postado em 28/05/2009 08:00
Um estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e da Universidade de Waterloo, do Canadá, sobre as imagens e frases de alerta contra o tabagismo obrigatórias desde 2002 em todos os maços de cigarros produzidos no Brasil revela que 91,8% dos fumantes, se pudessem voltar atrás, não teriam começado a fumar. A pesquisa, que ouviu 717 pessoas do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, mostra ainda que a publicidade obrigatória nos maços impediu 39,1% dos fumantes de pegar um cigarro nos últimos 30 dias antes da realização do levantamento.
Divulgados ontem pelo Inca, os dados, preliminares, integram o estudo International Tobacco Control Policy Evaluation Project, sobre polÃticas de controle do tabaco que pela primeira vez é aplicada no paÃs. O trabalho, que engloba outros 20 paÃses, constatou que 43,8% dos fumantes tiveram que se esforçar para evitar olhar ou pensar sobre as advertências. Outros 32,7% dos fumantes leram ou olharam atentamente para as advertências dos rótulos ;frequentemente; ou ;muito frequentemente;.
Chefe da Divisão de Controle de Tabagismo do Inca, Tânia Cavalcante diz que o estudo confirma os dois objetivos da campanha nos maços de cigarro: ;Comunicar de forma contundente a realidade do risco e estimular os fumantes a largarem o vÃcio;.
Mudanças até dezembro A partir de 27 de dezembro deste ano, todos os fabricantes de cigarro devem disponibilizar em todos os pontos de venda do paÃs os maços com as 10 novas imagens de advertência. Conforme resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o prazo para a produção dos pacotes com a publicidade antiga se encerrou em 26 de maio. Apesar da determinação da agência reguladora, as empresas Souza Cruz e Philip Moris e o SindiTabaco do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul ingressaram com pedidos de liminares na Justiça para tentar impedir a veiculação das novas cenas. A Justiça negou todas as tentativas da indústria do tabaco. As fotografias que vão ilustrar o verso de todos os maços a partir de dezembro ; alguns já decidiram utilizá-las ; fazem parte da terceira geração das imagens que os fabricantes de cigarro são obrigados a veicular. Publicada em 2001, a lei que obriga a inserção das fotos nas embalagens, de advertências sanitárias e do número do telefone do Disque Saúde passou a vigorar em 2002. Dois anos depois, o Ministério da Saúde enviou 19 novas imagens, cujo custo de impressão é bancado pelas empresas produtoras de tabaco. Redução Em queda, o hábito de fumar é praticado por pelo menos 27,5 milhões de brasileiros (21%), segundo a estimativa mais recente do Ministério da Saúde, divulgada em 2003. Em 1989, o vÃcio atingia 35% da população brasileira. ;Embora a prevalência dos fumantes nas capitais venha caindo entre os dois sexos, a redução é menos acentuada entre as mulheres;, informa a chefe da divisão de Controle de Tabagismo do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Tânia Cavalcante, lembrando que o tabaco é responsável por pelo menos 200 mil mortes a cada ano no Brasil. Mesmo com a alta mortalidade, a indústria do cigarro faturou em 2007 aproximadamente R$ 4 bilhões, valor equivalente à venda de 5,7 bilhões de maços, segundo estimativas da Receita Federal. O aumento dos impostos sobre o tabaco, de acordo com Cavalcante, pode salvar muitas vidas. ;Essas medidas, inclusive, são recomendadas pelo Banco Mundial como uma estratégia para frear o consumo do cigarro em todo o planeta;, acrescenta. Somente com internações e procedimentos de quimioterapia para o tratamento de 32 patologias ocasionadas em consequência do uso do tabaco, o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta pelo menos R$ 330 milhões a cada ano, conforme mostrou pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 2005. ;Esse valor corresponde a quase 30% dos gastos do SUS com internações hospitalares;, conclui Tânia.