postado em 01/06/2009 15:19
Paris - A zona atravessada pelo avião da Air France, desaparecido nesta segunda-feira entre o Rio de Janeiro e Paris, é conhecida pelos pilotos pela violência de suas turbulências que, associadas a raios, podem explicar o acidente, entre as inúmeras causas possíveis, segundo especialistas.
"A aeronave passou pela zona de convergência intertropical que é conhecida por suas fortes turbulências e seus trovões violentos. Os pilotos que conhecem a rota entre a América do Sul e a Europa ou a África do Sul e a Europa sabem disso", indicou Robert Galan, especialista em aeronáutica e investigador independente de acidentes de aviões.
"Nesta zona, as nuvens sobem muito alto. Os aviões são equipados com radares meteorológicos que mostram as zonas de turbulências mais ativas e as rotas de contorno. Às vezes, fazemos grandes voltas para evitá-las", explicou.
Segundo a Air France, a aeronave desaparecida entrou numa zona turbulenta com fortes perturbações e teria sido muito provavelmente atingida por um raio, como sugeriu o diretor de Comunicação da Air France, François Brousse. "Esta é a causa do acidente? Não sabemos", disse Galan.
A zona na qual estava o A330 da Air France não foi detectada pelos radares, o que explica a ausência de localização precisa do avião. "Os radares cobrem as zonas habitadas. Mas em pleno meio do oceano, não há mais cobertura de radar", explicou Galan.
Nestas zonas não cobertas pelo radar, os pilotos devem comunicar a cada 15 minutos os sistemas de controle por rádio. Era o caso do Air France.
O raio e as turbulências podem ter provocado defeitos, mas nem sempre causam acidentes, ressaltaram os especialistas entrevistados.
"Um raio é uma hipótese, isto acontece com relativa freqüência", disse Yves Deshayes, do Sindicato Nacional dos pilotos de linha (SNPL).
"O raio pode ter uma consequência mecânica, pode perfurar a aeronave, mas geralmente ela pode continuar voando. O raio pode também danificar o sistema elétrico, causando consequentemente problemas na parte elétrica do avião, o que é mais nefasto", observou Vincent Favé, especialistas dos tribunais para acidentes de aviões, em uma entrevista.
"Em um avião, tudo é de metal, quando o raio atinge o avião ele atravessa a fuselagem. Em contrapartida, pode acontecer de, após um raio, haver danos em alguns sistemas, em particular em sistemas de comunicação, de navegação", explicou Deshayes.
"É extremamente raro um raio colocar em risco a segurança do voo e o estado da aeronave", disse. "O raio pode explicar o fato de não ter contato por rádio, porque atinge primeiro a parte elétrica, mas é tudo. Daí a dizer que isto explica a perda total do avião, é precipitado", continuou..
"Não dá para imaginar o raio que cai sobre um avião e o faz explodir. Isso vai induzir a um certo número de panes, mais ou menos graves, mas pelo que eu sei não temos exemplo de aviões que explodiram por terem sido atingidos por um raio", insistiu.