Brasil

Projetos pioneiros de conservação mostram que ainda existe esperança para os recifes

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postado em 10/05/2009 08:06
A entrada da praia de Tamandaré, no litoral sul pernambucano, distingue-se de todas as outras da região. O monótono cenário das plantações de cana-de-açúcar é substituído pelo verde fechado da Mata Atlântica. É verdade que trata-se de um trecho mínimo, 6km;, mas o fato de serem encontradas árvores nativas no meio da devastação provocada por usinas e pela ocupação urbana desordenada é quase um milagre. Ao cruzar a pequena floresta em direção à praia, o forasteiro tem outra surpresa. Em um trecho de mar de 4km;, cercado por boias pretas para isolar a área de pescadores e turistas, estende-se uma reserva marinha. O espaço fechado existe há 10 anos e está localizado dentro da Área de Proteção Costa dos Corais, entre municípios de Pernambuco e Alagoas, criada por decreto federal em 2007. A reserva partiu de um acordo entre a prefeitura, a comunidade e uma parceria entre professores da Universidade Federal de Pernambuco e o Ibama. É mantida por recursos do Instituto Recifes Costeiros, uma organização não governamental. A área serve de laboratório de pesquisas, mas o que mais impressiona é a oportunidade que deu às espécies de se reproduzirem e crescerem dentro de um local protegido da ação do homem. Os corais da reserva servem como berçário. Espécies que estavam com os dias contados pela pesca predatória, a poluição e a degradação dos recifes de corais voltaram a ser encontradas com facilidade dentro da área fechada. O peixe fluorescente (Microspathodon chrysurus), por exemplo, foi vítima dos colecionadores de animais marinhos em aquários e virou um bicho raro de se ver em mergulhos recreativos na Região Nordeste. Antes de chegar à fase adulta, quando atingem cerca de 15cm, eles eram capturados por mergulhadores. Hoje, a chance de encontrar um fluorescente na área fechada é pelo menos cinco vezes maior do que fora da reserva de Tamandaré. O mesmo ocorre com espécies consideradas nobres na culinária nordestina, como é o caso dos peixes vermelhos, a cioba, o dentão e a baúna. Todos eles, de uma forma geral, chegaram a aumentar a população em até 13 vezes, se comparados às mesmas espécies encontradas fora da área fechada. ;Não é uma questão de ufanismo conservacionista, mas uma questão social;, diz o oceanógrafo Mauro Maida, um dos idealizadores da área fechada de Tamandaré. Para ele, a solução para a degradação marinha está nas reservas. ;O mar é um bem público, se você não criar regras de proteção, acabou. O que se protege na reserva é uma fase da vida de várias espécies de animais marinhos.; Daí a importância, inclusive para o pescador. No Parque Municipal do Recife de Fora, em Arraial d;Ajuda (BA), a 730km de Salvador, pesquisadores do Projeto Coral Vivo trabalham para mostrar a população a importância do ambiente marinho. Fundado pelos especialistas Clóvis Castro e Débora Pires, a entidade realiza pesquisas e apresenta os corais aos turistas. No centro de visitantes onde funciona o projeto, há uma sala para exibição de vídeos sobre corais. Nos tanques, os turistas visualizam as colônias de corais com a ajuda de canos com lentes transparentes na ponta. Proteção No Brasil, menos de 0,1% da área do mar territorial é protegida. Um percentual bem diferente das áreas de proteção terrestres, onde cerca de 25% têm amparo de algum tipo de legislação. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc (leia entrevista exclusiva na edição de amanhã), chegou a prometer a criação de novas áreas de proteção marinha para que o percentual de reservas chegue a 10% em oito anos. Hoje, existem 13 áreas de proteção na região predominante dos recifes de corais, todas mapeadas no Atlas das Unidades de Conservação Brasileiras, editado pelo governo federal. Mas o desrespeito, mesmo nessas áreas, é frequente, inclusive no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, como mostrou a reportagem especial do Correio ao longo da semana. ;O mar tem suportado as barbaridades feitas pelo homem, mas uma hora ele vai cansar;, diz Zelinda Leão, professora da Universidade Federal da Bahia e uma das pioneiras nos estudos sobre a biodiversidade marinha. Decreto em análise A Casa Civil deve reanalisar um decreto sugerido pelo Ministério do Meio Ambiente cirando a Iniciativa Brasileira para a Conservação dos Recife de Coral. É uma tentativa de ampliar, integrar ações sobre biodiversidade dos ecossistemas recifais e entrar na prioridade de projetos do Plano Plurianual (PPA). O texto foi devolvido pela Casa Civil e deverá ser reapresentado pelo ministério nos próximos dias.

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