postado em 27/05/2009 16:13
Rio de Janeiro - O Instituto Nacional do Câncer (Inca) quer que as indústrias de cigarro exibam as imagens de advertência contra o fumo também na frente do maço e não apenas no verso do pacote, como acontece hoje. A afirmação foi feita pelo diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini, depois de ver os resultados de um estudo internacional feito no Brasil e em mais 20 países.
A pesquisa, coordenada pelo International Tobacco Control Policy Evaluation Project (ITC) e divulgada nesta quarta-feira (27/5), mostra que apenas 50% dos fumantes e 28% dos não fumantes notam, com frequência, as advertências sanitárias nos maços. Uma das explicações para isso, segundo o estudo, seria o fato de as imagens e frases que chamam a atenção para os riscos do fumo só serem impressas na parte de trás do maço.
;É uma recomendação [do estudo] inteiramente apropriada e nós vamos fazer todo o esforço para que isso seja utilizado também. Hoje isso é regulado pela vigilância sanitária, por uma legislação específica. Precisamos verificar o que vai ser necessário fazer, em termos de legislação, para que seja alcançado esse resultado;, disse Santini.
O coordenador do ITC e pesquisador da Universidade de Waterloo, no Canadá, Geoffrey Fong, afirma que as pessoas tendem a olhar mais a frente do maço do que o verso. ;Como no Brasil, não há advertências na frente, elas não estão sendo vistas com a frequência devida. E pelo fato de serem tão fortes, o Brasil gostaria que mais pessoas vissem essas advertências com mais frequência. Além disso, nas lojas, apenas a parte da frente do maço é exposta;, disse Fong.
Os dados divulgados hoje são apenas preliminares, já que das 1.800 pessoas previstas para serem ouvidas, apenas 717 responderam às perguntas feitas pelos entrevistadores, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Apesar de a pesquisa mostrar que é grande o número de pessoas que não olha com freqüência para as advertências, também é expressiva a quantidade de fumantes que sentem o impacto dessas mesmas imagens e frases.
Segundo o estudo, 48,2% dos fumantes dizem que as advertências os deixam mais propensos a deixar de fumar e 39,1% afirmam que já deixaram de pegar um cigarro no maço depois de olhar para essas imagens e frases.
Além disso, 61,6% dos fumantes e 83,2% dos não fumantes disseram que esses avisos já os fizeram pensar sobre os riscos do cigarro. E 91,8% dos fumantes ouvidos disseram que, se pudessem, voltariam atrás e não teriam começado a fumar.
A pesquisa também constatou que é grande o número de pessoas que conhecem os danos à saúde provocados pelo cigarro. Entre os fumantes, 95% sabem que o fumo causa doença cardíaca e câncer de boca, 96% que causa câncer de pulmão em fumantes e deixa dentes escuros, 83,2% que causa derrame, 88,2% que provoca asma em crianças, 81,9% que provoca impotência, 78,2% que causa câncer de pulmão em não fumantes e 43,6% que causa cegueira.
Entre os não fumantes, o estudo indica que 99% sabem que o fumo causa câncer de pulmão em fumantes, 97,7% que causa câncer de boca, 95,5% que causa doença cardíaca e 93,7% que provoca asma em crianças.
Para a técnica da Divisão de Controle do Tabagismo do Inca Cristina Perez, a pesquisa mostra que o conhecimento das pessoas sobre a relação do cigarro com determinadas doenças é grande. A exceção fica por conta da relação entre o fumo e a cegueira. ;Talvez seja necessário incluir informações sobre a cegueira nas próximas advertências;, disse.
O governo brasileiro adotou as advertências sanitárias com imagens e frases de efeito em 2002, depois de assinar a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, que também tem outros países como signatários.
"Ainda há desafios para o Brasil enfrentar, em um país onde cerca de 30 milhões de pessoas fumam. Mas o Brasil tem feito muito em suas políticas, especialmente no que se refere às advertências. As advertências brasileiras são provavelmente as mais dramáticas e mais impactantes em todo o mundo", afirmou Geoffrey Fong.