem os municípios, nem a igreja conseguem fazer isso;, diz o prefeito. Ele explica que a arquidiocese não tem como fazer e as igrejas são bens culturais, portanto, de interesse público. ;O governo abandonou o patrimônio religioso;, reclama.
O diretor-executivo da Fundac dá como exemplo a própria Catedral da Sé, em Mariana, que precisa de intervenções importantes para sua recuperação, a um custo de R$ 4 milhões. A reforma da catedral será feita por intermédio do Programa Monumenta, executado pelo Ministério da Cultura e financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com contrapartida de 30% do município. Sozinhas, arquidiocese e prefeitura não teriam condições de arcar com o custo da recuperação da mais importante igreja da cidade.