postado em 13/04/2009 08:51
Uma estatística alarmante da BHTrans mostra que o trânsito da capital, ao contrário do nome da cidade planejada pelo engenheiro Aarão Reis (1853/1936), não é um belo horizonte. Balanço da prefeitura revela que as infrações nas vias públicas somaram 134.734 multas apenas nos três primeiros meses deste ano, o que representa uma média diária de 1.497 autuações. Dessas, 57.302 foram emitidas por radares e outras 77.432 pelos fiscais da empresa, das quais 20% (15.133 infrações) ocorreram somente em nove corredores. Eles formam a chamada rota das multas, cujo triste ranking é liderado pela Avenida do Contorno, onde os agentes fizeram 4.761 notificações.
O número mostra que a via construída no fim do século 19 para circular o município se transformou, 111 anos após a cidade ser inaugurada, num corredor cheio de armadilhas, onde o perigoso avanço de semáforo, a condenável fila dupla, a irritante conversão sem sinalização de seta e outras situações que ferem o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) são cenas comuns. A quantidade de multas na Contorno, que tem 12,6 quilômetros, representa uma média de 378 autuações a cada 1.000 metros no período analisado pela BHTrans.
Uma curta visita na esquina com Avenida Cristóvão Colombo, no coração da Savassi, na Região Centro-Sul, é suficiente para constatar a dimensão das irregularidades no trânsito da Contorno. Lá, vários motoristas desrespeitam a luz vermelha do semáforo, colocando em risco a vida deles e de terceiros. Muitos outros não se incomodam em fechar o movimentado cruzamento ou parar na faixa de pedestre, usada por uma multidão, pois a passagem é caminho para clientes de um shopping e de uma farmácia.
Essas situações incomodam o comerciante Marcos Vinícius Fraguas Carcavali, de 32 anos, usuário da via. Ele conta que já testemunhou muitas irregularidades na Contorno, ;como carro parado onde não pode e motorista que muda de faixa sem dar seta;. Mas o que mais lhe irrita, acrescenta, é a quantidade de motoqueiros que fazem ziguezague entre os carros: ;É grande a chance de acidentes e coloca em risco a vida deles e a da gente;.
O presidente da BHTrans, Ramon Victor César, acredita que a maior parte das multas foi aplicada nas proximidades de corredores de acesso à Contorno. ;Ela circula toda a área central, para onde convergem os principais fluxos da cidade. Todas as vias importantes fazem conexão ali. Se destrincharmos os dados, essas autuações devem estar próximas às interseções, ou seja, perto da Amazonas e da Afonso Pena;. Esta última ocupa a segunda posição na rota das multas, com 1.812 registros.
A Afonso Pena, que tem ;somente; 4,2 quilômetros, teve uma média de 431 flagrantes a cada 1.000 metros nos três meses deste ano. A via também recebe importantes corredores do Centro, como a Rua Espírito Santo, terceira colocada: 1.419 infrações.
As irregularidades cometidas na via que homenageia o estado capixaba ilustram bem a importância dos maus condutores reverem seus atos, como precisa ocorrer com o motorista de um carro forte, que não se incomoda em estacionar parte do veículo sobre o movimentado calçadão da Praça Sete, atrapalhando a passagem de pedestres. A outra metade, no lado esquerdo da pista, também atrapalha o trânsito de veículos.
A prefeitura não detalhou o tipo de infrações por via, mas depois das multas emitidas pelos radares, que lideram o ranking de irregularidades (58,8 mil este ano), as autuações sob a rubrica ;estacionar em desacordo com a sinalização;, o que inclui parada em área de carga e descarga ou a poucos metros da esquina, abocanhou 30% das infrações flagradas nos três primeiros meses deste ano. O percentual revela nada menos do que 20.984 ocorrências. Dirigir com fone de ouvido ou usando o celular é o terceiro motivo das canetadas dos agentes: 10.112 registros (7,5%).
Em seguida, aparecem estacionamento sobre o passeio ou faixa de pedestre (5.836 ocorrências) e avanço de sinal vermelho (5.119). Mas qualquer fiscal da empresa sabe que o número real é bem mais dilatado, pois a maior parte das irregularidades não é flagrada pelos ;chumbinhos;. É impossível mensurar esse balanço, mas exemplos não faltam.
O motorista de uma autoescola que estacionou o veículo em frente a uma garagem na Rua Santa Rita Durão, quase esquina com a Rua Rio Grande do Norte, no Bairro Funcionários, foi um dos infratores que escapou de ser punido e que reforça a afirmação de que a maior parte das infrações não chega ao conhecimento dos fiscais.