postado em 22/04/2009 08:00
Grande benefÃcio da vida moderna, a iluminação artificial pode, se instalada sem controle, aumentar a concentração de insetos e potencializar a transmissão da doença de Chagas e da leishmaniose. Esse é um dos resultados da pesquisa realizada durante dois anos por Alessandro Barghini, economista com doutorado em ecologia e pesquisador do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP). O estudo concluiu que o uso de um filtro de radiação ultravioleta imperceptÃvel nas luminárias faz com que menos insetos sejam atraÃdos e reduz o risco de contato da população com alguns transmissores de doenças.
Além da doença de Chagas e da leishmaniose, segundo Barghini, há suspeitas de que a iluminação artificial pode ser um elemento propÃcio à difusão de enfermidades como a malária. A principal razão, de acordo com autor, é que a luz não natural rompe os ciclos circadianos dos insetos e pode aumentar o perÃodo de forragiamento (de atividade), desperdiçando o tempo que seria utilizado na reprodução das espécies. ;Evidentemente que a luz artificial é de grande utilidade, mas precisamos pensar, conforme escreveu o diretor da revista Leukos, da American Association of Illuminating Engeneering: como o ar e a água, a luz é algo do qual temos necessidade, mas, como a água e o ar, é necessário realizar alguns ajustes se queremos distribuÃ-la de forma adequada e econômica.;
Depois de observar cinco coletores acoplados em postes com lâmpadas de vapor de sódio e de mercúrio, além de um sem qualquer iluminação, a pesquisa verificou que o coletor instalado em um poste que não possuÃa iluminação capturou apenas oito insetos por dia. Já o suporte acoplado na lâmpada de sódio registrou 43 insetos, enquanto o coletor na lâmpada de mercúrio capturou 70 animais. Com o filtro de radiação ultravioleta, as luminárias atraÃram menos insetos: 16 (vapor de sódio) e 24 (vapor de mercúrio). ;O filtro reduz a exposição da radiação e evita que o inseto se guie pela luz;, ressalta o pesquisador da USP. Cada filtro tem custo estimado em apenas R$ 0,10.
Sugestões
Em seu estudo, Barghini sugere a adoção de medidas de controle da iluminação pelos grandes projetos de distribuição e conservação de energia elétrica como o Luz para Todos e o Programa de Eficiência da Iluminação Pública (Prolux), ambas iniciativas do governo federal. ;Esses projetos devem levar em conta o impacto da iluminação, especialmente nas periferias das grandes cidades. Nessas regiões, as luzes atraem o inseto transmissor da leishmaniose, que parasita cachorros e galinhas que, por sua vez, levam a doença para o homem;, observa.
A assessoria do Programa Luz para Todos afirma, em nota, que a iniciativa foi criada para levar o acesso à energia elétrica aos domicÃlios do meio rural brasileiro que ainda não dispõem desse serviço. ;Não temos conhecimento da pesquisa, mas os materiais utilizados para a construção e manutenção da rede, bem como para a instalação interna das residências, são de responsabilidade das concessionárias de energia elétrica;, diz o texto.
» Ãudio: ouça trecho da entrevista com Alessandro Barghini, autor do estudo