Brasil

Declarações desencontradas de militares e do ministro da Defesa aumentam tensão

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postado em 06/06/2009 08:22
Constrangimento. Esse é o sentimento entre os oficiais da Marinha e da Força Aérea Brasileira (FAB) com a falta de confirmação do anúncio feito pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, de que os destroços e a mancha de óleo de 20km avistados por aviões de resgate brasileiros eram do Airbus 330-200 que desapareceu sobre o Oceano Atlântico na noite do último domingo, supostamente nas proximidades do Arquipélago de São Pedro e São Paulo. O jato da Air France viajava do Rio a Paris com 228 pessoas, entre elas 58 brasileiros. Depois de cinco dias de buscas, nenhum vestígio dos destroços que estavam boiando e foram detectados pelos aviões-patrulha tinha sido visto novamente ou recolhido até ontem à noite. Ainda na terça-feira, quando desembarcou no Rio de Janeiro depois de ter antecipado o retorno de sua viagem à Africa, Jobim causou surpresa entre os oficiais das duas Forças ao garantir serem do Airbus as peças avistadas ; uma poltrona, uma boia laranja, um tambor e vestígios de óleo e querosene. Em nota no mesmo dia, a FAB informou que os pilotos avistaram peças brancas e fiação boiando a cerca de 700km do Arquipélago de Fernando de Noronha. No dia seguinte, em Brasília, ao fazer uma apresentação na sala de guerra do Ministério da Defesa ; onde há comunicação online de áudio e vídeo com os 10 aviões e cinco navios que participam da operação de resgate ;, ele chegou a garantir que não tinha havido explosão do A330-200. Jobim usava como justificativa a mancha de óleo avistada no mar. O ministro chegou a essa conclusão na hora da apresentação aos jornalistas, sem consultar os especialistas militares, mesmo sabendo que o combustível da aviação é querosene e que a pouca quantidade de óleo nos aviões (cerca de 50 litros em cada tanque) não provocaria uma mancha de 20km de comprimento. Nem o estrado de madeira recolhido por um navio da Marinha era uma peça do jato francês. As duas boias que a Aeronáutica inicialmente tinha garantido terem sido resgatadas, nem chegaram a ser içadas da água pelo navio da Marinha ; embora os militares estejam convencidos de que elas pertenciam ao avião desaparecido. Uma só voz Nos dois primeiros dias da operação de resgate, tanto a FAB quanto a Marinha divulgavam notas separadas e seus porta-vozes davam entrevistas cada um em um canto informando sobre a operação de resgate. Depois de três dias de informações desencontradas, as duas Forças decidiram ontem passar a divulgar informações em notas e entrevistas conjuntas. O chefe do Departamento de Controle do Espaço Aéreo da Aeronáutica, (Decea), brigadeiro Ramon Borges Cardoso, disse ontem em Recife que a recomendação, agora, é analisar os materiais avistados e recolhidos no mar antes de fazer qualquer anúncio. ;Vamos evitar expectativas e analisar o que é e o que não é lixo. Só confirmaremos o que for relevante e vamos trabalhar com fatos reais;, prometeu o brigadeiro. Cautela Em São Borja (RS), para onde foi ontem logo cedo vistoriar a Operação Fronteira Sul do Comando Militar do Sul, Jobim voltou a dizer que os destroços avistados no mar eram mesmo do Airbus 330-200. Adotou, porém, uma linguagem cautelosa. ;Não vamos transformar em polêmica a desgraça alheia;, disse o ministro, usando uma farda militar camuflada. Jobim admitiu que parte do material localizado é lixo descartado por navios, mas sustentou que outra parte é sim formada por pedaços da aeronave francesa. ;Fizemos em Fernando de Noronha um ponto de apoio, onde já está um contêiner frigorífico, para o caso de ser localizado algum corpo;, comentou. Na terça-feira, em conversa com parentes das vítimas, no Rio, ele chegou a afirmar que corpos deveriam boiar em até 70 horas. Já se passaram mais de 130 horas e nenhum foi localizado. Ontem, o governo francês lamentou a falta de confirmação da informação de que os destroços avistados pelos aviões brasileiros seriam do Airbus desaparecido. Em entrevista à rádio francesa RTL, o secretário francês de Transportes, Dominique Bussereau, disse que a revelação é uma ;má notícia;. ;Teríamos preferido que fosse do avião e que tivéssemos informações;, afirmou. Diplomaticamente, porém, rejeitou a crítica de que as autoridades brasileiras tenham se apressado ao relacionar as peças avistadas e o estrado recolhido ao jato da Air France.

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