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Especialistas cogitam as mais variadas hipóteses para a queda, de turbulência a raios

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postado em 02/06/2009 08:42
Forte turbulência, raios, pane elétrica, despressurização, explosão. Enquanto a caixa-preta do Airbus A330-200 não for localizada, todas as hipóteses para a provável queda do avião que fazia o voo AF-447, entre o Rio e Paris, são consideradas válidas pelas autoridades. François Brousse, diretor de comunicação da Air France, afirmou que a tese mais provável é de que uma tempestade elétrica tenha atingido a aeronave. No entanto, especialistas consultados pelo Correio praticamente descartaram essa possibilidade. ;Mesmo que um raio caísse sobre um Airbus, dificilmente seria suficiente para derrubá-lo;, afirmou o norte-americano William ;Bill; Waldock, cientista aeroespacial que acumula mais de 25 anos de experiência em investigação de desastres aéreos e leciona na Universidade Aeronáutica Embry-Riddle, em Prescott (Arizona). Segundo ele, a linha de produção das aeronaves insere no projeto sistemas de proteção contra descargas elétricas. ;Enquanto a fuselagem da aeronave permanece intacta, o raio passa ao redor e através da estrutura e sai;, explicou. Dennis Lessard, também especialista em acidentes aéreos e ex-piloto com mais de 6 mil horas de voo, considera ;ilógica; a teoria de Brousse. ;Não existe ponto de contato com o chão no avião em pleno ar. Por isso, o raio simplesmente atravessa a aeronave;, garantiu. ;Mesmo uma completa falha eletrônica em pleno voo seria improvável.; Waldock acredita que os raios representariam um sério risco para um avião com pouco combustível, o que não era o caso do voo AF-447, que não havia concluído nem a metade da rota prevista. A falta de querosene de aviação potencializaria o perigo de uma explosão no tanque. Ainda que o A330-200 tenha sofrido pane elétrica generalizada, acionaria a Turbina de Ar Ram (RAT, pela sigla em inglês). O ;ventilador; automaticamente se desprenderia da parte lateral da fuselagem, funcionando como gerador eólico. O equipamento forneceria potência elétrica e hidráulica suficiente para o voo. O norte-americano William Voss, diretor do Comitê de Navegação Aérea da Organização Internacional de Aviação Civil (Icao, pela sigla em inglês) e presidente da Flight Safety Foundation (FSF), também reiterou que os modernos aviões costumam voar ao redor e sobre fortes tempestades. Opções ;Quando ocorrem danos, normalmente trata-se de um pequeno buraco na asa;, disse o especialista. Segundo Voss, muitas vezes o piloto não percebe que uma descarga elétrica caiu sobre o avião. ;Os sistemas eletrônicos do A330-200 são desenhados para resistir aos pulsos eletrônicos associados pelo raio. Além disso, a aeronave estava equipada com um sofisticado radar meteorológico em voo;, acrescentou. Com esse recurso tecnológico, o piloto poderia ter voado em torno da tempestade e teria as opções de retornar ao Brasil ou alterar a rota, mediante autorização da torre de controle mais próxima. Também se sabe que, às 23h de domingo, o AF-447 atravessou forte área de turbulência. Cerca de quatro horas depois da decolagem no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, o piloto e os copilotos relataram ter encontrado uma região de intensa atividade de cumulonimbus ;nuvens altas, densas, que formam paredões de 20km de altura e abrigam tempestades. Esses tipos de nuvens são mais comuns no cinturão do Equador. Waldock admitiu que o A330-220 pode ter penetrado numa célula de tempestades e as forças físicas decorrentes levaram a uma ruptura do avião em pleno voo ou fizeram com que a tripulação perdesse controle. Mas um fato o intriga: o alerta automático da aeronave indicou pane elétrica e perda de pressurização. ;Os sistemas são separados, e o fato de não ter havido comunicação dos pilotos depois disso pode indicar que algo catastrófico ocorreu rapidamente;, comentou. Waldock não descartou a possibilidade de uma explosão de bomba a bordo. Perda de consciência A 35 mil pés de altitude (10.668m), o ar é extremamente rarefeito e a temperatura chega a 50 graus Celsius abaixo de zero. O avião Airbus A330-200 da Air France que fazia o voo AF-447 se mantinha nessa altitude quando saiu da cobertura do Cindacta 3, do Arquipélago de Fernando de Noronha. Exatamente 26 minutos depois, a companhia francesa recebeu alertas automáticos da aeronave, indicando perda de pressurização e pane elétrica em vários aparelhos. Uma rápida despressurização provavelmente estouraria os ouvidos de alguns dos 216 passageiros e 12 tripulantes. Os ocupantes da aeronave sentiriam inchaço no abdome, com uma perda de consciência relativamente rápida devido à hipoxia (privação de oxigênio). As máscaras de oxigênio cairiam, fornecendo apenas 15 minutos de ar extra ; tempo em que o piloto precisaria descer a aeronave até uma altitude de 3 mil metros. As informações sobre o que pode ter ocorrido a bordo do avião foram repassadas ao Correio pelo norte-americano William Waldock, perito em acidentes aéreos pela Universidade Aeronáutica Embry-Riddle, em Prescott (Arizona). ;Uma manobra de mergulho emergencial seria o procedimento normal, caso tivesse ocorrido apenas a despressurização;, afirmou. Kieran Daly, diretor executivo da revista Flight ; com sede em Londres ; e especialista em aviação, concorda com Waldock. ;Se o Airbus ficou sem pressurização a 35 mil pés realmente, as pessoas começariam a perder a consciência cerca de um minuto depois, a menos que o avião descesse rapidamente a 12 mil pés (3.650m).;

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