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As mensagens eletrônicas não desvendam as causas do acidente, mas indicam que os momentos finais do voo foram assustadores

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postado em 04/06/2009 08:22
Quatro minutos são uma eternidade na aviação. O tempo seria suficiente para que os pilotos do Airbus A330-200 retomassem o controle da aeronave, caso pudessem. No entanto, algo catastrófico provavelmente ocorreu no interior do voo AF-447, impedindo-os de realizar qualquer manobra para salvar os 216 passageiros e 12 tripulantes. Quatro minutos também é o intervalo entre o primeiro sinal de problema emitido eletronicamente pelo avião da Air France e a mensagem automática indicando ;cabine em velocidade vertical;, significando despressurização interna. Sob condição de anonimato, um piloto norte-americano de 51 anos afirmou ao Correio que os dados do Sistema de Comunicação e Reporte (Acars, pela sigla em inglês) sugerem que a aeronave começou a se desintegrar lentamente. ;Deve ter sido uma situação muito assustadora;, disse o capitão, que faz as rotas Washington-Rio de Janeiro e Washington-São Paulo a bordo de um Boeing 767. ;Eu temo que, com esse acidente, precise descobrir coisas que preferiria não saber: que um raio ou uma turbulência pode destruir um Airbus ou que os pilotos tomaram uma decisão errada;, acrescentou. As últimas mensagens enviadas pelo A330-200 mostram que, por 3 horas e 17 minutos, o voo transcorreu normalmente na noite de domingo. Às 23h, a tripulação informou que sobrevoava uma área instável. Talvez os pilotos não imaginassem que a tempestade à frente ; produto da zona de interconvergência tropical ; tinha 150km de comprimento e apresentava nuvens cúmulo-nimbus (capazes de abrigar granizo, raios e chuva intensa) de 20km de altura. É possível que o radar também não tenha ajudado o comandante a prever a violência da tempestade. Às 23h10, uma nova mensagem: o piloto automático havia se desconectado. O cientista aeroespacial William Waldock, da Universidade Aeronáutica Embry-Riddle (no Arizona), explicou que o sistema de gerenciamento de voo do Airbus provavelmente registrou um problema com a aeronave. Outra hipótese é que a tripulação tenha optado pelo controle manual, para atravessar a tempestade. A situação provavelmente piorou muito nos segundos seguintes, quando o Acars avisou que o fly-by-wire (sistema de controle de voo eletrônico) foi desativado, acionando o regime de alternative law (algo como comando alternativo). De acordo com Waldock, o sistema de gerenciamento de voo da maioria das aeronaves Airbus possui limitações que restringe os comandos do piloto. ;O regime de alternative law dá ao capitão maior poder de intervir;, comentou. Dennis Joseph Lessard, presidente da companhia Aviation Safety Associates, acha lógica a reversão para alternative law. Após o acionamento do regime, alarmes teriam soado no interior da cabine, indicando situação de emergência. Waldock acha que, naquele momento, o A330-200 estava caindo em rotação. Entre as 23h11 e 23h13, vários equipamentos de voo entraram em pane. Piloto de jatos comerciais da Boeing desde 1990, Patrick Smith disse ao Correio que os controles teriam diminuído devido a uma falha no sistema fly-by-wire. ;Parece que algo ocorreu no campo elétrico, talvez causado por um raio. A tripulação então perdeu controle, possivelmente depois de entrar numa tempestade intensa, e o avião se partiu antes de atingir a água.; O último sinal do A330-200 foi dado às 23h14: cabin vertical speed (cabine em velocidade vertical). Fundador da entidade Aviation Safety Network, que registra todos os incidentes aéreos no planeta, o holandês Harro Ranter explicou que nesse momento a pressão interna da cabine despencou. ;A noite escura, o Oceano Atlântico abaixo e nenhum sinal de horizonte, além dos defeitos nos instrumentos, podem ter desorientado a tripulação, selando o destino do AF-447;, disse.

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