postado em 03/06/2009 08:31
Para o ministro da Defesa, Nelson Jobim, não restam dúvidas sobre o destino do Airbus A330-200 da Air France, que levava 228 passageiros (dos quais , segundo a Anac, 57 brasileiros) e é dado como desaparecido desde o fim da noite de domingo: o avião caiu no Oceano Atlântico, no meio do caminho entre o Rio de Janeiro e Paris, onde deveria ter pousado no início da manhã de segunda-feira. Jobim se baseia nas informações da tripulação de uma aeronave de buscas da Força Aérea Brasileira (FAB), que por volta das 12h30 de ontem avistou destroços ao longo de uma faixa de 5km, a 400 milhas náuticas (720 km) do arquipélago de Fernando de Noronha e a 700 milhas de Recife (1.296 km).
No começo da manhã de terça-feira, às 6h49, na mesma região, outra equipe da FAB havia identificado pequenas peças brancas, uma boia laranja e um tambor, além de vestígios de óleo e querosene. Jobim diz ter sido cabal a identificação de outros diversos itens que compõem uma aeronave, como fios e metais, no início da tarde, próximo aos arquipélagos de São Pedro e São Paulo, nos limites territoriais brasileiros. ;Avistamos uma faixa de 5km de destroços, o que confirma que o avião caiu naquele local;, sentenciou, mesmo que nenhum objeto ainda tenha sido efetivamente recuperado.
Agora, segundo o ministro, a busca é por corpos ou sobreviventes. ;Não foram visualizados corpos. Se encontramos algum, ele será levado para a ilha de Fernando de Noronha, onde montamos uma base primária, com peritos da Polícia Federal e do IML (Instituto Médico Legal) de Recife;, adiantou. Jobim, no entanto, não quis falar em prazo para as buscas nem nas chances de haver sobreviventes do voo 447 da Air France. ;Não trabalhamos com hipóteses. Se trabalhássemos, nem começaríamos as buscas. Elas serão feitas até considerarmos necessário;, ressaltou, dando a entender que as possibilidades são remotas. Desde segunda-feira, aeronaves e navios brasileiros e franceses continuam a procurar destroços e eventuais sobreviventes.
Em entrevista ao Correio, o cônsul do Brasil no Rio de Janeiro, Hugues Goisbault, disse confiar nas informações passadas por Jobim. ;Se o ministro diz que os destroços são do avião da Air France, nós acreditamos;, frisou. Ontem à noite, o vice-presidente, José Alencar, que exerce a Presidência durante a viagem de Luiz Inácio Lula da Silva, anunciou que decretará três dias de luto no país.
Ajuda do DF
Ontem, o IML do Distrito Federal ofereceu uma equipe de antropologia forense (trabalha na identificação de corpos carbonizados ou em estado de ossada) para ajudar nas buscas. Na manhã de hoje, o médico legista Cristofer Diego Beraldi Martins parte para Recife, onde tem a missão de mapear as necessidades do serviço desempenhado pelos profissionais de Brasília. ;Se for o caso, ele vai mobilizar o restante da equipe, que está pronta para atender ao chamado;, diz Malthus Fonseca Galvão, um dos quatro médicos destacados pelo IML/DF para o serviço.
O grupo tem experiência em desastres de massa. Composta na totalidade por 18 profissionais, a equipe trabalhou no acidente do voo 1907 da Gol, que caiu depois de se chocar com um jato Legacy em setembro de 2006, causando a morte de 154 pessoas. Os médicos também prestaram serviços depois do terremoto que atingiu o Peru em 2007, matando mais de 500 pessoas, e no incêndio de um supermercado no Paraguai, em 2004, que causou mais de 300 mortes. (Colaborou Rodolfo Borges)
Da esperança à resignação
Antes de informar a imprensa sobre a descoberta dos destroços que acredita ser do Airbus A330-200 da Air France, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, participou de um encontro com familiares dos ocupantes da aeronave desaparecida, no Hotel Windsor, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes da reunião, o clima entre os parentes era de cultivar qualquer esperança possível. Depois, a resignação tomou conta da maioria. O sentimento mudou depois de Jobim garantir se tratar de um acidente.
Boa parte dos mais de 60 familiares presente no salão de convenções do primeiro subsolo do hotel ; são quatro ; não segurou o choro. Um deles ainda insistiu e questionou o ministro sobre as chances de a aeronave ter pousado em uma ilha no meio do Oceano Atlântico. Jobim descartou a possibilidade ; não há uma ilha na região. A reunião, que durou quase uma hora, foi restrita aos familiares e autoridades brasileiras e francesas, além de representantes da Air France e de médicos e psicólogos contratados pela empresa. Mas o Correio conversou com seis parentes de passageiros, depois do encontro. Eles relataram as reações.
Um dos mais conformados era Aldair Gomes de Oliveira, pai de Marcelo Parente, chefe de gabinete do prefeito carioca Eduardo Paes (PMDB). ;Minha preocupação agora é enterrar o corpo do meu filho;, afirmou. Aldair não vê Marcelo há dois meses. Pela manhã, Diana Raquel, mãe do dentista José Ronnel de Amorim, que mora em Londres e veio ao Brasil comemorar o aniversário com a família, não escondia a indignação com a falta de informações precisas. ;Não entendo como um avião possante cai e ninguém tem nada a dizer. Ele veio visitar a família e morreu no dia do aniversário;, lamentou, em lágrimas.