postado em 11/04/2009 08:00
Cada vez mais poluÃdas, as grandes cidades brasileiras abrigam em suas ruas, além de micróbios e outros organismos causadores de doenças, um inimigo invisÃvel e perigoso: a superbactéria pneumococo, que causa pneumonias, meningites e infecções de ouvido. Apesar de estarem presentes em diversos ambientes, esses diferentes tipos de germes se concentram nas unidades de terapia intensiva (UTIs). São nesses locais, onde há pacientes com as defesas do corpo enfraquecidas ou em recuperação de traumatismos e cirurgias, que os supermicróbios podem ser fatais. Procedimentos invasivos (em que há penetração da pele, mucosas ou tecidos) facilitam a entrada dos agentes no corpo humano. E o uso indiscriminado de antibióticos ; medicamentos utilizados para combater infecções ; favorece a multiplicação das superbactérias. Isso ocorre porque quando esses remédios são usados em dose ou tempo menores do que o necessário, eles matam ou inibem o crescimento de uma parte das bactérias presentes, permitindo que as mais resistentes se multipliquem. Esses germes multirresistentes causam infecções dolorosas e podem provocar mutilações pelo corpo e até a morte.
No Brasil, as primeiras superbactérias foram detectadas em 1996. De lá para cá, elas vêm assustando pacientes de vários estados do paÃs. Entre os germes multirresistentes mais perigosos estão o enterococcus (resistente à vancomicina) e o staphylococcus aureus (resistente à meticilina). ;Se não forem desenvolvidas novas drogas, vai chegar um momento em que esses micróbios serão incontroláveis;, alerta Stefan Cunha Ujvari, infectologista e autor do livro A história e suas epidemias. Na avaliação do médico, os pacientes infectados pelas superbactérias devem ter cuidados redobrados. ;Além de isolar o paciente, é preciso evitar a circulação de equipamentos e instrumentos que ficaram próximos a ele. Uma simples caneta pode levar as superbactérias para outros ambientes.;
Mais rigor
Procurada pelo Correio, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirma que não tem dados sobre a presença das superbactérias no Brasil, mas anunciou recentemente medidas mais rigorosas para prevenir infecções médico-hospitalares. Em alerta contra a proliferação desses germes, a autarquia federal proibiu a esterilização lÃquida para os artigos invasivos usados em cirurgias por vÃdeo, cirurgias abdominais e pélvicas convencionais, mamoplastias e cirurgias plásticas como a lipoaspiração. Agora, a esterilização deve ser realizada por meio de métodos como o uso de autoclaves, máquinas que esterilizam por meio do calor úmido, sob pressão. ;Essa é uma das medidas de contenção das infecções por micobactérias de crescimento rápido (leia abaixo). A melhor maneira de controlar esse tipo de infecção é não permitir que ela ocorra. Daà o rigor das medidas;, diz Heder Murari Borba, gerente-geral de Tecnologia em Serviços de Saúde da Anvisa.
Em parceria com o Ministério da Saúde, a agência também prepara uma resolução para padronizar o conceito de infecção hospitalar e outra norma com a finalidade de controlar os casos de infecção em clÃnicas e hospitais de todo o paÃs. ;Elas serão importantes tanto para melhorar o atendimento dos pacientes quanto para ter um controle mais confiável sobre esse tipo de infecção no paÃs;, observa Borba.
VÃtima
Uma das vÃtimas mais recentes de infecção generalizada (septicemia) causada por uma superbactéria foi a modelo capixaba Mariana Bridi, 20 anos. Ela morreu no fim de janeiro em Marechal Floriano (ES), devido ao agravamento de uma infecção urinária. Internada durante 20 dias, Mariana foi contaminada por duas bactérias: pseudomonas e staphylococcus. Primeiro, elas infectaram o aparelho urinário. Em seguida, atingiram a corrente sanguÃnea, o que obrigou a amputação das mãos e dos pés. ;O corpo faz com que o sangue se concentre nos órgãos vitais como cérebro e coração para protegê-los. Dessa forma, as extremidades do corpo sofrem com a falta de circulação, causando a perda das mãos e dos pés. Essas bactérias que a modelo apresentou são incomuns em infecções urinárias;, explica Artur Timerman, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).
Sem revelar valores, Henrique Pinhati, infectologista e presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Hospital Santa Luzia, garante que o estabelecimento investe pesado para combater as bactérias. ;Nós não deixamos quem veio transferido para cá ter contato com as outras alas do hospital, principalmente com o centro cirúrgico. A medida evita a proliferação desses germes multirresistentes;, ressalta. De acordo Pinhati, uma superbactéria já está presente em todos os hospitais de BrasÃlia. ;Não é para criar pânico, até porque ela nem sempre entra em contato com o paciente e ainda pode ser combatida com medicamentos;, explica.Com quase 200 leitos, o Hospital Santa Luzia realizou 7.268 cirurgias em 2008, uma média de 605 ao mês.
» Ãudio: ouça trecho de entrevista com Heder Murari Borba,
gerente-geral de Tecnologia em Serviços de Saúde da
Anvisa