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Adiado julgamento dos acusados de matar jovem em ritual inspirado em jogo

Manobra adia para julho o julgamento dos acusados de matar, em 2001, uma jovem durante ritual inspirado em jogo de RPG. Advogados dos réus alegam que precisam de mais tempo para a defesa

postado em 26/05/2009 08:41
Um dos crimes mais chocantes dos últimos anos em Minas Gerais, o assassinato da estudante Aline Silveira Soares, encontrada morta na madrugada de 14 de outubro de 2001 no Cemitério da Igreja Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia, terá desfecho apenas em 1º de julho. A juíza da Vara Criminal de Ouro Preto, Lúcia de Fátima Magalhães, adiou ontem o julgamento dos quatro suspeitos de executar a jovem durante um ritual macabro, que teria sido inspirado em um jogo de role playing game (RPG), segundo o Ministério Público (MP). O julgamento de Camila Dolabella Silveira, 27 anos, prima de Aline; Cassiano Inácio Garcia, Maicon Fernandes Lopes e Edson Poloni Lobo de Aguiar, todos de 28 anos, estava marcado para as 12h de ontem, mas não pôde ocorrer porque os advogados dos jovens não compareceram à audiência. A medida frustrou dezenas de amigos e familiares de Aline, que viajaram de Manhumirim, na Zona da Mata, terra natal da vítima, para acompanhar de perto o júri popular. Durante a saída dos acusados do Fórum, houve tumulto, e um irmão de Aline, Daniel Silveira Soares, 27 anos, foi preso por danificar o carro onde estava Cassiano Garcia. Daniel foi liberado depois de assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), na Delegacia de Ouro Preto. Defensor de Cassiano e Edson, o advogado Guilherme Marinho enviou um representante ao Fórum para pedir o desmembramento do processo, sob a alegação de que a complexidade do caso exigiria mais tempo para a defesa dos réus. O advogado de Maicon Lopes, Luis Carlos Bento, também enviou representante para pedir o cancelamento. Estratégia A juíza explicou que o julgamento somente poderia ser adiado por ausência dos defensores, sem justificativa, uma única vez. Portanto, se não comparecerem na próxima sessão, os acusados serão defendidos por dois criminalistas da cidade. ;A gente sabe que foi uma manobra estratégica. Quero apenas entender por que a lei dá essa chance, faz todo mundo de bobo, inclusive a Justiça;, disse a mãe de Aline, a aposentada Maria José da Silveira Soares, 60 anos, que passou todo o julgamento na sala reservada às 35 testemunhas arroladas pelo MP e defesa dos réus. ;Todas as noites, tento entender exatamente o que aconteceu com minha filha. Ela está bem, mas eu não;, disse, segundos antes de cair em um choro convulsivo, sentada em um banco do Júri. ;Que raiva! Que ódio!”, sussurrou, apertando os olhos. Aline tinha 18 anos quando viajou a Ouro Preto, em 2001, para participar da Festa do Doze, com a prima Camila Dolabella. As duas se hospedaram na República Sonata, a convite de Cassiano, Maicon e Edson, moradores do local. Dois dias depois, o corpo da jovem foi encontrado no cemitério, despido, com os braços abertos e pés sobrepostos, apresentando 17 perfurações feitas com um instrumento cortante. Os cortes estavam espalhados por diversas partes, sendo o mais extenso no pescoço. Desde o início, a polícia trabalhou com a suspeita de que a estudante teria sido morta em um ritual semelhante ao de magia negra, durante uma partida de RPG. Apesar dos suspeitos negarem envolvimento com o crime, a polícia encontrou livros e revistas de RPG e satanismo na República Sonata. Os advogados de defesa dos jovens acusados da morte de Aline dizem que o MP produziu uma peça de ficção, sem provas contundentes. ;Pessoas inocentes estão pagando por aquilo que não cometeram;, disse o policial civil aposentado Edson Lobo de Aguiar, pai do jovem Edson Poloni, um dos acusados.

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