postado em 12/04/2009 08:29
Desmotivação dos professores, falta de segurança nas escolas e número insuficiente de estabelecimentos de ensino são, para os brasileiros, os principais problemas da educação pública no país. Já a qualidade não está entre as maiores preocupações: apenas 9% da população acredita que esse é um fator a ser melhorado. É o que revela uma pesquisa do Ibope Inteligência, feita a pedido da Confederação Nacional da Indústria e do movimento da sociedade civil Todos pela educação (TPE).
Foram ouvidas 2.022 pessoas com mais de 16 anos de todas as regiões do país, tanto em capitais e periferias quanto no interior. Para o presidente do TPE, Mozart Neves Ramos, a pesquisa evidencia o abismo entre as classes sociais, já que as respostas foram bem diversas, dependendo do nível de escolarização e da renda familiar.
Quanto maior o tempo de estudo, mais alta é a percepção sobre a necessidade de melhorar a qualidade da educação e mais crítica é a opinião sobre as escolas públicas. Já pessoas com menor rendimento e escolaridade são mais propensas a acreditar que o ensino atual está ótimo ou bom e atribuir os problemas da educação principalmente a fatores estruturais.
Segurança
A cozinheira Vanessa Lopes dos Santos de Sousa, 28 anos, mãe de Cristiane, 5, elege a violência como principal problema da educação. ;Hoje em dia, a gente se preocupa mesmo é com a segurança. Em vez de aprender, a criança fica pior, levando arma pro colégio, brigando e até matando;, diz. Para ela, que estudou até a 7ª série, o ensino é bom.
A mesma avaliação sobre a qualidade da educação fizeram 37% das pessoas com o nível de escolaridade de Vanessa. Para 41% dos entrevistados que tinham somente até a 4ª série, a educação básica pública está ótima ou boa. Quarenta e três por cento dos que têm nível superior afirmaram que está ruim ou péssima, mesma avaliação de 24% daqueles que possuem ensino médio. O vigilante Israel Cardoso de Jesus, 35 anos, está entre aqueles que não acham que a qualidade da escola pública vai tão bem assim. Ele estudou até o 1º ano do ensino médio e faz questão de acompanhar o progresso do filho, Pablo, 8 anos.
O garoto está no segundo ano do ciclo fundamental e estuda na Estrutural, cidade onde mora. Pablo costuma fazer os deveres e trabalhos sob os olhares atentos do pai. Israel não deixa de ir às reuniões e é vice-presidente do conselho fiscal da escola. ;Quanto mais o pai interagir, maior o bem que fará para a criança. E a educação é o único bem que posso deixar para meu filho;, afirma. Israel, porém, está preocupado. Para ele, os professores deixam a desejar.
O estudo do Ibope também analisou a percepção dos brasileiros em relação ao progresso da qualidade do ensino. Quem tem menos tempo de estudo acha que a qualidade da educação está melhorando em ritmo mais acelerado. ;Fica muito clara a existência de dois mundos. Para as pessoas que possuem menor escolaridade e menor renda, a escola de hoje garante matrícula, dá merenda, o que já é uma grande vantagem. Porque há 20, 30 anos atrás, isso era um privilégio;, explica Mozart Neves Ramos.
A pedagoga e orientadora escolar Edma Sarno, que tem experiência de duas décadas na direção de escolas públicas e privadas em Santa Catarina, sente diferenças na expectativa de pais de alta e baixa rendas. ;É claro que existem muitas exceções, mas principalmente entre aqueles mais velhos, a cobrança é muito menor. Infelizmente, as pessoas ainda estão começando a entender que a educação é um direito, e não um favor do Estado;, diz.
Ana Lúcia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, do Ibope, defende que, ao listar problemas como violência, falta de vagas e professores desmotivados, as pessoas de baixa renda estão querendo dizer o mesmo que a parcela mais abonada da população.
;No fundo, também estão dizendo que o resultado não é bom. É mais fácil identificar os problemas que os incomodam de forma mais imediata;, diz. ;É a população de baixa renda que sente a falta de vagas, é nas escolas dessa população que há professores menos qualificados. Elas conseguem enxergar melhor o que está no cotidiano delas;, defende.
Salário
O presidente do TPE ressalta um dado positivo da pesquisa: a consciência, entre todas as classes e níveis de escolaridade, da importância da valorização do professor. Uma das perguntas feitas pelo Ibope Inteligência foi qual dos fatores mais motivavam os educadores no exercício da profissão. No total, 46% dos entrevistados disseram que é o salário. O percentual de respostas nesse sentido foi praticamente idêntico em todos os grupos.
;Ver que os alunos estão aprendendo; foi a segunda resposta mais citada. Já o trabalho das secretarias de educação foi o aspecto menos lembrado. ;O papel que desempenha o professor está sendo cada vez mais reconhecido;, analisa Ramos.
Ana Lúcia também comemora o dado. ;Em toda a sociedade, é crescente a percepção de que, se não tiver condições de atrair o bom professor para que se converta num bom educador, será muito difícil resolver os problemas da educação;, observa. ;O que as pessoas estão percebendo é o que as pesquisas internacionais já mostraram: que por mais que se faça milagre em investimentos na infraestrutura, se não valorizarmos o professor, apenas metade do problema estará resolvido.;
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