Brasil

Pesquisa do IBGE com dados de 2007 mostra que a evasão nas turmas de jovens e adultos chega a 42,7%

Maior dificuldade dos alunos é conciliar a sala de aula com o trabalho

postado em 23/05/2009 08:10
Os brasileiros que não tiveram a oportunidade de estudar na época adequada até tentam recuperar o tempo perdido, mas, sem conseguir conciliar as atividades escolares com o trabalho, acabam abandonando a sala de aula. Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a evasão na educação de jovens e adultos (EJA) chegou a 42,7% em 2007. Naquele ano, data de referência do estudo, havia 8 milhões de pessoas matriculadas no antigo supletivo. O principal motivo apontado pelos estudantes que abandonaram a escola foi a incompatibilidade do horário das aulas com o trabalho. Essa dificuldade quase fez o segurança Olavo Alves de Araújo, 52 anos, morador de Valparaíso (GO), deixar de lado o sonho de ter um diploma. Ele largou os estudos pela primeira vez quando estava na 4ª série, época em que vivia em Ouro Branco (RN). No ano passado, resolveu voltar à escola, mas, no segundo semestre, sentiu-se cansado com a dupla jornada e trancou a matrícula. Pensou e voltou atrás na decisão, encarando a jornada que o faz sair de casa às 6h e só voltar à meia-noite. Agora, está prestes a terminar o ensino fundamental. ;Vale a pena em todos os aspectos. Além de poder melhorar no mercado de trabalho, você se ocupa;, diz Olavo, que tem uma filha formada em letras. ;Ela me ajuda muito;, conta. Para Jorge Werthein, diretor executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), a dificuldade em conciliar os horários exige mais investimento na educação a distância. ;A tecnologia não está sendo bem aproveitada. Se o estudante não consegue conciliar o trabalho com as aulas, isso é algo que a educação a distância poderia resolver;, aposta. Considerando que os frequentadores da EJA pertencem às classes mais pobres, Werthein acredita que os telecentros gratuitos poderiam ser aproveitados para esse fim. De acordo com Jorge Teles, diretor de políticas de EJA do Ministério da Educação (MEC), o ensino não presencial é uma das frentes com as quais a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade pretende trabalhar. A outra refere-se à flexibilidade dos turnos escolares. ;Quase 90% dos cursos concentram-se à noite, mas hoje a dinâmica do mercado de trabalho é outra. E profissionais como garçons, vigilantes noturnos e vendedores de loja, por exemplo, não conseguem estudar à noite;, diz. Social Teles conta que o MEC negocia com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) cursos de extensão oferecidos por universidades públicas e pelos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifets) para capacitar os professores de EJA. A ideia é que eles possam discutir com seus alunos questões voltadas para o mercado de trabalho. ;A educação de jovens e adultos não é só uma questão de escolarização, mas de inserção social;, diz. Aos 57 anos, Dorotea Maria Rico de Araújo concorda com o diretor do MEC. No ano passado, a dona de casa sentiu-se deprimida e procurou algo para se distrair. ;Resolvi voltar a estudar. É maravilhoso;, diz. Colega de escola de Dorotea, Pedro Serra, 42 anos, morador de São Sebastião, quer se formar em turismo depois de concluir o ensino médio. Há quatro anos, quando trabalhava como vigia, decidiu voltar a estudar. Cheio de empolgação, conta que a rotina é cansativa e puxada ; inclui quatro viagens diárias como motorista de ônibus escolar ;, mas que vale a pena. ;Se você tem um sonho grande, você tem coragem de lutar.;
Qualificação profissional Em 2007, 35,6 milhões de brasileiros frequentavam ou já haviam passado por cursos de qualificação profissional, segundo a pesquisa divulgada ontem pelo IBGE. Porém, uma em cada 10 pessoas abandonou as aulas antes de conseguir o certificado. A maioria justificou alegando que não tinha dinheiro para continuar o estudo. O professor da Universidade de Brasília (UnB) e consultor especial da Unesco Célio da Cunha acredita que os resultados apontam para a necessidade de maior investimento na qualificação. ;Há necessidade de um PDE da educação profissional;, diz, referindo-se ao Plano de Desenvolvimento da Educação, lançado há dois anos pelo Ministério da Educação (MEC), concentrado no ciclo básico. Cunha diz que, se por um lado os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifets) desempenham um papel importante para formar quadros tecnológicos no país, por outro, milhões de pessoas, principalmente de renda mais baixa, precisam mais de ensino profissionalizante para serem incluídas. ;Um investimento nessa área é fundamental para a geração de empregos e para colocar cada vez mais o sistema informal numa sociedade de mercado;, diz. Ele sustenta que um programa de educação voltado à formação profissional tem de levar em conta a demanda da sociedade. ;É preciso oferecer diferentes opções e possibilidades a esse público.; O especialista lembra que a pesquisa do IBGE ressalta a importância da qualificação na vida dos estudantes. Mais da metade daqueles que fizeram cursos profissionalizantes estavam trabalhando. ;Esse é um dado muito positivo. A educação continua sendo a grande estratégia da inclusão.; (PO)

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