Brasil

Famílias de vítimas lutam contra violência praticada pela polícia no ES

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postado em 19/05/2009 16:17
;Esse é o meu filho que adorava me roubar um beijo. E os marginais fardados continuam matando.; O desabafo, aos prantos , é de Maria das Graças Nacort , uma comerciante de 59 anos que há quase dez, em 20 de junho de 1999, perdeu o filho Pedro Nacort, então com 26 anos e sem antecedentes criminais. O jovem foi executado com 22 tiros por quatro policiais no centro de Vitória. Com a foto do filho nas mãos, ela ainda transparece a dor e o inconformismo que a levaram a fundar a Associação de Mães e Familiares de Vítimas da Violência no Espírito Santo (Amafavves), entidade responsável pelas recentes denúncias de degradação e mortes violentas nos presídios do estado. ;É um tremendo descaso do Estado. Porcos vivem melhor que os presos da Casa de Custódia de Viana. São torturados e vivem soltos no pavilhão. Caem fezes nos presos do pavilhão de baixo, quando dão descarga no de cima;, descreve Maria das Graças. ;Eu sei que não vou consertar o mundo, mas não vou aceitar coisas erradas na minha frente.; A situação da Casa de Custódia de Viana, na Grande Vitória, e de outros presídios do estado motivou um pedido de intervenção federal por parte do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. A Amafavves tem documentados com fotos de pelo menos dez esquartejamentos no presídio de Viana, sem que ninguém tenha sido responsabilizado. São imagens de corpos mutilados, inclusive com órgãos internos e vísceras soltas, em caixas do Departamento Médico Legal (DML). ;Quando você está preso, fica sob custódia do Estado. O Estado deveria proteger, mas aqui parece que é o contrário. Temos muitos presos mortos e corpos que nunca apareceram. Há familiares de presos que dizem que lá dentro cortam os corpos e misturam as partes ao lixo para serem trituradas;, afirma Maria das Graças. A morte mais recente no presídio de Viana ocorreu ontem (18). José Antonio dos Santos, 43 anos, preso por furto, teria sido assassinado por colegas de pavilhão e teve o corpo encontrado com diversas escoriações. Também há denúncias de tortura na casa de detenção. A violência policial ou a praticada por quadrilhas que dominam pavilhões são, para a Amafavves, frutos de uma mesma semente em um estado marcado historicamente pelas mortes bárbaras. ;A única coisa que temos organizada no Espírito Santo é o crime. Não tem lei nem Justiça. Os maus policiais continuam matando e aproveitam a presença do tráfico de drogas para simular trocas de tiros. Tem final de semana aqui que acontecem 40 homicídios, sem contar os enterrados em cova rasa que a gente nem vê;, ressalta Maria das Graças. ;Vemos corpos cortados e pergunto: como essa pessoas [os presos] conseguem armas capazes de separar o tronco de uma pessoa? Entram arma, celular e bebida [nos presídios], e não é pelos parentes, que são todos revistados.; No seu drama pessoal, a dirigente da Amafavves chegou a viver três semanas se passando por moradora de rua para conseguir informações sobre os policiais que assassinaram seu filho caçula. Pedrinho, como é chamado pela mãe, era lavador de carros, sofria de disritmia crônica e tinha saído de casa para comprar cigarros . No próximo dia 27, dois dos quatro policiais envolvidos no crime serão julgados no Tribunal do Júri. Um dos acusados é conhecido como Diabo Loiro. Fotos revelam perfurações em todas as partes do corpo de Pedro Nacort. ;Até hoje espero meu filho. Se a campainha toca, queria que fosse ele chegando. Sei que infelizmente jamais vou recuperar meu filho. Mas quero que eles (os policiais) não saiam do Fórum para a casa tranquilos com a certeza da impunidade;, diz Maria dos Graças. Assim como Maria das Graças, há várias outras mulheres no Espírito Santo dispostas permanentemente a protestar contra a violência que se abateu sobre familiares, trabalhadores ou presos. A coragem de denunciar a violência policial e as omissões do Estado já renderam, segundo a Amafavves, ameaças de morte a essas mães e companheiras. Elas já foram a Brasília levar seu grito, mas dizem só receber promessas vazias de autoridades. ;Nem que eu tenha que pagar com o meu sangue, mas para me calar vão que ter que me matar;, promete Maria das Graças.

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